Capítulo 1 – Sombras do Passado
Subcapítulo 2: O Convite
O silêncio da mansão Blackthorn era diferente de tudo que Sera havia sentido antes – quase palpável, como se a própria casa estivesse ouvindo cada um de seus movimentos. Damian havia se retirado após uma breve troca de palavras, deixando-a sozinha em um quarto luxuoso que não parecia pertencer ao mesmo mundo que ela conhecia. O carpete era tão macio que engolia o som de seus passos, e as cortinas de veludo pesado bloqueavam qualquer vestígio da tempestade lá fora.
Sera largou a mochila em uma poltrona próxima e soltou um suspiro profundo. As mãos ainda tremiam levemente, um resquício da tensão do encontro com Damian. Ele era... intenso. Havia algo naquele homem que parecia maior que a vida, algo que fazia o ar ao redor dele pesar. Mas Sera não era ingênua. Sabia que pessoas como ele estavam acostumadas a manipular, a dobrar os outros à sua vontade com um sorriso e uma palavra bem colocada.
Ela pegou a câmera, verificando as configurações por puro hábito, tentando se acalmar. O convite para fotografar ali parecia um sonho – ou um pesadelo, dependendo de como ela olhasse. Enquanto ajustava o foco manualmente, flashes do dia anterior invadiram sua mente.
A carta tinha chegado de forma tão inesperada. Ela lembrava de tê-la encontrado na soleira de seu apartamento, um envelope preto com seu nome escrito em caligrafia elegante. Não havia remetente, nem pistas de quem havia enviado. Apenas as palavras concisas:
"Sra. Hayes,
Sua habilidade com a câmera chamou nossa atenção. Gostaríamos de convidá-la para registrar um evento exclusivo na mansão Blackthorn. Esta é uma oportunidade única. Transporte será providenciado."
Por um momento, Sera achou que fosse algum tipo de brincadeira. Quem escreveria algo assim? Mas, quando viu o endereço e a precisão formal do texto, percebeu que era algo sério – ou, no mínimo, estranho demais para ignorar.
Juliette, sua melhor amiga e a única pessoa em quem confiava plenamente, tinha sido rápida em expressar suas preocupações.
“Você não está considerando isso de verdade, está?” Juliette perguntou, os olhos estreitos de preocupação.
“Claro que estou,” respondeu Sera, tentando esconder o nervosismo. “Eles mencionaram meu trabalho. E se for uma chance de conseguir um contrato grande? Eu preciso disso, Jules.”
“Ou é alguém tentando te atrair para algo perigoso.”
Juliette sempre fora a voz da razão, mas Sera sabia que sua amiga não entendia o quanto ela estava no limite. O aluguel vencido, a falta de estabilidade, a sensação constante de estar à beira do abismo – tudo aquilo pesava. A carta parecia uma corda lançada em meio à escuridão.
E agora, ali estava ela, na mansão Blackthorn, cercada por luxo e mistério, mas sentindo-se mais deslocada do que nunca.
Um leve bater na porta a tirou de seus pensamentos. Antes que pudesse responder, a porta se abriu lentamente, revelando uma mulher alta e elegante, com um uniforme impecável. O rosto dela era neutro, quase frio, mas os olhos pareciam avaliá-la.
“Srta. Hayes, o Sr. Blackthorn deseja que você o encontre no salão principal em 15 minutos,” disse a mulher.
Sera acenou com a cabeça, engolindo a sensação de desconforto.
“Obrigada. Estou pronta.”
Quando a mulher saiu, Sera pegou a câmera e deu uma última olhada ao redor. Ela sabia que algo não estava certo – mas também sabia que não poderia voltar atrás. As sombras daquela mansão guardavam segredos que, de alguma forma, já pareciam estar entrelaçados com sua própria história.
Com passos determinados, Sera deixou o quarto e seguiu pelos corredores sombrios. As paredes pareciam apertar ao redor dela, como se o próprio prédio estivesse observando, esperando. Quando chegou ao topo da escadaria principal, viu Damian parado ao pé dos degraus, como uma estátua esculpida pela escuridão.
“Espero que tenha se acomodado bem, Srta. Hayes,” ele disse, a voz grave ecoando no vasto salão.
“Sim, obrigada,” respondeu ela, tentando manter o tom neutro.
Damian sorriu, um gesto pequeno e controlado. “Excelente. Agora vamos começar. Há muito o que discutir... e pouco tempo.”
Enquanto Sera descia as escadas, sentiu que cada passo a levava mais fundo em algo que ela ainda não conseguia compreender. E Damian, com aquele olhar intenso e impenetrável, parecia saber exatamente onde aquilo terminaria.
Damian esperou pacientemente enquanto Sera se aproximava. Cada passo dela parecia ecoar na imensidão do salão, um som que misturava hesitação e determinação. Quando ela finalmente chegou ao último degrau, ele estendeu a mão, um gesto educado, mas carregado de uma autoridade inegável.
“Antes de começarmos, há algo que você precisa saber,” disse ele, a voz tão grave e hipnótica quanto o primeiro trovão de uma tempestade. “Aqui, tudo tem um preço. Inclusive sua curiosidade.”
Sera inclinou a cabeça, tentando decifrar o que ele queria dizer. “Curiosidade não deveria ser algo natural em uma fotógrafa?”
Damian riu suavemente, mas seus olhos permaneceram sérios. “Natural, sim. Segura, raramente.”
Ela segurou o olhar dele, recusando-se a recuar. “Por que me convidou? Existem fotógrafos melhores. Mais experientes.”
Ele cruzou os braços, a postura relaxada, mas os olhos ainda cravados nela. “A experiência pode ser comprada. O olhar autêntico, não. Suas fotografias... elas capturam algo que vai além da técnica.”
Por um breve momento, Sera se sentiu desconcertada. Ninguém nunca havia falado de seu trabalho com tanta seriedade, muito menos alguém como Damian. Mas ela não podia ignorar o tom ambíguo de sua voz, como se houvesse algo mais escondido por trás daquele elogio.
“Se é o meu olhar que o interessa, então o que exatamente quer que eu fotografe aqui?”
Damian caminhou até uma das janelas altas, olhando para a chuva que ainda castigava a mansão. Ele parecia refletir por um instante antes de responder. “Tudo o que você considerar digno. Não vou impor limites. Mas cuidado, Srta. Hayes, nem tudo que parece digno de ser capturado é seguro para ser registrado.”
Sera franziu o cenho. Aquilo era uma advertência? Ou apenas mais um jogo de palavras para desestabilizá-la? Ela não sabia ao certo, mas sentiu o arrepio familiar de estar diante de algo maior do que podia compreender.
Antes que pudesse responder, Damian fez um sinal para que ela o seguisse. Ele atravessou o salão com passos firmes, conduzindo-a para uma porta dupla que se abriu automaticamente ao toque. Do outro lado, um corredor mais estreito e mal iluminado se estendia, com as paredes cobertas por retratos antigos de rostos que pareciam seguir os dois com os olhos.
“A casa tem história,” explicou Damian, notando o olhar atento de Sera para as pinturas. “Cada canto dela guarda um fragmento do passado da família Blackthorn.”
“E esses retratos? Quem são essas pessoas?”
Damian parou diante de um quadro em particular. Um homem de expressão austera, com olhos claros que pareciam refletir o mesmo ar de mistério que o próprio Damian carregava.
“Esse é meu avô. O homem que construiu tudo o que você vê aqui. Ele era um visionário... mas também um homem de segredos. Muitos segredos.”
Sera se aproximou do retrato, inclinando a cabeça para ver melhor os detalhes. O olhar do homem parecia tão real que ela quase podia sentir uma presença ali, como se a essência dele ainda pairasse naquele corredor.
“E você?” ela perguntou, sem desviar o olhar do quadro. “Quantos segredos você carrega, Damian?”
Ele sorriu levemente, mas não respondeu. Em vez disso, continuou andando, deixando a pergunta pairar no ar como um enigma sem solução.
Quando chegaram ao final do corredor, Damian abriu outra porta, desta vez revelando uma sala menor, mas igualmente impressionante. O espaço era dominado por uma longa mesa de madeira escura, com documentos e objetos espalhados de maneira organizada. No centro, um álbum antigo repousava, a capa de couro marcada pelo tempo.
“Este será seu primeiro projeto,” disse Damian, apontando para o álbum.
Sera se aproximou com cautela, passando a mão sobre a capa envelhecida. Quando a abriu, encontrou uma coleção de fotografias antigas, em preto e branco, de pessoas que pareciam tão imponentes quanto a própria mansão.
“Essas imagens são parte do legado da minha família,” explicou ele, a voz baixa. “Mas algumas estão... incompletas. Quero que você as recrie.”
Ela ergueu o olhar, confusa. “Recriar? Como assim?”
Damian inclinou-se levemente, seus olhos cinzentos fixos nos dela. “Você verá. Há algo único em seu olhar, Srta. Hayes. Algo que pode trazer de volta o que foi perdido.”
As palavras dele eram vagas, mas carregavam um peso que fazia o coração de Sera acelerar. Aquilo era muito mais do que apenas fotografia. E, enquanto ela folheava as páginas do álbum, uma sensação crescente de que estava entrando em algo perigoso a envolvia.
“Você tem coragem,” Damian disse finalmente, interrompendo os pensamentos dela. “Mas coragem sozinha nem sempre é suficiente. Espero que esteja preparada para o que está por vir.”
Sera fechou o álbum com cuidado e respirou fundo. “Eu nunca me preparo totalmente,” respondeu ela. “Mas isso nunca me impediu antes.”
Damian riu, um som profundo que parecia ressoar nas paredes da sala. “Isso é o que me faz confiar em você. Bem-vinda ao verdadeiro coração da mansão Blackthorn.”
Sera não sabia exatamente o que ele queria dizer, mas tinha certeza de que a partir daquele momento sua vida jamais seria a mesma.
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Atualizado até capítulo 54
Comments
Leonor Santana
Parece historia de terror.aff!
2024-12-06
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