Capítulo 3: A Primeira Aliança

Capítulo 3: A Primeira Aliança

O baile da Marquesa de Belmonte era um dos eventos mais aguardados da temporada. Conhecida por sua habilidade de reunir os maiores nomes da nobreza, a Marquesa tinha um talento inato para transformar simples encontros em espetáculos de suntuosidade e intriga. As carruagens chegavam uma após a outra ao seu palacete, um imponente edifício adornado com colunas de mármore e jardins cuidadosamente podados, iluminados por centenas de lanternas que pendiam entre as árvores. No ar, o aroma de flores frescas misturava-se ao perfume caro das damas que desciam de seus veículos, acompanhadas por nobres ansiosos por exibir suas conquistas e criar novas alianças.

Dentro do salão principal, o ambiente era ainda mais deslumbrante. Lustres de cristal pendiam do teto alto, lançando um brilho suave sobre os convidados. O chão de mármore reluzia, refletindo as vestes extravagantes e as máscaras que cobriam os rostos dos presentes. Música de violinos preenchia o espaço, dando um tom de refinamento ao evento. Parecia que cada palavra sussurrada entre os convivas era carregada de segredos, e cada movimento escondia uma intenção oculta.

Francis adentrou o salão com a postura tranquila de quem sabia exatamente como navegar naquele tipo de evento. Vestido com um traje preto elegante, mas discreto o suficiente para não chamar atenção desnecessária, ele analisava os rostos mascarados ao seu redor com a precisão de um estrategista. Sabia que naquela noite algo importante aconteceria. Encontraria Agatha novamente, e, desta vez, a conversa entre os dois teria um rumo mais decisivo.

Enquanto observava as danças e ouvia fragmentos de conversas sobre terras, casamentos e disputas, Francis percebeu a chegada de Agatha. Ela estava vestida de preto e dourado, com uma máscara delicada que mal escondia seus traços perfeitos. Seus movimentos eram graciosos, mas havia uma determinação em seu olhar que não escapou à atenção de Francis. Aquele não era um baile comum para ela, era o início de algo muito maior.

Os olhares de ambos se encontraram no instante em que Agatha entrou no salão. A troca de olhares foi breve, mas carregada de entendimento. Sem precisar de palavras, Francis soube que ela estava pronta. Ela tinha um plano e, pelo brilho em seus olhos, era evidente que estava ansiosa para colocá-lo em prática.

Pouco depois, enquanto os casais giravam na pista de dança e os risos e sussurros se espalhavam como um zumbido suave, Francis aproximou-se de Agatha em uma varanda nos fundos do palacete. Era uma área menos frequentada, onde apenas os mais íntimos se refugiavam para discussões privadas longe dos ouvidos curiosos.

Agatha estava recostada na balaustrada, observando o vasto jardim iluminado pelas lanternas, quando ouviu os passos de Francis. Ela se virou lentamente, com um sorriso enigmático nos lábios.

— Milady — disse Francis, com um cumprimento discreto. — Esta noite está esplêndida. Mas temo que sua mente esteja longe dos salões.

— A noite pode estar esplêndida, mas os jogos que se desenrolam aqui são mais interessantes do que a música e as danças — respondeu Agatha, sem tirar os olhos de Francis.

— Jogos? — Francis ergueu uma sobrancelha. — Eu sempre gostei de jogos, especialmente daqueles que envolvem mais do que simples palavras.

— Imagino que sim — Agatha respondeu, cruzando os braços de forma elegante. — E eu sei que somos ambos bons jogadores. Vi isso em vós desde a primeira vez que nos encontramos.

Francis sorriu levemente. Ele sabia que não havia tempo para rodeios, e Agatha parecia compartilhar desse sentimento.

— E qual seria a proposta que me traz até aqui, milady? — ele perguntou, com um tom de curiosidade calculada.

Agatha aproximou-se um pouco mais, até que apenas alguns centímetros separavam os dois. Ela inclinou levemente a cabeça, como se estivesse prestes a revelar um segredo muito bem guardado.

— Vingança, meu caro. Contra Lucian. E contra Anabete, porém algo mais, lhe quero, sem que me comprometa com algo más.

O nome de Lucian fez os olhos de Francis se estreitarem, e a proposta era algo irresistível. Ele sabia que aquela história estava muito longe de ser um mero desgosto amoroso. O rompimento entre Agatha e Lucian, comentado em sussurros pela corte, era apenas a superfície. Agora, ouvindo os nomes dos traidores pronunciados com tanto veneno, Francis entendeu a profundidade da raiva de Agatha. E, estranhamente, isso o fascinava.

— Vingança, então — murmurou Francis, fingindo refletir. — Suponho que não seja uma simples vingança, milady. Conhecendo seu talento para o jogo, imagino que tenha algo muito mais interessante em mente.

Agatha sorriu, dessa vez um sorriso genuíno e perigoso.

— Não me contento com humilhações fáceis — disse ela, sua voz baixa e calculada. — Lucian e Anabete vão pagar. E não será de forma rápida. Eles perderão tudo o que prezam, um pedaço de cada vez, até que não reste mais nada além da ruína.

Francis ouviu com atenção, percebendo o cuidado com que ela planejava sua vingança. Ele gostava disso. Não havia impulsividade, apenas uma frieza metódica. Essa frieza o atraía. Como arquiduque, ele sempre fora obrigado a manter o controle de suas emoções, e agora, diante de Agatha, ele via o reflexo de si mesmo — alguém que usava sua inteligência como arma.

— E como esperas que eu possa te ajudar nesse plano? — Francis perguntou, inclinando-se ligeiramente em sua direção.

— Precisarei de um aliado, alguém que possa proteger-me, e que esteja ao meu lado, que me ajude a realizar os planos, auxilie-me a encontrar pessoas que eu possa usar.

Francis assentiu, entendendo a estratégia.

— E eu seria o homem para isso? — perguntou ele, com um sorriso no rosto.

— Sim — respondeu Agatha. — Tens uma aura de mistério, Francis. Ninguém sabe realmente quem és. Tuas intenções estão sempre ocultas, o que faz de ti o aliado perfeito. Ninguém nunca desconfiaria de ti.

Francis refletiu por um momento, os olhos de Agatha fixos nos seus. Ele sabia que a aliança com Agatha poderia ser arriscada. Afinal, ela não era uma mulher de intenções simples. Mas o risco trazia consigo uma sensação de perigo que o excitava. O desafio era irresistível.

Num movimento calculado, Francis aproximou-se ainda mais. Suas mãos roçaram levemente as de Agatha, testando os limites. Ela não recuou. Havia algo no silêncio que os envolvia que tornava aquele momento ainda mais intenso. Agatha ergueu o olhar, e seus lábios curvaram-se num sorriso confiante. O ar entre eles estava carregado de tensão.

Sem dizer uma palavra, Francis inclinou-se lentamente até que seus lábios roçassem os de Agatha. O beijo começou suave, uma troca cuidadosa, mas logo a intensidade cresceu. Agatha respondeu ao toque com a mesma frieza calculada que usava em seus jogos políticos, mas havia um calor subjacente. Era uma combinação de desejo e controle, como se o beijo fosse parte do próprio pacto que acabavam de selar.

Quando finalmente se afastaram, o olhar de Agatha queimava com uma mistura de triunfo e antecipação. Eles sabiam que aquela aliança não seria apenas política.

— Então estamos a formar uma parceria ? — perguntou Francis, formalizando a proposta, ainda com os lábios tingidos pelo gosto daquele momento.

Agatha o olhou fixamente, uma faísca de triunfo dançando em seus olhos.

— Sim — disse ela, estendendo a mão. — Uma aliança que mudará a corte para sempre.

Francis aceitou a mão dela, e com um aperto firme, o pacto estava selado. Mas os dois sabiam que esse aperto significava muito mais do que um simples acordo.

Enquanto voltavam para o salão, Francis e Agatha já começavam a discutir os primeiros detalhes do plano. Lucian seria o primeiro alvo. Vaidoso e confiante, ele acreditava que seu status na sociedade estava seguro, mas Agatha sabia que sua fortuna já começava a ruir. O objetivo seria deixá-lo acreditar que ainda tinha controle sobre sua vida, enquanto suas finanças desmoronavam. Pequenos rumores sobre sua má gestão começariam a circular pela corte, lançados com sutileza e precisão, corroendo lentamente sua reputação.

Anabete, por sua vez, seria atacada de outra forma. Sua imagem de pureza e bondade seria destruída aos poucos, com insinuações cuidadosamente plantadas sobre seu caráter. Agatha sabia que Anabete, apesar de sua aparência angelical, era uma víbora disfarçada, e ela faria questão de mostrar isso para toda a corte. Seria uma queda lenta e dolorosa, uma humilhação pública que deixaria cicatrizes profundas.

Conforme a noite avançava, Agatha e Francis dançaram uma vez no salão, mantendo a postura elegante e distante que a sociedade esperava deles. Mas, sob o véu de normalidade, os dois já estavam começando a tecer os fios de uma trama muito mais sombria.

E assim, o pacto entre Agatha e Francis estava firmado. Eles eram cúmplices, unidos por uma sede de desejo e vingança que transformaria suas vidas e abalaria os alicerces da corte. A Marquesa de Belmonte, sem saber, havia sediado o nascimento de uma aliança que traria o caos. O baile, com suas luzes cintilantes e risos despreocupados, era apenas o prelúdio para o que estava por vir.

No fundo de seus corações, ambos sabiam que o jogo havia começado.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!