Capítulo 2

Os orbes escuros se concentraram na imagem que tinha diante de si. Uma amálgama de emoções, desde a dor aguda até a profunda raiva, apoderou-se do seu ser no instante. Queria desviar o olhar, desejava não seguir contemplando essa imagem que dilacerava sua alma. Anelava fervorosamente regressar à vida que levava apenas cinco minutos atrás, quando ignorava por completo a existência dessas fotografias. Não obstante, ele mesmo foi quem insistiu em seguir adiante, quem construiu castelos de ilusões. Ele foi quem deu o primeiro passo entre ambos.

Ele foi o único que se deixou envolver pelo amor.

Sentia-se como um mero seguidor, um fiel acompanhante atrás do impressionante Carlo Mancini. Sempre foi assim, e essa realidade o golpeava com brutal sinceridade. Era plenamente consciente de que, para Carlo, não era mais que um incômodo em seu caminho, uma sombra que mal merecia atenção.

Apesar de se sentir estúpido, desejava com desesperação se aferrar a Carlo. Não planejava renunciar tão facilmente; menos ainda ante a presença de uma simples enfermeira. Fechou com raiva o tablet e o lançou com força contra a parede. Os livros se espalharam pelo chão, um reflexo do caos que havia se apoderado do seu interior. Adrien se recostou sobre o encosto de sua cadeira, uma mistura de frustração e irritação consumindo-o por completo. Carlo o havia excluído de sua vida bloqueando seu número pessoal, limitando a comunicação através de seu secretário.

Haviam transcorrido três meses desde então, e a interrogativa seguia ressoando: Não sentia sua falta em absoluto? Adrien mergulhou na depressão ao refletir sobre isso. Nunca recebeu uma mostra de afeto de Carlo, sempre enfrentando a indiferença e a frieza. Inclusive quando se esforçava ao máximo, Carlo o menosprezava.

Não podia obrigar Carlo a amá-lo, mas estava decidido a mantê-lo ao seu lado. Havia forçado Carlo a ficar, esperando contra toda lógica que pudesse despertar algum tipo de sentimento nele. Mas foi um erro monumental. Carlo não sentia atração por ele nem por nenhum homem; suas preferências eram exclusivamente femininas, e isso era algo imutável.

Enquanto Adrien protagonizava uma birra em terras distantes, Carlo desfrutava comodamente de sua ausência. Devia desculpar-se? Devia ser o primeiro a pedir perdão, como havia feito tantas vezes? A incerteza o assediava, mas também era consciente de que, quanto mais tempo passasse longe de Carlo, mais fácil seria para ele se apaixonar por outra pessoa.

Apesar de tudo, uma parte de Adrien o instava a manter seu orgulho. Havia perdido a dignidade ante Carlo em inúmeras ocasiões, e por um momento, desejava que fosse Carlo quem pedisse perdão primeiro. No entanto, ambos sabiam que, ao final, Adrien terminaria sendo o que pediria perdão inclusive por coisas que não havia feito.

Deixou cair seu rosto sobre a escrivaninha, rabiscando em uma folha em branco. Sua mente se enchia uma e outra vez com a imagem que o atormentava, recordando o dia em que, com ilusão, entregou um presente a Carlo. As mãos marcadas pelos espinhos das rosas evidenciavam o esforço investido. Adrien sorriu com entusiasmo ao apresentar um ramo de rosas vermelhas, mas a reação fria de Carlo destroçou suas ilusões.

—Não ponha lixo sobre minha escrivaninha.

Essas escassas palavras lhe roubaram o alento, e não precisamente de uma maneira reconfortante. Seus lábios tremeram e seus olhos arderam com uma intensidade inusual. Havia sido desprezado. Ainda que a surpresa não formasse parte de sua reação, a dor se aferrou a ele como se não a houvesse antecipado. Tentou articular alguma resposta, mas as palavras ficaram presas no nó que se formou em sua garganta.

Com mãos trêmulas e as ilusões feitas em pedaços, uma vez mais, arrastou a caixa para si e a sustentou entre suas mãos. Piscou repetidas vezes, lutando contra o fluxo de lágrimas que ameaçava escapar de seus olhos. Como já era seu costume, viu-se forçado a ignorar suas emoções, ou ao menos tentá-lo. Forçou um sorriso, ainda que, observada detidamente, mais parecesse uma careta de dor. Uma tentativa falhada de sorrir. No entanto, isso parecia não importar a Carlo, quem, tão pronto como o viu recolher a caixa, voltou o olhar para o que seja que lhe estava roubando sua atenção.

—A abrirei em seu lugar —anunciou Adrien com um traço de entusiasmo. Ocupou uma das cadeiras de couro frente à escrivaninha de Carlo e procedeu a abrir a caixa com extremo cuidado. O sorriso em seu rosto se ampliou ao contemplar o formoso ramo de flores. Havia investido um esforço significativo para assegurar-se de que tudo saísse perfeito, e afortunadamente, assim foi. Planejou a ideia de colocar o ramo frente a Carlo, mas recordando a reação prévia, optou por sustentá-lo em suas mãos, como se temesse que qualquer gesto adicional desencadeasse outro desdém.

A ironia da situação não passou despercebida; enquanto ele celebrava o resultado exitoso de seu presente, Carlo mal desviou o olhar de seus afazeres. A tentativa de Adrien por recuperar algo de apreço no olhar de Carlo estava destinada à indiferença. Ainda assim, com a esperança de que esse pequeno gesto pudesse mudar algo, Adrien continuou sustentando o ramo, desejando que ao menos essa beleza florescente pudesse romper o gelo no frio coração de Carlo.

—Olhe —disse Adrien com um tom de expectativa, sustentando o ramo de flores— É bonito, não?

O silêncio se prolongou por uns três ou quatro minutos, enquanto as bochechas de Adrien começavam a doer pelo sorriso forçado que mantinha. A ponto de explodir de frustração, os formosos olhos de Carlo se puseram finalmente nele e no presente que sustentava.

—Bonito —respondeu Carlo com uma concisão que resultou inesperada. Foi uma resposta breve, mas suficiente para que o coração ferido de Adrien recebesse um pequeno alívio. Satisfeito, voltou a fechar a tampa da caixa e a deixou na cadeira ao lado.

Buscou no bolso interno de seu paletó duas pequenas folhas dobradas ao meio e as colocou frente a Carlo. A ação provocou que o rosto de Carlo se deformasse em uma careta de desgosto, mas Adrien decidiu ignorar essa expressão e falar antes de ser mandado ao inferno.

—Escolha uma —instou Adrien com determinação.

Carlo levantou o olhar, mostrando uma clara irritação. Adrien fez beicinho, e Carlo revirou os olhos, franzindo ainda mais a testa. Adrien conhecia a aversão de Carlo a que o incomodassem enquanto trabalhava, mas, de outra maneira, nunca lograria captar sua atenção. Se não buscava a Carlo, este simplesmente o ignorava por completo, desafiando qualquer acordo tácito que compartilhassem.

Sem demasiado entusiasmo, Adrien observou como Carlo selecionava uma das duas pequenas folhinhas dobradas. No entanto, não pôde evitar insistir em que a desdobrasse e lesse seu conteúdo, ainda que a ideia pudesse parecer tola e algo infantil. Apesar de tudo, a simples eleição de Carlo lhe causava emoção, ansioso por descobrir que atividade haveria selecionado.

—Café —pronunciou Carlo enquanto examinava a folha desdobrada—. Café? —repetiu em forma de pergunta, arqueando uma de suas sobrancelhas com um ar de ceticismo.

—Genial! Isso significa que iremos ao novo café próximo. Tenho lido resenhas na internet e dizem que é excepcional. A outra folha propunha um passeio relaxante na praia, mas já que você escolheu esta opção...

A efusão no rosto de Adrien e em suas palavras se desvaneceu abruptamente ao observar como Carlo amassava a folha e a descartava com desdém na lixeira, justo frente a ele. Aquele gesto de rechaço a seu plano de encontro perfeita provocou que algo dentro de Adrien se fizesse em pedaços nesse dia. Ainda que parecesse estranho e até estúpido, Adrien estava lamentavelmente acostumado a este tipo de desaires.

—É minha culpa —sussurrou em seus pensamentos—. Eu o provoquei —pensou, lutando por não se afundar na humilhação.

—Sabe que não gosto das saídas a lugares concorridos. Odeio escutar o burburinho das pessoas —declarou Carlo com frieza. Cada palavra pronunciada por Carlo ressoava na consciência de Adrien, aumentando a carga de culpabilidade. Porque sim, ele conhecia à perfeição todas as coisas que Carlo detestava. E, para seu infortúnio, eram precisamente essas coisas as que Adrien anelava fazer com ele.

Adrien anelava a experiência de levar Carlo ao cinema, onde poderiam submergir-se juntos em um filme de terror. Planejava habilmente fingir medo para ter a desculpa perfeita de abraçar Carlo. No entanto, todas essas expectativas se desmoronaram ao chocar com as aversões específicas de Carlo: o rechaço ao cheiro da pipoca e a detestação de qualquer tipo de filme. Entre suspirar resignado e abandonar a ideia, Adrien sentiu que uma sombra mais se somava à crescente lista de desencontros.

A ilusão de compartilhar um dia no centro comercial também se desvaneceu ante a realidade das preferências de Carlo. Queria agarrar sua mão, admirar vitrines e desfrutar de um sorvete juntos, mas as objeções de Carlo eram inquebrantáveis. Detestava as coisas doces, resistia ao contato em público e parecia aborrecer a ideia de passar tempo algum com ele.

—Mas aí está você? —murmurou Adrien enquanto amassava a folha na que havia estado rabiscando—. Você está aí. No mesmo lugar ao qual não quis ir... Você está aí, com ela, no mesmo café ao qual te convidei. —A tristeza se apoderou de suas palavras, uma tristeza que ressoava com a decepção de haver idealizado planos com a esperança de uni-los e, em troca, encontrar-se com a crua realidade das barreiras insalváveis impostas pelas preferências de Carlo. Nesse momento, Adrien se sentiu submerso na penosa realização de que, inclusive em seus pequenos intentos de conexão, a distância emocional entre eles parecia insuperável.

...----------------...

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!