Asthara Varyneus
...***...
Depois do meu pequeno encontro com o homem chamado Viktor Bestlin, não consegui o tirar da minha cabeça. Ainda tentei o procurar pelas ruas a seguir, mas era como se ele tivesse desaparecido como fumaça ao vento, o que era estranho. Ou ele andava rápido demais, ou simplesmente desapareceu, o que talvez fosse improvável.
Depois de quase meia hora o procurando, desisti e decidi voltar para casa. As ruas estavam vazias e isoladas, como se todos temessem a atravessar. Pouquíssimas pessoas estavam circulando, o que não era normal naquele horário. Screamsville podia ser uma cidade pequena, mas isolada não era.
Observei mais uma vez a pulseira de prata tentando pensar numa forma de a devolver ao dono. Eu não o conhecia, mas seu sobrenome não era estranho, talvez papai o conheça e fale-me onde fica a sua casa.
Tendo isso em mente, apressei os meus passos para chegar em casa o quanto antes. A minha casa não era tão longe da biblioteca, o que facilitava ir e vir a qualquer horário do dia e por isso mesmo foi possível ver a casa pintada em tons de branco e marrom ao virar a próxima esquina.
As casas da avenida mors seguiam o mesmo padrão, uma vivenda primeiro andar, com um pequeno jardim em frente a casa, uma varanda, um quintal na parte de trás e uma garagem acoplada a casa. Alguns meninos brincavam em frente as casas do outro lado da rua entusiasmados enquanto corriam e gritavam nomes e festividades com a sua bola de futebol bailando nos seus pés.
A minha casa era um das poucas que fugia a esse padrão, uma cerca cobria a propriedade e algumas câmeras de vigilância estavam dispostas a lugares estratégicos. O meu pai era alguém que levava a segurança a sério e muito, não era para tanto já que ele era o delegado da cidade.
Girei a chave na fechadura do portão a abrindo num clique silencioso, fechando a porta atrás de mim, subi os pequenos degraus que davam a varanda de casa e abri a porta branca, fechei a porta atrás de mim e suspirei satisfeita por finalmente estar no conforto do meu lar.
— Finalmente em casa! — festejei comigo mesma.
Não demorou até que uma bola de pelo surgisse a correr da cozinha e se jogasse nos meus braços, a sua cauda se movendo de forma animada, enquanto os seus latidos preenchiam o ambiente.
— Lenon! — sorri animada, fazendo carinho nas suas orelhas felpudas e castanhas.
O golden retriever castanho tinha mais energia do que eu poderia aguentar.
— Quem é o cachorrinho mais fofo? Quem é? — usei um tom mais brincalhão o ouvindo latir em resposta — Claro que é você, o meu neném. — deixei um beijo na sua cabeça.
Lenon era um cachorro adulto e pesado, ele está comigo desde os meus onze anos e nunca mais nos separamos. Era parte do meu coração.
— Asthara? — a voz conhecida chamou.
Ergui os meus olhos para o homem da minha vida. O meu pai estava saindo da cozinha, a calça azul que vestia era coberto pelo seu avental rosa de bolinhas brancas que ele insistiu em comprar um ano atrás e não larga mais.
Sorri com a cena, não conseguia ficar seria sempre que eu o via com aquele "inovador" como ele diz, avental.
— Não ria de mim, garota. — alertou, apontando a espátula na minha direção, ergui as mãos no ar em sinal de rendição.
Cheguei perto o suficiente e o dei um abraço forte, os nossos braços envolvendo o corpo do outro.
— Boa tarde, papai. — na ponta dos pés, deixei um beijo estalado na sua bochecha, o sujando um pouco com o meu gloss.
Papai riu, limpando o brilho labial no seu rosto.
— Boa tarde meu amor — respondeu — Como foi a escola? — perguntou, seguindo para a cozinha e eu segui-o.
Quase revirei os olhos para a sua pergunta, mas meu semblante já foi resposta o suficiente.
— Deixa eu adivinhar — levantou as mãos em frente ao meu rosto me parando — Tedioso. — imitou-me, dizendo a palavra de forma arrastada e proposital.
Nós dois rimos, achando graça. Assenti em resposta e me sentei em uma das cadeiras dispostas ao balcão observando os seus movimentos sincronizados naquele espaço que ele tanto conhecia.
Lenon se juntou a mim, brincando no meio das minhas pernas enquanto eu fazia carinho na sua cabeça.
— Foi sim. O que você está a cozinhar, Sr. Varyneus? — brinquei, apoiando um dos meus braços no balcão de mármore.
O homem de pele negra obsidiana, apenas sorriu, me olhando pelo canto dos olhos.
— Adivinhe. — foi tudo que ele disse, atiçando a minha curiosidade e o meu estômago.
Observei os ingredientes dispostos pela cozinha, alguns que já foram utilizados. Tinha alguns legumes, carne e frascos de tempero.
— Macarrão com almôndegas? — tentei, mas tão logo não vi nada que indicasse que houvesse macarrão.
E a minha resposta chegou em confirmação:
— Não. — o meu pai riu da minha cara, se apoiando do outro lado do balcão com só cotovelos — Tente de novo. Observe ao redor e veja o que possa te ajudar a chegar a uma conclusão de forma calma.
Assenti a analisar os ingredientes dispostos na mesa e no balcão. Pimenta, batata-rena, couve e mais outra diversidade de ingredientes. Um macarrão com almôndegas não levava todos aqueles ingredientes.
Então respirei fundo e observei mais uma vez, uma luzinha se acendendo no final do túnel.
— Carne de panela! — tentei outra vez, dessa vez mais confiante e não no pim, pam, pum.
— Está certo. Mais dois pontos para a Varyneus júnior. — papai deu aquele típico sorriso brilhante dele.
Ele sempre parecia sério, mas ficava deslumbrante quando ria, as suas feições brilhavam. E no jogo do "ache e descobre" que nós inventamos eu via-o rir muitas vezes, quando eu estava ou ele errava algo que eu o mandava descobrir. Esses eram os nossos melhores momentos.
— Agora, senhorita, vá tomar um banho e venha jantar com o seu velhote. — eu sorri com o seu exagero, me levantando da cadeira.
— Você nem é velho papai. — retorqui, pegando a minha mochila no braço da cadeira e sendo seguida por Lenon.
— Ah não? — perguntou.
Eu neguei, subindo as escadas.
— Não. Você é um jovem bonito e ‘sexy’ que todas as policiais da delegacia querem pegar. — a sua gargalhada explodiu divertida, e eu juntei-me a ele.
— Vá tomar logo o seu banho, Asthara.
— Sim, chefe! — imitei os seus companheiros de trabalho, subindo as escadas correndo com Lenon.
Ainda pude ouvir a sua voz murmurar e depois soltar uma risada.
Onde já se ouviu, a sua filha te chamar ‘sexy’?
Sorri, me infiltrando nos corredores da casa. Fui directo para o meu quarto e atirei a minha mochila na cama onde Lenon foi deitar e retirei os meus sapatos, indo me trancar no banheiro logo em seguida.
Retirei a roupa e a pus no cesto da roupa suja, prendi o meu cabelo num coque mal feito e pus-me debaixo do box. Um suspiro relaxado saiu por entre os meus lábios quando a água morna tocou a minha pele. Banhei-me de forma preguiçosa, aproveitando ao máximo a sensação gostosa da água em contacto com o meu corpo.
Quando sai do banheiro, envolta a toalha branca, Lenon olhava fixo para a minha mochila tentando a abrir ouvindo o som de notificação caindo.
— Você vai acabar rasgando a minha mochila, Lenon. — comentei, retirando a mochila das suas patas curiosas e a abri tirando de lá o meu celular.
Havia algumas mensagens de Kaio e de Nora, os dois estavam perguntando se eu estava bem e se já estou em casa. Eu havia esquecido completamente de os avisar.
Enviei uma rápida mensagem aos dois, e desculpando-me por os preocupar, porque conhecendo os meus amigos e do jeito que são já estavam quase entrando em desespero.
Coloquei o celular a carregar, vesti-me e desci as escadas seguida de um Lenon brincalhão que brincava a todo o momento com as amarras da calça do meu pijama.
— Voltamos — avisei, chamando a atenção de papai, ele estava distraído, a expressão distante enquanto lia alguma coisa no celular — Aconteceu alguma coisa, pai?
Preocupei-me com a expressão no seu rosto, mas ele logo deu um sorriso tentando tranquilizar-me.
— Nada com que tens que se preocupar — então havia acontecido algo — São apenas algumas coisas do trabalho. Agora vamos comer.
Chamou-me com as mãos, seguindo para a sala. O segui, mas não antes de servir um pouco de ração e água para Lenon e o desejar uma boa apetite.
Segui os seus passos e sentei-me na cadeira a sua frente. A mesa de seis lugares sempre me parecia grande demais quando havia só nós dois sentados nela.
Papai abriu a travessa com o nosso jantar, o cheiro de carne, legumes e vegetais enchendo o ambiente e dando-me água na boca.
Como sempre o teimoso senhor Martin Varyneus não deixou eu servir-me, e ele próprio o fez, como fazia quando eu era pequena. Mesmo não querendo admitir, eu gostava muito desses miminhos dele.
— Está uma delícia, papai! — exclamei quando comi a primeira colherada de carne e batatas.
— Eu sei disso, fui eu quem cozinhou — se enalteceu, convicto das suas ótimas habilidades culinárias — Agora coma e não fale de boca cheia. — assenti, devorando o meu jantar.
Enquanto o jantar transcorria, conversamos de vários assuntos bobos e aleatórios do nosso dia, nossas risadas, conversas jogadas fora e os latidos de Lenon preencheram o ambiente aconchegante.
— Amanhã, você tem trabalho, pai? — perguntei assim que terminamos de arrumar a loiça que havíamos lavado.
O meu pai assentiu, os seus olhos negros em mim.
— Só no período da tarde, estarei livre a manhã toda. — agora foi minha vez de assentir — Algum problema, filha? — neguei.
— Eu só quero conversar, faz um tempo que você não tem vindo em casa. — esse era o principal motivo, mas eu também queria saber quem são os Bestlin's e porque aquele nome parece tão familiar para mim.
Ele soltou um suspiro pesado, e eu sabia que ele estava se preocupando. Mas não devia.
— Eu sinto muito, querida — falou, agarrando o meu rosto com as duas mãos — Esses dias não têm sido nada fáceis.
— Eu sei pai, não precisa se preocupar. — mostrei-lhe o meu melhor sorriso — Eu vou dormir, tenho aulas logo cedo. — me despedi, dando um beijo na sua bochecha.
Ele devolveu, dando um beijo na minha testa.
— Durma bem, princesa.
— Bons sonhos, meu rei. — me despedi com um sorriso e subi as escadas rumo ao meu quarto.
Fechei a porta atrás de mim e joguei-me na cama, os meus músculos relaxando instantaneamente. Levantei só para arrumar a minha mochila e dar uma ajeitada nas dezenas de livros que estavam jogados pelos cantos do quarto.
Um latido e o arranhar de unhas na madeira chamaram a minha atenção, abri a porta do quarto e Lenon entrou, subindo se esticando, se preparando para dormir.
— Não era suposto você dormir na sua cama? Sabe, lá em baixo? — o folgado apenas bocejou, entrando debaixo dos meus cobertores — Cachorro folgado. Me merece, quem mandou te mimar? Bem que papai me alertou.
Desliguei a luz, me deitando ao lado de Lenon na enorme cama de casal. O golden retriever se aproximou de mim, trazendo o calor dos seus pelos fofos para o meu corpo.
Sorri, percebendo porque eu gostava de dormir tanto com ele quando pequena, ele é bem quentinho. Sonolenta, entreguei-me ao sono, o que foi uma má ideia, porque os pesadelos se arrastaram para a minha mente, impedindo o meu corpo de relaxar a noite toda.
Lenon ( 8 anos)
Martin Varyneus (39 anos)
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Atualizado até capítulo 70
Comments
Elenita Ferreira
Varyneus...me parece nome de Bruxos ou Feiticeiros!!!🤨 Desculpa Autora se eu estiver errada!!😃😃
2025-04-11
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Elenita Ferreira
Não poderias ter melhor escolha autora 👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾!!kk
2025-04-11
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Elenita Ferreira
Apaixonada pelo Lenon 💓💓💓💓
2025-04-11
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