Seda azul celeste

Sentada no banco, Miranda sentiu uma onda de tristeza e desesperança tomar conta de seu coração. Olhou para o horizonte, onde o sol brilhava alto no céu, e desejou com todas as suas forças encontrar um caminho que lhe permitisse viver de acordo com seus próprios termos. A beleza do jardim ao seu redor parecia um contraste amargo com a tempestade interna que a afligia.

Enquanto contemplava seus pensamentos, um de seus criados aproximou-se, interrompendo sua introspecção com uma reverência respeitosa.

— Senhorita Modesty, perdoe-me pela interrupção. — disse ele, sua voz calma e cheia de deferência. — Vossa mãe solicita vossa presença para uma saída ao centro da cidade. Precisais escolher algumas roupas novas para os próximos eventos sociais.

Miranda suspirou profundamente, sentindo o peso das responsabilidades e das expectativas mais uma vez caírem sobre seus ombros. Ainda que apreciasse a beleza das roupas e dos adornos, o processo de escolher vestidos para impressionar a sociedade parecia mais uma prisão do que um prazer.

— Obrigada, John. — respondeu ela, levantando-se lentamente. — Informarei minha mãe que estarei pronta em breve.

John fez uma reverência e afastou-se discretamente, deixando Miranda sozinha com seus pensamentos mais uma vez. Ela olhou para o buquê de rosas que Eduardo havia lhe dado, agora abandonado sobre o banco, e sentiu uma mistura de tristeza e resignação. As rosas, tão belas e delicadas, simbolizavam a prisão dourada de sua vida, onde cada decisão parecia ser tomada por outros em vez de por ela mesma.

Com um suspiro resignado, Miranda dirigiu-se de volta à mansão, seus passos leves e elegantes contrastando com a carga emocional que carregava. Ao entrar, encontrou sua mãe, Lady Modesty, uma figura imponente e elegante, esperando-a com um sorriso afável.

— Minha querida, estou feliz que tenhas aceitado vir comigo hoje. — disse Lady Modesty, com um tom que misturava carinho e determinação. — Precisamos escolher alguns trajes novos para ti. Há vários eventos importantes pela frente, e é essencial que estejas adequadamente preparada.

Miranda assentiu, mantendo a compostura e a graça que se esperava dela, embora seu coração desejasse estar em qualquer outro lugar, livre das pressões sociais que sua mãe personificava.

— Certamente, mãe. — respondeu ela, com um sorriso contido. — Estarei pronta em poucos minutos.

Com isso, ela subiu as escadas em direção a seus aposentos, onde as criadas a ajudariam a se preparar para a saída.

Depois de se arrumar, desceu novamente as escadas, encontrando sua mãe e os criados prontos para partir. Entraram na carruagem da família, um veículo imponente e ornamentado, que os levaria ao centro da cidade. O caminho até lá foi preenchido por conversas leves e superficiais, que não faziam nada para aliviar a inquietação interna de Miranda.

Ao chegarem ao destino, foram recebidos com a deferência que a posição social dos Modesty exigia. Entraram em uma das lojas de moda mais exclusivas da cidade, onde a proprietária, Madame Beaulieu, as cumprimentou calorosamente.

— Ah, Lady Modesty, senhorita Miranda, que honra recebê-las! — exclamou Madame Beaulieu, sua voz doce e ligeiramente afetada. — Temos as últimas tendências diretamente de Paris, tenho certeza de que encontrarão algo que as encantará.

Miranda forçou um sorriso, seguindo sua mãe pelas fileiras de vestidos e acessórios. Enquanto Lady Modesty discutia com a modista sobre os tecidos e cortes mais apropriados, Miranda permitiu-se um breve momento de evasão, observando as ruas movimentadas pela janela da loja. A vida lá fora parecia cheia de possibilidades e liberdade, contrastando com a opulência sufocante de seu próprio mundo.

Madame Beaulieu, notando a distração de Miranda, aproximou-se dela com um sorriso gentil.

— Senhorita Miranda, veja este vestido. — disse ela, segurando uma peça de seda azul celeste adornada com rendas delicadas. — É perfeito para uma dama de sua estatura e elegância.

Miranda pegou o vestido, admirando a beleza do tecido e a delicadeza dos detalhes. No entanto, por mais belo que fosse, não conseguia afastar a sensação de que cada nova peça de roupa era mais uma camada de uma prisão dourada que a afastava cada vez mais de sua verdadeira identidade.

Após algumas horas de escolha e provações, Lady Modesty finalmente declarou-se satisfeita com as compras, e voltaram à mansão com uma coleção de vestidos que seriam o assunto da próxima temporada social. Miranda, embora agradecida pela dedicação de sua mãe, sentia-se mais distante de si mesma do que nunca.

Enquanto a carruagem os levava de volta, Miranda olhou para o horizonte, pensando em Percy e na breve chama de esperança que ele havia acendido em seu coração. Sabia que o caminho para a liberdade seria árduo e cheio de desafios, mas estava decidida a encontrar uma maneira de viver de acordo com seus próprios termos, não importando o quão difícil pudesse ser.

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