Han
O ensaio decorreu na mesma tranquilidade. Aqueles meninos eram realmente talentosos, e disciplinados. Notei que June estava distraido e perguntei-me várias vezes o que estaria a procupá-lo. Queria muito puder fazer-lhe essa pergunta, mas não podia, pois nunca tinhamos tido esse tipo de conversa. E, enquanto eu visse que ele não queria que eu invadisse o seu espaço pessoal, não iria fazê-lo. Não sabia se ele era apenas timido, ou se de alguma forma, eu tinha um ar intimidador. Queria mudar isso, se fosse o caso...
Precisei ajudá-lo algumas vezes com a postura, e quando lhe toquei, senti que a respiração dele estava acelerada, assim como o meu coração... Notei que ele estava cansado... (Era isso, certo?) E terminei o ensaio um pouco mais cedo... Tinha sempre a esperança secreta de que ele ficasse mais um pouco e pudessemos finalmente conversar , mas isso nunca acontecia. Ele era sempre o primeiro a sair...
Rey, Mhek e Joon acabaram por me convidar a ir comer com eles, e eu aceitei... Era melhor do que ir para casa, ficar com aqueles pensamentos que me invadiam, sempre que eu estava sózinho. Não que no apartamento eu estivesse sózinho, pois tinha Drake, Pete e Mena, outros coreógrafos da agência, mas muitas das vezes não me apetecia simplesmente socializar com eles. Achei que por hoje, era boa ideia ir com eles.
Já na mesa, eles iniciaram a conversa, e eu dei por mim a prestar a máxima atenção, quando ouvi o nome de June.
" - O que acham que se passa com o June? Ele anda estranho.." - Rey questionava.
" - Ele sempre foi assim, calado e no mundo dele..." - Mhek atirava.
" - Sim, ele sempre foi muito na dele, mas também acho que ele anda mais calado que o normal... Mas se tu, Rey, que és o melhor amigo dele no grupo, não sabes, como é que nós vamos saber?" - Joon lembrava.
" - Oh... Eu sei... Talvez ele esteja só preocupado com as aulas... Sei que tem exames em breve..." - Continuava Rey.
" - Ou será.... Que ele arranjou uma namorada?" - Lançou de repente Joon.
Confesso que o meu coração ficou pequeno, naquela hora... Seria esse o motivo dele não deixar ninguém aproximar-se? Ele tinha alguém? Queria resguardar a relação e mantê-la em segredo? Mil perguntas passavam na minha cabeça, enquanto via a reação dos outros, à pergunta de Joon.
Olhavam para ele, como se procurassem dentro da mente a resposta para a pergunta.
Mhek fez uma careta e respondeu primeiro:
" - Óbvio que não!!! Ele é demasiado timido para arranjar uma miúda. Ainda mais agora que ele só faz ir às aulas, gravar e passar horas na sala de dança... Não! Não acredito!"
" - Não podemos negar, que mesmo sendo timido, ele não precisa de muito para chamar a atenção... Poderia bem acontecer..." - Joon continua.
" - Não! Só se fosse aquela miúda com quem ele anda sempre, na faculdade, mas ele já me disse que ela é apenas uma amiga e eu acredito... Ele está demasiado focado na banda, e nas aulas... Não me parece..." - Concluia Rey.
Embora eu quisesse acreditar que Rey estaria certo, não pude deixar de ficar com essa dúvida a pairar na minha mente... E era um pouco... Doloroso?
" - E tu, Han? Alguma paixão arrebatadora, escondida debaixo da tua cama?" - Mhek provocava-me agora.
" - Não!! Nada disso... Estou focado no trabalho..." - Respondi rapidamente....
" - No trabalho, ou em June?" - Mhek lançou aquela pergunta, fazendo-me engasgar com a bebida.
" - O... quê?" - Perguntei com o coração aos pulos. Será que eu tinha deixado assim tão claro, que June me perturbava? Eu estava em pânico... Como é que eu ia explicar aquilo?
" - Calma, Han. Estou a falar no sentido de teres que lhe dar atenção especial... Afinal, ele é quem tem mais dificuldade nas coreografias..." - Mhek riu, ao falar.
Senti um alivio enorme, um peso a sair-me do peito. Ha!! Afinal era a isso que ele se referia...
" - HA! Certo... Eu acho que todos voçês são muito talentosos. E June, mesmo com alguma dificuldade que tenha, não desiste e é presistente. Sei que vai conseguir." - respondi, esperando que eles não tivessem notado a minha atrapalhação.
Acabámos a noite com um brinde, e regressámos juntos ao prédio da agência, visto que os dormitórios eram ambos ali.
Quando entrei, os meus companheiros de casa estavam a ver uma qualquer série na tv da sala. Eu apenas passei por eles, acenando e fechei-me no meu quarto. Tomei um banho, deixando a água correr durante um longo tempo sobre mim, ao mesmo tempo que a minha mente continuava a divagar na conversa com os meninos, e em June... É estranho eu desejar que aquela conversa não tivesse mesmo qualquer fundamento? É estranho eu querer implorar aos céus que ele não tenha ninguém? Sinto-me tão ridiculo... Tão idiota... Como faço para controlar estes pensamentos que me toldam a razão??
Acabei o meu banho e deitei-me. No dia seguinte teria um dia ocupado. Além da dança, eu faço alguns trabalhos publicitários, nada numa grande escala, coisas simples, e teria a gravação de um anúncio de pasta de dentes. Mas, fiquei-me só pela intenção, pois acabei por ver as horas a passar, numa noite que me pareceu infernal...
Levantei-me a custo, na manhã seguinte. Tomei um duche e vesti-me, para descer e tomar o pequeno almoço, mas tinha o estômago embrulhado e optei por um iogurte liquido. Lavei os dentes e saí.
Já dentro do elevador, ouvi a voz dele, June:
" - Por favor, Esperem!!"
De imediato segurei o elevador e esperei por ele.
Chegou afogueado, e eu sorri. Ele levantou os olhos e viu-me. Preceu-me ficar atrapalhado. Será que realmente eu o intimidava tanto assim? Cumprimetei-o e perguntei se ele ia para as aulas, e mais uma vez ele fez questão de me responder com frases curtas, pelo que não insisti em manter uma conversa. Sentia-me frustrado, mais uma vez.
Alguns pisos abaixo, a porta do elevador abriu, e eu fiquei em choque! De onde é que, de repente, apareceu aquela gente toda?? Fui empurrado com tal força, que quando percebi que poderia magoá-lo, coloquei as minhas mãos para cima, que embateram na parede do elevador onde estava June. Estava colado a ele!! Fechei os olhos com força!! Deus... Eu conseguia sentir o calor do corpo dele, encostado ao meu! O meu coração estava prestes a sair do meu peito e a começar a saltitar por ali fora, foi o que eu pensei. Abri os olhos devagar e ele encarava-me com a boca um pouco aberta... Batava um passo e eu podia beijá-lo... Fechei os olhos de novo, quando aquele pensamento me veio à cabeça e repreendi-me a mim mesmo, mentalmente. Abri os olhos de novo e pedi-lhe desculpa. Tinha medo que ele se sentisse desconfortável, comigo ali tão perto, quando o que eu o fazia sentir, era possivelmente aquele sentimento intimidatório. Não queria isso de todo... Mordi os lábios com força, para me libertar de qualquer pensamento menos próprio, o que estava a ser dificil. Ele cheirava a morango... Ou seriam frutos silvestres? Bolas!!! Eu tinha que sair dali.... Rápido... Dei por mim a observá-lo atentamente. Nunca tinha estado tão perto dele... As sardas estvam mais vivas que nunca... Quando dei por mim, o meu olhar desceu para os lábios dele, e eu senti uma vontade enorme de ganhar asas, para voar e fugir dali...
Finalmente a porta abriu e as pessoas correram dali, assim como eu, que virei costas assim que pude, dizendo um até logo entre dentes, para me escapar dali.... Corri até ao meu carro, no parque de estacionamento e já não sabia se o meu coração batia tanto, pela corrida, ou por o que eu tinha vivido, naquele elevador, nos últimos minutos... Eu precisva acalmar-me. Encostei-me no carro, e olhei o céu limpo...
O que é que se estava a passar comigo??
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Atualizado até capítulo 35
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