O relógio marcava cinco e meia da manhã quando Gabriel Scarleth saía para sua corrida matinal. A brisa fresca da manhã varria a Avenida Paulista, enchendo seus pulmões com ar revigorante. Ajustou os fones de ouvido e começou a correr, seus passos ressoando ritmicamente contra o asfalto molhado pela neblina matinal.
Gabriel tinha uma rotina rigorosa. O Parque da Harmonia era seu destino diário desde sua chegada a Porto Velho, um refúgio de serenidade no coração da cidade. Ele corria concentrado, seu corpo atlético movendo-se com eficiência e graça. A luz suave do amanhecer filtrava-se pelas árvores, criando sombras dançantes no chão.
Quando o relógio marcava seis e meia, Gabriel estava de volta ao seu apartamento. Saudou o porteiro, Sr. João, com um aceno rápido.
— Bom dia, Sr. João! — disse Gabriel, com um tom amigável.
— Bom dia, Sr. Scarleth! — respondeu o porteiro, devolvendo o sorriso. — Corrida boa hoje?
— Sim, precisava clarear a mente — respondeu Gabriel, respirando fundo.
Ao chegar ao seu andar, Gabriel abriu a porta do apartamento, apenas para se deparar com uma mulher saindo apressada do seu quarto. Ela estava visivelmente irritada, os olhos lançando faíscas de raiva.
— Você! — gritou ela, apontando um dedo acusador na direção dele. — Como você pôde me trancar lá dentro? Seu idiota!
Gabriel franziu o cenho, confuso. Ele realmente não lembrava de ter deixado alguém em seu apartamento.
— Desculpe, eu... eu não sei do que você está falando, como você entrou aqui? — disse ele, tentando manter a calma.
— Não sabe? — a mulher bufou, os olhos brilhando de fúria. — Você me trouxe aqui ontem à noite, e depois simplesmente sumiu e trancou a porta! Eu tinha compromissos hoje de manhã, sabia?
Gabriel esfregou a testa, tentando lembrar os eventos da noite anterior. As coisas estavam um pouco nebulosas.
— Olha, sinto muito por isso — ele começou, tentando apaziguar a situação. — Foi um erro. Eu não queria te causar problemas.
— Um erro? — ela zombou, a voz carregada de sarcasmo. — Você acha que isso se resolve com um simples "desculpe"?
Gabriel suspirou, percebendo que as coisas estavam fora de controle.
— Você me trancou aqui dentro, seu cretino! — gritou a mulher, seus olhos inflamados de raiva.
— Desculpe, não foi minha intenção... — começou ele, mas foi interrompido.
— Não foi sua intenção? Eu passei a manhã presa aqui, sem poder sair! — Ela sacudiu a cabeça, incrédula, e começou a arrumar sua bolsa freneticamente.
— Olha, eu realmente sinto muito. Posso te dar uma carona, se quiser — disse Gabriel, levantando as mãos em um gesto apaziguador.
— Nem pensar! — Ela passou por ele, dando-lhe um empurrão no ombro. — Espero nunca mais te ver, imbecil.
— Tudo bem, não precisa fazer escândalo — retrucou Gabriel, tentando manter a calma.
— Escândalo? Você não viu nada ainda! — Ela deu-lhe um olhar fulminante antes de entrar no elevador, ainda xingando-o.
Gabriel suspirou e observou enquanto ela desaparecia. Fechou a porta atrás de si e riu baixinho, balançando a cabeça. A manhã definitivamente não tinha começado como ele esperava.
Seguindo para o banheiro, ligou o chuveiro, deixando a água quente lavar o cansaço e a tensão de seu corpo. O vapor enchia o pequeno espaço, criando uma sensação de tranquilidade momentânea. Após sua higiene matinal, vestiu um terno cinza, ajustando a gravata com precisão. Gabriel sempre se orgulhara de sua aparência impecável, especialmente em dias importantes como aquele.
Na cozinha, preparou um café forte, o aroma rico enchendo o ambiente. Bebeu lentamente, apreciando o sabor enquanto revisava mentalmente os pontos que pretendia abordar na entrevista. Com o café acabado e o pequeno-almoço terminado, Gabriel estava pronto para enfrentar o dia.
Descendo as escadas do prédio, saiu para a calçada onde uma brisa fresca tocava seu rosto. No ponto de táxi, acenou para o primeiro carro que viu.
— Bom dia! — disse ao motorista, entrando no veículo. — Pode me levar até a Avenida das Finanças, por favor?
— Claro, senhor — respondeu o motorista, ajustando o espelho retrovisor. — Novo na cidade?
— Sim, está na cara? — respondeu Gabriel, olhando pela janela enquanto o táxi começava a se mover.
— Logo se vê — disse o motorista com um sorriso.
O carro seguia pelas ruas movimentadas, e Gabriel observava a cidade acordando. Pessoas apressadas, cafés abrindo suas portas, o tráfego aumentando gradualmente. Ele respirou fundo, tentando focar em manter a calma.
— Está ventando bastante hoje — comentou o motorista, tentando puxar conversa.
— Sim, o ar está fresco. É um bom dia para caminhar, mas hoje tenho que ficar trancado em um escritório — respondeu Gabriel com um leve sorriso.
— O senhor trabalha em qual empresa, se me permite perguntar?
— Ainda não trabalho, mas será na Fortuna Tech, assim espero. Estive em Valeriam antes de vir para cá — respondeu Gabriel, sentindo uma mistura de excitação e nervosismo.
— Valeriam? Lugar bonito, mas movimentado. O senhor deve estar acostumado com o ritmo — comentou o motorista.
— Sim, mas cada cidade tem seu próprio ritmo. Estou gostando de Olga City até agora — respondeu Gabriel.
— Muita mulher por aqui — disse o motorista.
— Realmente — comentou Gabriel, olhando para a janela com um sorriso travesso.
Chegando ao destino, Gabriel pagou a corrida e saiu do táxi. A imponente torre financeira erguia-se à sua frente, dominando o horizonte. Ele respirou fundo, ajustou a gravata e entrou no prédio, sentindo a energia do lugar invadi-lo.
— Bom dia! — saudou a recepcionista, com um sorriso profissional.
— Bom dia — respondeu Gabriel, retribuindo o sorriso enquanto caminhava até o elevador.
O elevador estava cheio de pessoas ansiosas para começar o dia, mas Gabriel manteve-se focado, seu rosto uma máscara de seriedade. Quando as portas se abriram no andar da Fortuna Tech, ele saiu com passos firmes.
Quase de imediato, esbarrou numa mulher apressada, fazendo com que seus papéis caíssem ao chão. A mulher, sem olhar para trás, continuou a andar, claramente irritada.
— Desculpe-me! — exclamou Edna, lançando um olhar preocupado para Isabel.
Gabriel ajoelhou-se, ainda ajoelhado no chão, olhou para a mulher que estava de costas para ele com um misto de surpresa e irritação.
— Cuidado da próxima vez — disse ele, a voz fria.
A mulher parou e olhou para Gabriel por um instante, seus olhos fixos e impassíveis.
— Estarei mais atenta — respondeu, a voz calma, mas autoritária, antes de continuar seu caminho.
Edna, que seguia logo atrás, parou e também ajoelhou-se para ajudar. — Deixe-me ajudá-lo.
— Não se preocupe — respondeu Gabriel, tentando manter a calma enquanto recolhia os documentos. — Acontece. Aonde fica o Recursos Humanos?
— Os departamentos de Recursos Humanos estão no sexto andar — disse Edna, levantando-se e entregando os papéis organizados para Gabriel.
— Muito obrigado. Tenha um bom dia! — disse antes de virar-se para o elevador. Gabriel chamou por Edna novamente. — Desculpe, quem é aquela senhora? — perguntou apontando para Isabel ao fundo, entrando na sala de reuniões.
— É a minha chefe, a filha do CEO — respondeu Edna, olhando para ele com um sorriso amigável.
Os dois despediram-se com um sorriso, Edna seguiu Isabel e Gabriel caminhou até o elevador que o levou até o sexto andar. Caminhou pelo corredor até a sala da diretora Helena, responsável pela área de seleção e recrutamento do pessoal.
AO chegar à sala de Helena, Gabriel bateu levemente na porta entreaberta. A diretora, uma mulher de meia-idade com olhos atentos e um sorriso acolhedor, olhou para cima de seus papéis.
— Bom dia, posso ajudar? — perguntou ela, ajustando os óculos.
— Bom dia, sou Gabriel Scarleth. Tenho uma entrevista agendada com a senhora — disse ele, tentando esconder a tensão na voz.
— Ah, claro! Gabriel, estava esperando por você. Por favor, entre e sente-se — disse Helena, fazendo um gesto para a cadeira em frente à sua mesa.
Gabriel entrou na sala e sentou-se, sentindo a calma da diretora aliviar um pouco sua ansiedade.
— Então, Gabriel, o que o trouxe à Fortuna Tech? — perguntou Helena, com um tom curioso.
— Sempre admirei o trabalho da empresa e a liderança visionária de Frédéric Fortuna. Quando soube da oportunidade, não pude deixar de tentar fazer parte dessa equipe inovadora — respondeu Gabriel, seu entusiasmo começando a transparecer.
— É sempre bom ver candidatos com tanto entusiasmo. Conte-me um pouco sobre sua experiência em Valeriam — disse Helena, inclinando-se ligeiramente para frente.
Gabriel começou a falar sobre seus projetos anteriores, suas conquistas e desafios. À medida que a conversa fluía, ele se sentia mais à vontade, notando a aprovação nos olhos de Helena.
— Suas experiências são impressionantes, Gabriel. Acho que você tem muito a contribuir para nossa equipe. Gostaria de saber como lida com situações de alta pressão, especialmente em um ambiente tão dinâmico como o nosso — perguntou Helena, mantendo um olhar avaliador.
Gabriel respirou fundo, lembrando-se de suas corridas matinais que o ajudavam a clarear a mente.
— Eu gosto de manter uma rotina equilibrada, que me ajuda a enfrentar os desafios do dia a dia com clareza. Em Valeriam, lidei com muitos projetos sob pressão e aprendi a priorizar tarefas e a manter a calma em situações críticas — disse ele, com confiança.
Helena assentiu, satisfeita com a resposta.
— Bem, Gabriel, estou impressionada. Vamos marcar uma segunda entrevista com o Sr. Fortuna. Edna entrará em contato para agendar — disse Helena, estendendo a mão para um aperto firme.
Gabriel apertou a mão dela, sentindo uma onda de alívio e excitação.
— Muito obrigado pela oportunidade, Sra. Helena. Estou ansioso por isso — disse ele, levantando-se.
Ao sair da sala, Gabriel sentia-se energizado, como se cada passo o levasse mais perto de seu objetivo. Enquanto esperava o elevador, não pôde deixar de pensar na mulher furiosa que deixara seu apartamento mais cedo. Suspirou, balançando a cabeça.
— Um dia de cada vez — murmurou para si mesmo, determinado a não deixar que nada atrapalhasse seu foco.
Quando o elevador chegou, Gabriel entrou e apertou o botão do térreo. A caminho da saída, passou pela recepcionista que o cumprimentara mais cedo.
— Como foi? — perguntou ela, com um sorriso curioso.
— Foi ótimo, obrigado por perguntar. Acho que vou voltar aqui em breve — respondeu Gabriel, com um sorriso otimista.
Ao sair do prédio, Gabriel sentiu a brisa fresca novamente. Ele olhou para a imponente torre financeira e sorriu. O dia começara tumultuado, mas parecia que as coisas estavam finalmente se encaixando.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 81
Comments