II - Kōseina Kettō

O sol mal havia nascido, e o pátio da casa Nanrhi já estava preparado para o Kōseina kettō. O chão de pedra que normalmente abrigava reuniões e cerimônias agora servia de arena para a batalha que decidiria o destino de Sokjhan e Leiang. Ambos estavam frente a frente, vestidos com kimonos de luta, o símbolo da família Nanrhi orgulhosamente estampado em suas costas. Havia um silêncio pesado no ar, um presságio da luta que estava por vir.

Leiang, com um sorriso confiante, foi o primeiro a quebrar o silêncio.

— Tem certeza de que está tão confiante assim na sua vitória, Sokjhan? — Ele inclinou a cabeça, provocando. — Porque não vai haver uma segunda chance.

Sokjhan manteve a calma, os olhos fixos nos de Leiang. Sua resposta foi fria e firme.

— Para mim, qualquer resultado é favorável, Leiang. Mas, acima de tudo, quero que você engula a verdade sobre si mesmo.

Leiang deu um sorriso amargo, o desdém evidente em sua voz.

— Tente, então. — Seus olhos brilharam com a expectativa do confronto.

Sokjhan suspirou, irritado com o tom arrogante do irmão.

— Cale logo a boca e mostre a sua determinação com ações, não palavras.

A provocação fez Leiang ranger os dentes por um breve instante. Ele respirou fundo, deixando a tensão inflar seus músculos. Então, como se uma corda invisível tivesse sido cortada, ele falou com um tom decidido.

— Está bem. Que o K.Kettō comece!

Antes mesmo que o eco de suas palavras sumisse no ar, Leiang avançou. Seu movimento era rápido, mas não o suficiente para surpreender Sokjhan. Leiang pulou no ar, usando as mãos como apoio no chão, e desferiu um chute com a perna, como se fosse um chicote direto no irmão mais novo. Sokjhan ergueu o braço direito e bloqueou o ataque com firmeza.

Sem perder tempo, Leiang continuou a investir, desferindo dois chutes rápidos. Sokjhan cruzou os braços e os defendeu com habilidade, mantendo sua postura firme. A tensão no ar aumentava, mas Sokjhan manteve-se calmo. Vendo uma brecha, ele se abaixou, tentando desferir uma rasteira nas mãos de Leiang. Porém, o irmão mais velho estava atento e impulsionou seu corpo para cima com as mãos, fazendo com que a rasteira passasse no vazio.

Porém, Sokjhan já esperava esse movimento. Usando o impulso da rasteira frustrada, ele apoiou o corpo na mão esquerda, girando e desferindo um chute no ar com o pé direito. Leiang, ainda no ar, bloqueou o chute com as duas palmas das mãos, sentindo a força do impacto, mas mantendo o equilíbrio.

Os dois irmãos aterrissaram no chão ao mesmo tempo, Sokjhan se colocando de pé com uma elegância natural. Leiang, por sua vez, pousou com uma postura mais agressiva, seus olhos avaliando cada movimento de Sokjhan.

— Nada mal, Sokjhan — Leiang comentou com um sorriso desdenhoso. — Mas quero ver o que você fará agora.

Antes que Sokjhan pudesse responder, Leiang avançou novamente. Desta vez, ele tentou algo mais ousado, saltando para trás e desferindo um chute duplo aéreo. Sokjhan, ágil, se esquivou com um mortal, evitando o ataque por um triz.

Quando Leiang pousou no chão, ele não perdeu tempo. Seus olhos se estreitaram e suas mãos começaram a se mover de forma precisa. Com a mão esquerda, ele levantou apenas o indicador e o médio, abaixando os outros dedos. Com a mão direita, ele formou a forma de uma arma, posicionando-a sobre os dedos abaixados da mão esquerda. Seu polegar subiu e desceu, como se estivesse disparando uma flecha invisível.

...シージェット...

...(Shījetto)...

...Jato do Mar...

Sokjhan observou a movimentação, seus olhos estreitos. Com desdém, ele percebeu que seu irmão mal havia trocado alguns golpes e já estava apelando para o seu domínio. Uma leve sensação de desapontamento se formou no peito de Sokjhan.

“Já vai apelar para isso tão cedo?” — ele pensou, balançando a cabeça internamente.

Leiang, no entanto, estava totalmente imerso na ativação de seu poder. A técnica de Leiang era forte, e Sokjhan sabia que qualquer movimento em falso poderia custar caro.

Mas Sokjhan não se deixaria intimidar. Ele permaneceu firme, os músculos relaxados, mas prontos para reagir ao menor sinal de perigo.

As agulhas de água voavam de maneira feroz em direção a Sokjhan, cortando o ar como lâminas invisíveis. Cada disparo de Leiang criava buracos profundos nas paredes ao redor, uma demonstração clara do poder de seu domínio sobre a água. No entanto, Sokjhan não era fácil de atingir. Ele corria em zigue-zague, executando acrobacias com maestria, esquivando-se de cada ataque com fluidez. Suas mãos tocavam o chão como apoio em movimentos ágeis, quase como se estivesse dançando com a própria morte.

Enquanto se movia, seus olhos captaram algo no chão uma pedra. Em um movimento quase imperceptível, Sokjhan a pegou e, no instante em que se levantou de uma acrobacia, lançou a pedra na direção de Leiang. Vendo a aproximação do projétil, Leiang desfez sua técnica defensiva e se esquivou para o lado, uma ação rápida, mas que o deixou vulnerável.

Foi nesse momento que Sokjhan atacou. Ele desapareceu da visão de Leiang apenas para reaparecer do lado, desferindo um chute devastador nas costelas de seu irmão mais velho. O impacto foi violento, fazendo Leiang ser arrastado alguns metros pelo chão de pedra. Ele ofegou, sentindo a dor vibrar em suas costelas enquanto, por reflexo, levava a mão ao local atingido.

Sokjhan não deu trégua. Ele correu em direção a Leiang, que, ainda ofegante, tentou acertar um soco com o punho cerrado. Sokjhan, no entanto, estava um passo à frente. Com uma leveza surpreendente, ele pulou, apoiando-se nos ombros de Leiang por um instante e, ao aterrissar atrás dele, desferiu um chute firme atrás de seus joelhos. Leiang se dobrou, perdendo o equilíbrio. Mas antes que ele pudesse se recompor, Sokjhan ergueu as costas de Leiang com os pés,girou 180 graus e, com precisão, acertou outro chute, lançando o corpo do irmão para a frente como se fosse um boneco de pano.

Leiang mal conseguia acompanhar o ritmo. Seu corpo estava exausto, os golpes de Sokjhan vinham rápidos e impiedosos. Ele começou a perceber que subestimara o irmão mais novo, e agora estava pagando o preço. Antes que pudesse sequer reagir, Sokjhan desferiu uma voadora em suas costas, forçando Leiang a cair de bruços no chão.

Sokjhan aterrissou de pé, seu corpo imponente e calmo, olhando para o irmão caído diante dele. A respiração de Leiang era pesada, o chão abaixo de si parecia a única coisa estável naquele momento. Sokjhan, no entanto, não demonstrava mais compaixão.

— A luta acabou — disse Sokjhan em um tom firme, mas sem arrogância. Ele sabia que havia vencido, e essa certeza estava estampada em seus olhos.

Leiang, ainda de bruços, mal podia acreditar no que acabara de acontecer. Como Sokjhan, o caçula que ele sempre menosprezara, havia conseguido derrotá-lo? Era impossível. Ele olhou para o irmão, com a respiração pesada e um olhar de desespero.

— Como...? Como você fez isso? — a voz de Leiang saiu rouca, quase inaudível.

Sokjhan se aproximou, sem pressa. Seu olhar estava calmo, mas suas palavras eram afiadas.

— A resposta é simples, Leiang. Enquanto você passava noites e mais noites elevando jovens moças aos ares dentro das quatro paredes do seu quarto... — ele fez uma pausa, o desdém evidente em cada sílaba — ...eu estava aqui fora, elevando a minha própria força, sob o céu aberto.

A dor das palavras de Sokjhan foi tão profunda quanto seus chutes. Leiang sentiu uma mistura de humilhação e uma verdade inescapável. E Sokjhan não havia terminado.

— E, mesmo que eu não faça o que você faz — Sokjhan continuou —, ainda sou mais homem do que você jamais será. Porque, ao contrário de você, eu não desonro nossos pais com esses atos desprezíveis. Usar a cerimônia sagrada para isso... é algo que só um ser mesquinho faria.

Sokjhan então se virou de costas para Leiang, sem olhar para trás, e antes de sair, disse com frieza:

— E mesmo tendo vencido, Leiang, você pode continuar sendo o príncipe herdeiro da família Nanrhi. Eu não me importo. Quem vai sair daqui sou eu. Não vou continuar vivendo em um lugar tão desonroso quanto este.

Ele começou a caminhar em direção à saída do pátio, seus passos ecoando no silêncio pesado que pairava no ar. Sokjhan entrou na casa sem olhar para trás, deixando Leiang sozinho com suas feridas e pensamentos.

Leiang, ainda caído no chão, lentamente começou a se levantar. O corpo doía, esfolado e com hematomas. Mas, pior do que a dor física, era a dor que as palavras de Sokjhan haviam cravado em sua alma. Ele ponderou por um longo momento, sua mente confusa, antes de sussurrar para si mesmo, com um pesar que ele nunca havia sentido antes:

— Sokjhan... talvez você esteja mesmo certo...

......................

KŌSEINA KETTŌ

Kōseina Kettō (Meiyo no Kettō) - Duelo de Honra

O Kōseina Kettō (lit. "Duelo Nobre") ou Meiyo no Kettō (lit. "Duelo de Honra") é uma prática ancestral que envolve um combate ritualizado entre dois indivíduos para resolver disputas de honra, poder ou respeito entre membros da nobreza. Este costume remonta à Dinastia Danoko, há mais de 135 anos, sendo um elemento persistente e significativo em quatro dinastias subsequentes: Danoko, Guuoram, Seijchō e agora Fugura (que se iniciou há cinco anos). O sistema foi originalmente concebido para evitar guerras ou intrigas desnecessárias entre famílias nobres, canalizando tensões por meio de confrontos controlados e legitimados pelas tradições.

Origem

Dinastia Danoko (135 anos atrás): A prática nasceu como resposta a crescentes conflitos internos entre clãs nobres, onde disputas menores frequentemente escalavam para batalhas. O então imperador Danoko Hiroji estabeleceu o Kōseina Kettō como uma alternativa formal que respeitasse os princípios da honra sem comprometer a estabilidade do império.

Dinastia Guuoram: Aqui, as regras do duelo foram refinadas, incluindo a introdução de juízes neutros conhecidos como Shidō-sha e um código específico que limita o tipo de armas e habilidades utilizadas.

Dinastia Seijchō: Durante este período, o Kōseina Kettō foi integrado às leis imperiais, tornando-se o único método legalmente permitido para resolver pequenas disputas entre membros da nobreza.

Dinastia Fugura (atual): Apesar de sua longa tradição, o Kōseina Kettō perdeu parte de sua relevância prática devido a mudanças políticas e sociais, mas permanece um símbolo cultural de respeito e honra.

Regras e Estrutura

O Kōseina Kettō segue um conjunto rigoroso de diretrizes, que asseguram que a disputa seja justa, ritualística e livre de interferências externas:

1. Convocação e Aceitação

Qualquer membro da nobreza pode convocar um Kōseina Kettō, desde que tenha motivos legítimos, como disputas de herança, desrespeito público ou rivalidades territoriais.

A convocação deve ser formalmente enviada ao oponente por meio de um mediador, contendo o motivo e as condições do duelo.

O desafiado pode aceitar ou rejeitar, mas a recusa pública é considerada desonrosa e pode levar à perda de status social.

2. Local e Preparação

Os duelos são realizados em terrenos neutros, geralmente arenas designadas pelo imperador ou por um conselho local.

O local deve conter:

Espaço amplo e delimitado.

Testemunhas de ambos os lados, incluindo nobres e plebeus.

Os Shidō-sha (juízes), responsáveis por validar o duelo e declarar o vencedor.

3. Regras de Combate

Tipos de armas: Apenas armas tradicionais e aprovadas, como espadas, lanças ou arcos. Magia é permitida, mas limitada ao domínio do desafiador e apenas em formas não letais, acaso o desafiador não permita um duelo com armas mais letais.

Habilidades e poderes: Habilidades fortes (elevação de poder) podem ser usadas apenas com consentimento prévio de ambos os lados.

Fim do duelo: O combate termina quando um dos participantes se rende, é incapacitado ou, em casos extremos, morto.

4. Resultado

Vitória: O vencedor adquire o direito legítimo de reivindicar o motivo do duelo. Isso pode incluir respeito público, controle de territórios menores, ou mesmo o direito de palavra em conselhos maiores.

Derrota: O derrotado sofre consequências variáveis, desde humilhação social até perda de privilégios dentro de sua família ou clã.

Importância e Finalidade

O Kōseina Kettō não é apenas um evento marcial, mas um mecanismo político e cultural profundamente enraizado na sociedade nobre. Suas principais funções incluem:

1. Resolução de Disputas: Prevenir escaladas de pequenos conflitos, mantendo a harmonia entre famílias nobres.

2. Exibição de Poder: Demonstrar força e habilidade para obter respeito entre pares e vassalos.

3. Preservação da Tradição: Honrar os princípios de coragem, disciplina e lealdade que são pilares das dinastias.

Mudanças na Dinastia Fugura

Na era Fugura, os duelos de honra são cada vez mais simbólicos, com resolução de disputas através de acordos diplomáticos ou econômicos. Contudo, o Kōseina Kettō ainda é realizado em ocasiões cerimoniais, preservando sua relevância cultural e histórica.

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Comments

Nathaly

Nathaly

ele humilhou o irmão dele ou só eu que acho isso? assim só para saber mesmo

2024-11-07

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