A conversa com Elena ainda estava martelando em minha mente. Cada palavra sua, cada detalhe que ela revelou, parecia se gravar no fundo da minha mente, como uma cicatriz impossível de apagar. A irmã dela, mantida prisioneira em um lugar como "O Refúgio", sendo forçada a viver uma vida que ninguém deveria ser obrigado a viver. Eu sabia que precisava fazer algo, mas as consequências de minhas ações poderiam ser devastadoras.
Caminhei rapidamente pelas ruas de concreto até chegar ao meu apartamento. Após um dia conturbado, finalmente a noite já começava a cair, mas o ambiente do subúrbio era silencioso, como sempre. Tudo ali era simples, sem luxo, o que me permitia passar despercebido. Eu não podia deixar que ninguém soubesse que, na verdade, eu tinha mais dinheiro do que a maioria das pessoas imaginava. Seria perigoso. Para o mundo, eu era só mais um segurança de Martín, mas para quem sabia, eu era alguém com poder. Poder que agora eu precisava usar, mas de forma cuidadosa.
Entrei no meu apartamento, fechei a porta e encostei-me nela por um momento. O espaço era pequeno, mas confortável. Havia algo de reconfortante na solidão. Algo que me permitia refletir sem ser interrompido. Mas agora, minha mente estava distante, e o que Elena disse estava me consumindo por dentro. A irmã dela estava lá, em "O Refúgio", um lugar onde mulheres eram tratadas como mercadoria. A ideia de que aquela jovem estava vivendo esse inferno me deixava furioso, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que a raiva não ajudaria. O que eu precisava agora era de um plano.
A primeira coisa que me veio à mente foi minha posição. Eu trabalhava para Martín, o dono de "O Refúgio". Aparentemente, ele não desconfiava de mim, mas eu não podia dar um passo em falso. Se eu levantasse qualquer suspeita, minha vida estaria em jogo. Eu precisava ser discreto, o mais silencioso possível. Tudo que eu podia fazer era esperar pela oportunidade certa.
Os dias passaram lentos, como se o tempo estivesse me desafiando a agir. Eu ficava na mansão de Martín, observando, analisando. Cada passo que ele dava, cada movimento da sua equipe, tudo estava sendo absorvido por mim. Quando ele se afastava, eu acessava os sistemas de segurança e ficava de olho nas gravações de "O Refúgio". Era ali que as coisas estavam acontecendo, onde a irmã de Elena estava sendo mantida. Eu sabia disso. Via todos os detalhes. Mas, por mais que eu soubesse o que estava acontecendo, havia sempre uma barreira invisível que me impedia de agir.
— Como eu vou fazer isso? — murmurei para mim mesmo, enquanto observava as câmeras pela tela do computador.
As imagens de "O Refúgio" eram nítidas. A irmã de Elena estava em um dos quartos, com a expressão perdida, a vida se apagando a cada dia que passava. O que mais me incomodava era o fato de eu não poder fazer nada. A impotência me corroía, mas ao mesmo tempo, a vontade de agir me consumia.
Então, naquele dia, a oportunidade apareceu.
Estava na mansão de Martín, como sempre. Ele tinha um encontro com alguns de seus contatos mais importantes. Isso significava que a mansão estaria mais vazia, e eu teria um pouco mais de liberdade para agir. Mas, antes de fazer qualquer coisa, precisava garantir que não havia nenhuma falha na segurança. Com a atenção de todos voltada para o encontro, seria o momento perfeito para me infiltrar em "O Refúgio" e ver como eu poderia resgatar a irmã de Elena.
Passei pelos corredores da mansão, os passos suaves e calculados. O coração batia forte, mas eu não poderia demonstrar fraqueza. Cada movimento era meticulosamente planejado. Eu sabia que, se falhasse, tudo estaria perdido. Entrei na sala de monitoramento, onde os sistemas de segurança estavam à minha disposição. Mas, antes que eu pudesse fazer mais, a porta se abriu.
— Zeus! — disse uma voz familiar.
Era Martín. Ele estava ali, parado na porta, com os olhos fixos em mim. Eu mantive a calma, o rosto impassível. Ele não poderia suspeitar de nada.
— Tudo certo? — perguntou ele, arqueando a sobrancelha.
— Sim, tudo tranquilo. — Respondi, tentando soar o mais natural possível.
Ele me observou por mais um momento antes de se afastar, como se não tivesse notado nada fora do normal. Meu alívio foi quase palpável, mas eu sabia que não podia relaxar. Ainda estava muito longe de ser seguro. Eu precisava agir com precisão. Martín, apesar de desconfiado, não sabia de tudo. Mas ele nunca deixaria ninguém se intrometer nos seus negócios, e o risco de ser descoberto estava sempre ali, à espreita.
Depois que Martín saiu, eu respirei fundo. Agora era o momento. A sala de segurança estava tranquila. Com rapidez, eu naveguei até as gravações de "O Refúgio". Eu já sabia o caminho, e agora, tudo que eu precisava fazer era continuar com o plano. A irmã de Elena estava em um quarto isolado, e era ali que eu precisava começar.
— Preciso saber mais sobre o local — murmurei para mim mesmo, clicando em várias imagens, observando todos os detalhes.
Cada centímetro daquele lugar estava sendo analisado. Eu precisava entender os horários de troca de turnos dos seguranças, o padrão de movimento das pessoas que frequentavam o bordel e as falhas no sistema de vigilância. Tudo precisava ser perfeito, porque qualquer erro poderia ser fatal. E, de alguma forma, eu sabia que seria uma questão de tempo até que alguém percebesse minha ausência. Martín não era burro. Ele perceberia se algo estivesse fora do lugar.
Nos dias seguintes, mantive a vigilância, observando e esperando. A cada dia que passava, a tensão aumentava. Eu sabia que o resgate precisaria acontecer em breve, mas o quanto mais tempo eu passava lá, mais difícil se tornava. Eu estava começando a me sentir claustrofóbico, preso em uma teia da qual não conseguia escapar. Cada vez que cruzava o olhar de Martín, eu me perguntava se ele sabia de algo, se ele estava apenas esperando o momento certo para me derrubar. Não sabia o que ele estava pensando, mas não podia dar margem para suspeitas.
Foi então que tudo tomou um rumo inesperado. Na noite antes do que eu planejava ser o meu grande movimento, alguém bateu na porta do meu apartamento. E, lá no fundo, eu sabia quem era...Elena!
— Você está pronto? — Ela perguntou, a voz baixa e firme.
Eu respirei fundo, o peso de tudo o que estava por vir caindo sobre mim.
— O que faz aqui garota? — Perguntei a ela, com os olhos fixos nela.
O silêncio entre nós foi ensurdecedor. O que estávamos prestes a fazer não teria volta. Se falhássemos, tudo estava perdido. Mas se tivermos sucesso, talvez finalmente conseguíssemos libertar a irmã dela.
— Vamos fazer isso! — disse Elena, com determinação.
Eu a encarei, o coração batendo mais rápido. Sabíamos o que estava em jogo. Ela confiava em mim. Mas, no fundo, eu sabia que este era o momento de verdade. Eu não poderia mais hesitar.
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Atualizado até capítulo 102
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