A taverna estava lotada, o som de risadas altas e canecas se chocando ecoando pelo espaço abafado. Willian estava sentado em um canto, uma caneca de cerveja na mão, enquanto Selene permanecia ao lado dele, desconfortável. Ela nunca gostou de lugares como aquele, mas sabia que Willian valorizava esses momentos para relaxar.
“Você devia aprender a aproveitar um pouco mais,” ele disse, sorrindo com o canto da boca. “A guerra pode esperar por algumas horas.”
Selene olhou ao redor. O ambiente lhe parecia sempre o mesmo: rostos suados, homens barulhentos, e um cheiro de álcool que impregnava tudo. Mas naquela noite, algo diferente chamou sua atenção.
Um homem estava sentado sozinho perto da lareira. Ele parecia deslocado, quase invisível entre a multidão. Seu cabelo loiro brilhava sob a luz fraca, mas o que realmente chamou a atenção de Selene foi sua postura. Ele não parecia bêbado nem despreocupado como os outros. Havia algo tenso, quase calculado, em seus movimentos.
Selene tentou ignorá-lo, mas não conseguiu. Algo nele parecia... familiar, embora ela não soubesse por quê.
“Você está quieta demais,” Willian comentou, interrompendo seus pensamentos.
“Não gosto deste lugar,” respondeu, desviando o olhar do estranho.
Willian riu. “Já percebi.”
Do outro lado da sala, Lucian observava Selene com a mesma intensidade. Ele sabia exatamente quem ela era, mas não esperava que fosse tão... fascinante. Ela não era apenas bonita; havia algo em sua presença que parecia puxá-lo para mais perto, como uma corrente invisível.
Ele precisava se aproximar, mas sabia que não poderia revelar quem era de imediato. Então, escolheu a abordagem mais simples: a vulnerabilidade.
Mancando levemente, Lucian se dirigiu ao balcão, onde pediu um copo de água. Quando o barman entregou a bebida, Lucian tropeçou de propósito, deixando o copo cair. A água espirrou, chamando a atenção de Selene.
“Droga,” ele murmurou, segurando o lado esquerdo do corpo como se estivesse ferido.
Selene estreitou os olhos, observando-o por um momento antes de se levantar. Algo em seu instinto lhe dizia para ajudar, embora ela não entendesse por quê.
“Você está bem?” perguntou, aproximando-se.
Lucian ergueu os olhos para ela, deixando uma expressão de dor misturada com surpresa aparecer. “Acho que sim... Só uma velha ferida. Desculpe pela confusão.”
Willian olhou para a cena com desconfiança, mas não disse nada. Ele confiava em Selene, mas seu instinto o fazia observar o estranho com atenção.
“Deixe-me ver,” disse Selene, ignorando os protestos de Lucian.
Enquanto ela ajudava Lucian a se sentar, ele aproveitou a proximidade para observá-la mais de perto. Seus olhos azuis eram ainda mais intensos do que ele imaginava, e sua determinação parecia inabalável. Mas ele também notou algo mais: a faísca de algo que ela ainda não entendia.
“Obrigado,” disse ele, com um sorriso suave. “Nem todos são tão gentis.”
Selene franziu a testa. “Você está sozinho aqui? Não deveria viajar sem companhia, especialmente se está ferido.”
“Não tive escolha,” ele respondeu, sua voz carregada de uma melancolia bem ensaiada.
Ela o observou por um momento, tentando decifrar o que sentia. Havia algo nele que parecia... fora do lugar. Mas, ao mesmo tempo, ela não conseguia desviar o olhar.
Selene cruzou os braços, inclinando a cabeça enquanto analisava Lucian. Havia algo estranho nele, mas não conseguia definir exatamente o que era. Ele parecia humano, e ainda assim, algo nela gritava para ficar em alerta.
“Então, qual é a sua história?” perguntou, com a voz carregada de desconfiança.
Lucian soltou um suspiro, deixando seu corpo relaxar um pouco mais na cadeira. “Nada que valha a pena contar. Apenas alguém tentando passar despercebido por lugares como este.” Ele sorriu de lado, o tipo de sorriso que parecia praticado, mas genuíno o suficiente para confundir.
Selene estreitou os olhos. “Passar despercebido? Você não parece muito bom nisso.”
Lucian soltou uma risada baixa, sua voz grave e suave ao mesmo tempo. “E você não parece o tipo de pessoa que ajuda estranhos.”
Ela franziu a testa. “Não costumo ser.”
“Então, por que me ajudar?”
Selene hesitou, sentindo que a conversa estava tomando um rumo desconfortável. Ela desviou o olhar, buscando alguma desculpa para cortar o diálogo, mas nada veio à mente.
“Porque não sou como o resto deste lugar,” respondeu finalmente, a voz mais firme do que ela esperava.
Lucian a observou por um momento, seus olhos brilhando como se ele estivesse tentando desvendar algo nela. Selene sentiu o desconforto aumentar, mas não desviou o olhar dessa vez.
“Você é diferente, isso é óbvio,” disse ele, inclinando-se levemente para frente. “Não apenas pela forma como luta – sim, eu percebi suas armas e postura. Você tem algo em você que os outros não têm.”
“E você é observador demais para alguém que está apenas passando por aqui,” retrucou Selene, seus olhos fixando-se nele.
“Digamos que eu tenha aprendido a ler pessoas. Faz parte de sobreviver,” Lucian respondeu com um tom casual, mas sua mente estava trabalhando rápido. Ele precisava desviar o foco, manter Selene curiosa, mas não desconfiada.
“E você?” Lucian perguntou, mudando o tom. “O que faz uma mulher como você – forte, claramente perigosa – andar com um homem como aquele?” Ele acenou com a cabeça em direção a Willian, que observava de longe com olhos cautelosos.
“Ele é meu mentor,” disse Selene. “E meu pai, de certa forma.”
“De certa forma?”
Selene deu de ombros, tentando encerrar o assunto. “Ele me criou. Isso é o suficiente.”
Lucian notou o desconforto em sua voz, mas não pressionou. Ele sabia que precisava ser cuidadoso. A cada palavra trocada, a cada momento passado ao lado dela, ele sentia a conexão crescer. Era como se algo dentro dele – algo que ele achava morto há muito tempo – estivesse sendo reanimado.
Selene se levantou abruptamente. “Se você não está ferido a ponto de morrer, já se recuperou o suficiente para continuar seu caminho.”
Lucian sorriu levemente e se levantou também, ignorando a falsa dificuldade em seus movimentos. “Você está certa. Não vou incomodá-la mais.”
Ele começou a se afastar, mas parou e olhou por cima do ombro. “Obrigado, Selene.”
Ela congelou. “Eu não disse meu nome.”
Lucian parou por um momento, como se tivesse cometido um erro. Mas então sorriu novamente, dessa vez com um toque de mistério. “Talvez você tenha mencionado sem perceber.”
Selene franziu a testa, observando enquanto ele desaparecia na multidão. Algo nela dizia que aquele não seria o último encontro.
Willian se aproximou logo depois, colocando a mão em seu ombro. “Quem era aquele?”
“Não sei,” respondeu Selene, ainda olhando para a porta por onde Lucian havia saído. “Mas algo nele não parecia certo.”
“Se ele cruzar seu caminho novamente,” disse Willian, a voz baixa e séria, “não hesite.”
Selene não respondeu, mas algo dentro dela sabia que hesitar seria inevitável.
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Atualizado até capítulo 22
Comments
Ana Regina Fernandes Raposo
ELE VAI SER ALGUÉM IMPORTANTE PRA ELA. ESPERO QUE PORINQUANTO ATÉ OS CAÇADORES PODEM SE VOLTAR CONTRA ELA.
2025-01-01
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