...Boa leitura 🥰...
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Era mentira se dissesse que cuidar de Helian era uma tarefa difícil. De fato, faziam alguns dias que o garoto não acordava, seu corpo queimava em febre. A imperatriz se negou a deixar qualquer profissional no assunto cuidar dele, deixando o trabalho de suas feridas completamente para Allen.
Apesar de estar morrendo de curiosidade para saber porquê ele tinha uma faixa sobre os olhos, achava desrespeito o suficiente ter retirado um pedaço da sua jóia.
De qualquer forma ele tinha os próprios problemas para lidar, no começo conseguiu despistar a bebida que Adric lhe ofereceu, mas logo a pessoa que veio pessoalmente foi a imperatriz, sendo assim é claro que não pôde recusar. No começo pensava que talvez nem todos os seus sonhos fossem concretos, mas logo após tomar o leite, sentia todo o seu corpo esquentar, não era algo normal, e embora não doesse nenhum pouco, com passar dos dias era notável o quanto sua força diminuía.
Foi difícil para Allen aceitar que estava sendo envenenado pela própria família.
E principalmente que não poderia deixar esse veneno de lado sem provas, afinal, nem sequer sabia qual era o tipo de droga.
Além de que acusar alguém da família imperial era um delito grave, poderiam virar o jogo contra ele.
Allen observava Helian em silêncio, havia lhe conseguido um quarto pequeno, porém muito limpo, e consideravelmente perto do seu. Além de colocar pelo menos dois guardas para guardar a porta.
Fazia alguns dias que fazia isso, apenas ia para o seu quarto e observava.
O efeito de estar alí era incrível. Todos que passavam o olhavam com pena enquanto murmuravam baixo sobre como o príncipe teve o infortúnio de treinar o cão de Waverly.
Estava tudo extremamente calmo, calmo até demais.
De repente Allen solta um gemido de dor, teve que morder forte os lábios para não atrair nenhum guarda para dentro. Era como se suas veias queimassem e esfriassem na mesma velocidade, podia sentir sua testa suando frio. Não sabia se esse tipo de dor vinha do veneno mas de repente seu peito começou a doer muito, doía em uma intensidade equivalente a ter um órgão seu sendo fervido bem na sua frente.
Ele se encolhe do chão enquanto aperta o próprio peito, logo percebe que havia algo de estranho, como se uma faca perfurasse ali.
Allen corre até seu quarto e rapidamente vai até o espelho enquanto rasga as próprias roupas.
Por quê tinha que doer tanto?
Uma enorme mancha preta se formava em volta do seu coração, como raízes que grudavam profundas em sua pele, elas se assemelhavam a veias.
O que essa merda significava e a quanto tempo havia estado alí?
Suas unhas automaticamente começam a rasgar a pele desesperado para retirar o que quer que fosse, mas a marca permanece. O que mais o surpreendeu foi que enquanto arranhava, a cor do sangue que escorria era preto.
Ele quebra o espelho enquanto tenta pensar em uma solução, mas nada lhe veio a mente.
Os dias se passaram, e Adric continuou lhe trazendo o leite. Para sua surpresa ou nem tanto, as raízes negras se acomodaram ainda mais em sua pele.
— Allen, seu irmão me disse que ontem você não tomou o leite medicinal, tem noção do quão raros são os ingredientes? Não seja mal agradecido e continue tomando, fazem muito bem a saúde, eu mesma fiz o preparo, então fiz questão de estar delicioso. — Essas foram as palavras que sua mãe disse a respeito quando questionou, e embora seu tom tenha sido doce, não abriu brechas para contradições.
— Eu entendo, mãe, mas...
— Não, não entende, se entendesse não me faria sair da minha posição de imperatriz, para vir até uma criança ingrata lhe ensinar como deve se comportar. Acaso não lhe dei o escravo? Apenas se preocupe em impedir que ele morra e não deixe que nenhum rumor ridículo sobre você circule por aí, não quero ouvir mais nenhuma reclamação sobre o medicamento.
— O que faço se ele morrer?
— Ora, ao menos você tentou, será uma decepção, mas ele é apenas um cachorro recém adotado, não deve dar muita importância, apenas enterre em uma vala qualquer.
Agora a frente do garoto, ele se sentia um pouco mal pensando nessas palavras. O rosto pálido do mesmo, estava levemente avermelhado, e seus longos cabelos prateados haviam embaraçado um pouco.
— Sua vida realmente não tem importância? — Ele sussurra tocando sua testa.
Havia lhe aplicado o mesmo remédio que dá todos os dias, mas ainda era difícil pois só conseguia lhe dar o externo, quando ia dar um chá medicinal ou qualquer coisa do tipo, o garoto mordia tão forte os próprios lábios que parecia que iria sangrar.
— Será que estamos ambos destinados a morrer?
Se sentia um pouco idiota por conversar com um desacordado, mas não podia confiar em ninguém no castelo. Seu único amigo era Faith, no entanto ele havia ficado estranho nos últimos meses desde que se tornou obcecado em apostas. E não havia muito o que dizer sobre sua irmã, ele a amava mas ela não era presente, fora que estava sempre planejando suas próprias coisas em segredo, sem tempo algum para os dramas do palácio, embora se esforçasse.
A situação de seu corpo apenas piorava. As vezes enquanto cuidava de Helian, se questionava qual dos dois estava pior.
Pois ele sentia que estava se matando aos poucos.
Mais tarde voltou para encontrar sua mãe.
— Pode repetir o que disse? — A imperatriz exige erguendo o queixo.
— Não vou mais tomar o remédio.
O salão estava em completo silêncio, apenas observando qual seria a reação dela.
— Por que não?
— Estou recuperado, então acho que os medicamentos não são mais necessários.
— Como não são necessários? Se estou dando é porque são, não há motivos para negar, tem noção de quantas pessoas matariam para ter um pouco disso?
— Dê a essas pessoas então.
Alguns soltaram suspiros de surpresa por suas palavras.
A imperatriz o olhou brevemente enquanto semicerrava os olhos, paracia analisar cada detalhe seu, os cabelos muito escuros ressaltavam seu olhar afiado.
— Acho que estou sendo muito misericordiosa com você, as vezes esqueço que sou imperatriz e acabo agindo como mãe, veja só, ridículo certo? E pelo visto o cativo ainda não acordou, talvez você precise de um incentivo filho.
Allen abaixa a cabeça em silêncio.
— Ótimo, façamos assim, se esse pirralho não acordar em três dias, você irá ao exército das fronteiras do sul.
Ele franze o cenho imediatamente.
Esse lugar era basicamente um banho de sangue, aqueles que vão, normalmente não voltam, era para lá que traidores costumavam ser enviados.
Allen dá um sorriso sarcástico.
— Não deixe tão óbvio que quer se livrar de mim mãe, ou as pessoas podem começar a pensar que existe um certo favoritismo.
— Não seja frouxo Allen, o nome disso é disciplina.
— Acaso fará o mesmo com Adric?
— Ora seu... — Ela se contém em lhe xingar.
— Não, você não vai, como sempre, sou o único a ser castigado.
— Bem, minha ordem está dada, se ele não acordar, você sabe o que te aguarda.
— Por que embelezar com palavras tão bonitas? Apenas diga que vou morrer de qualquer forma para abrir caminho até o trono para o seu filho favorito.
— Cuidado com a língua pirralho, com quem pensa que está falando? Sou a imperatriz desse reino, e você não passa de um pequeno bastardo insolente.
Allen ri balançando a cabeça negativamente.
— Eu sou o bastardo? Quando vai dizer a todos que seu queridinho que não se parece nenhum pouco com meu pai é o verdadeiro bastardo?
Ela acerta um tapa no seu rosto. É tão forte e inesperado que Allen tropeça um pouco para trás.
— Você realmente perdeu a noção do perigo.
A odiava.
Odiava ainda mais o fato de ela lhe odiar.
Seus olhos rapidamente começam a lacrimejar. Queria poder aceitar mais fácil esse sentimento de que nunca seria amado por ela. Mas ainda doía todas as vezes.
— Que se foda que você seja a imperatriz, eu me sentiria bem o suficiente se pelo menos minha própria mãe não estivesse tentando me matar.
Em um momento rápido e fugaz, ela lhe acerta outro tapa, dessa vez Allen de fato cai, mas levanta tentando se manter firme, até que ela acerta mais um, e o próximo, deixando então um lado do seu rosto completamente avermelhado com tons variados de roxo.
Seus tapas continuam por um bom tempo, uma de suas servas interrompe, preocupada com os ferimentos que começavam a se formar na mão da imperatriz.
Ela apenas oferece um sorriso a serva, antes de continuar a bater nele com a outra mão. Ao se cansar de bater com a mão, suas mãos agarram o chicote e lhe golpeiam até Allen não conseguir se levantar.
— Quer saber o que é o remédio que tem tomado? — Sua voz era suave e calma, além de estar extremamente próxima de sua orelha, ela lhe guia até uma sala escura, não muito longe de seus aposentos. — Como queria saber a verdade, vou lhe conceder meu filho.
Allen arregala os olhos com a imagem a sua frente, eram os cadáveres da família de Helian, junto com diversos outros corpos de cativos. Todos estavam pendurados sob bacias, enquanto o sangue pingava constantemente. Seu corpo treme um pouco ao sentir o cheiro pungente de sangue.
— O que é isso mãe?
— Você está amaldiçoado Allen.
— Impossível... como?
— Um Waverlyano te amaldiçoou quando ainda era criança, eu me perguntava quem havia sido e finalmente o encontrei, todo esse tempo, enquanto não o achava, estive lhe entregado doses pequenas do sangue deles para conter a maldição.
— Então aquele que me amaldiçoou é...
— Não tenho certeza, mas como ele é o príncipe de Waverly vai servir para quebrar a maldição. Basta fazer com que o garoto te odeie o suficiente, pegar a jóia que você arrancou e engolir. — Ela faz uma pausa — Não o tipo de ódio que sente agora, precisa ser algo forte e duradouro, a ponto que ele esteja disposto a abrir mão do próprio reino para te destruir.
— Se eu fizer isso, o que acontece com ele?
Ela se afasta lentamente, antes de acariciar com delicadeza a bochecha do seu filho.
— Não me decepcione mais.
Allen fica jogado ao chão por um tempo, até finalmente reunir forças para se levantar, seu corpo inteiro doía, mas não era a primeira vez que ela lhe espancava, ela dizia que isso era apenas um castigo, que não devia chegar aos ouvidos de ninguém. E que não tinham nada a ver com tentativa de homicídio pois não havia ninguém morto.
Ela não estava tão errada, as feridas eram superficiais, e Allen não estava tão ferido quanto Helian. Mas ainda se sentia vazio por dentro.
Quando conseguiu sair do salão, não foi para o seu quarto, temia que Faith ou sua irmã fossem lhe ver, e então começariam as perguntas. E ainda havia o fato de que precisava pensar como devia lidar com essa maldição.
Chegou ao quarto de Helian e se sentou sobre o chão caindo exausto.
— Eu deveria apenas morrer?
Após pensar um pouco, ele tenta se levantar para ir embora, mas no momento seguinte, a cabeça do jovem adormecido se moveu em sua direção.
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Atualizado até capítulo 47
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