Capítulo 5

Assim que Lyra chegou à matilha Blackwood, foi recebida de braços abertos por seu pai, Magnus. Apesar dos rumores que ecoavam em cada canto do território, dos olhares que se erguiam curiosos ou duvidosos, Magnus não se deixou levar pelas fofocas. Em vez disso, quando viu Lyra, seu coração se encheu de amor e de alívio. Não havia nada no mundo que pudesse se interpor entre ele e sua filha, e vê-la retornar, ainda que ferida, foi o suficiente para saber que não a deixaria cair de novo.

— Minha pequena — disse enquanto a envolvia em um abraço caloroso, ignorando as vozes que começavam a murmurar sobre o retorno da jovem loba. — Você sofreu por aquele canalha.

Lyra, que havia acreditado ter seu coração destruído e seu espírito quebrado, sentiu seus olhos marejarem. Sabia que seu pai nunca lhe daria as costas, mas escutar sua voz cheia de compaixão e orgulho a fez recordar que ainda havia algo bom em sua vida.

— Não se preocupe, pai. Lucian pagará muito caro pelo que fez. Porque o dia em que eu morri foi também o dia em que voltei a viver. E agora… agora viverei de uma forma diferente, adequada para alguém como eu.

Magnus a olhou com os olhos brilhantes, uma mistura de alegria e tristeza refletindo em seu olhar. Havia sonhado tantas vezes que sua filha encontraria um companheiro que lhe desse a felicidade que ele desejava para ela, mas jamais imaginou que a Deusa Lua a emparelharia com um alfa sem coração.

— Tranquila, querida. Eu me encarregarei dele. Farei com que se arrependa de tê-la machucado — disse Magnus, com um tom tão severo que não deixava lugar para dúvidas.

Mas Lyra negou com a cabeça, mantendo a calma.

— É claro que não, pai. O erro foi meu, e eu me encarregarei de corrigi-lo. Além disso, você tem uma responsabilidade para com o nosso povo, e não pode romper as regras. Mas eu… eu não sou alfa de nenhuma matilha. A culpa recairá somente em mim.

Magnus a observou em silêncio, processando suas palavras. Apesar de que lhe doía, sabia que ela tinha razão. Seu dever como alfa era proteger sua matilha, e Lyra estava disposta a assumir as consequências de seus atos. Suspirou, tentando aceitar que sua pequena não era tão indefesa como ele acreditava.

— Mandaremos alguém, Lyra. Mas você não se arriscará. Essa é a minha decisão — sentenciou Magnus com firmeza.

Lyra semicerró os olhos, assentindo em aparente acordo, ainda que no fundo soubesse que seu coração não a deixaria se manter à margem. Depois de uns segundos, se armou de valor para fazer outro pedido.

— Pai… quero treinar como qualquer lobo.

Magnus a olhou surpreso. Durante um instante, não soube se havia escutado bem.

— O que você está dizendo? — murmurou, seu rosto mostrando uma mistura de incredulidade e desagrado. — Não, me nego. Você não é qualquer lobo. Você é minha filha.

Lyra suspirou, sabendo que seu pai podia ser incrivelmente teimoso quando se tratava dela. Mesmo assim, devia tentar.

— Pai, olhe para mim. Preciso me fortalecer e aprender a me defender. Apesar de ter recebido minha loba antes da maioria, a Deusa Lua não me outorgou nenhum dom especial. Como poderei me proteger sem ajuda?

Magnus a olhou por um longo momento antes de se pôr de pé e fechar a porta do escritório, assegurando-se de que ninguém mais pudesse escutar.

— Você tem que ser muito cautelosa, Lyra — disse em voz baixa. — Eu me encarreguei de que ninguém saiba que você não tem um dom, então seria melhor que mantivéssemos esse segredo.

— Precisamente, pai. No dia em que precisar me defender, não quero ficar em ridículo. Ao menos permita-me aprender a lutar — rogou.

Magnus suspirou profundamente. Sabia que era impossível dissuadi-la quando Lyra se propunha algo. Finalmente, assentiu, aceitando seu pedido.

— Bem… faça isso, então. Mas tenha muito cuidado.

Os dias na matilha começaram a passar rapidamente. Nessa, que também havia se integrado à matilha Blackwood, havia ganhado o respeito dos membros da matilha graças ao seu trabalho incansável como assistente da curandeira. Seu caráter franco e seu entusiasmo a fizeram querida por todos. Os lobos que no princípio a viam como uma estrangeira logo a receberam como parte da comunidade, e ela se sentiu mais em casa que nunca.

Por outro lado, Lyra dedicava cada momento livre a treinar, decidida a melhorar sua força e suas habilidades. Sob a supervisão de Roderic, um experiente lobo guerreiro, Lyra se enfrentou a um treinamento árduo, que punha à prova tanto sua resistência física como sua força de vontade. Roderic, que no princípio subestimava a capacidade da jovem, logo se deu conta de que sua aluna não só aprendia rápido, senão que possuía uma determinação inquebrantável.

— Não esperava que alguém como você tivesse tanta coragem — disse Roderic uma manhã, após uma sessão particularmente intensa.

Lyra, arquejando enquanto tentava recuperar o alento, somente sorriu de lado.

— Suponho que tenho passado demasiado tempo sendo vista como alguém fraca. Não vou permitir que isso continue.

Com cada golpe e cada queda, Lyra se fazia mais forte, seu corpo endurecendo e adaptando-se à disciplina do combate. Com o tempo, outros lobos da matilha começaram a notar seu progresso, e os olhares de dúvida se transformaram em respeito. A filha de Magnus Blackwood não era uma simples herdeira, senão uma guerreira em formação.

Entre as pessoas que mais a apoiavam estava sua amiga Nessa, quem a observava treinar e, às vezes, lhe dava palavras de alento.

— Não sei como você aguenta, Lyra — comentou Nessa um dia, rindo. — Eu teria caído na primeira rodada.

Lyra lhe devolveu o sorriso, sentindo a dor em seus músculos e em suas feridas.

— Não é fácil, mas se tenho que me enfrentar a Lucian, então devo estar preparada. Não posso deixar que na próxima vez ele tenha a vantagem.

Nessa a olhou com admiração e orgulho, como se compreendesse que Lyra havia renascido das cinzas da dor e da humilhação. Sabia que sua amiga não só estava treinando para lutar fisicamente, senão para sanar as cicatrizes que Lucian havia deixado em sua alma.

Os dias transcorreram, e com cada um deles, Lyra se sentia mais forte, mais segura de si mesma. Seu pai, ainda que preocupado, não podia evitar sentir-se orgulhoso. A pequena loba que alguma vez havia protegido com zelo se estava convertendo em uma mulher poderosa, disposta a enfrentar a qualquer um que a desafiasse. E enquanto isso, os rumores sobre o retorno da filha de Magnus Blackwood se espalharam como fogo pelas matilhas vizinhas, criando uma mistura de temor e expectativa.

Magnus observava sua filha desde a distância, seu coração dividido entre o amor e o orgulho. Sabia que, ao final, não importava o quanto quisesse protegê-la; Lyra estava destinada a ser muito mais do que ele alguma vez sonhou para ela.

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Comments

Maria Luísa de Almeida franca Almeida franca

Maria Luísa de Almeida franca Almeida franca

ela vai ser uma grande alfa e o idiota vai si arrepender de ter tratado ela assim

2025-09-11

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