No caminho de volta para a mansão, senti uma alegria inesperada tomando conta de mim. Era raro me sentir assim, e confesso que mal podia acreditar que isso ainda era possível.
— Chefe, você está sorrindo? — perguntou Juarez, parecendo surpreso, já que em todos esses anos trabalhando comigo nunca me vira sorrir desse jeito, como se estivesse... bobo.
— Estou, sim. Algum problema?
— Não, só é meio estranho ver o senhor sorrindo, mas fica muito melhor assim. Devia sorrir mais.
— E você devia prestar atenção na estrada — retruquei.
Juarez riu.
— Ah, agora sim. Voltamos ao normal — comentou, referindo-se ao meu humor habitual.
Mas naquela noite, por mais que tentasse, eu não conseguia tirar Alícia da cabeça. Toda vez que fechava os olhos, a imagem dela surgia, clara e perfeita.
Na manhã seguinte, liguei para ela. Estava ansioso, mas mantive a voz firme.
— Alícia?
— Sim, sou eu. Quem está falando?
— Ramon Castell.
— Ah, sim! Senhor Ramon!
— Não vou tomar muito do seu tempo, então vou direto ao ponto. Surgiu uma vaga de emprego como assistente pessoal. Se estiver interessada, traga seu currículo ao meu escritório às três da tarde. Vou mandar o endereço por mensagem.
— Sério? Eu estarei lá, às três! — A voz dela irradiava felicidade.
— Tenha um bom dia, senhorita.
— Obrigada, senhor Ramon. Bom dia!
Assim que desliguei o celular, percebi que estava ansioso para vê-la novamente. Mentia para mim mesmo dizendo que nossa relação seria puramente profissional. A verdade é que nossas realidades eram completamente opostas. Eu era um mafioso e ela, uma moça linda, honesta e inocente.
Claro que o currículo era só uma formalidade. Eu já sabia tudo sobre Alícia, depois de ter pedido uma investigação completa.
"Nome: Alícia Steves Miller. Idade: 23 anos. Formação: Secretariado Executivo e Relações Públicas. Nasceu na Colômbia e morou lá até os 12 anos. Vive com a mãe. O pai não é presente e a mãe a criou sozinha."
— O resto eu descubro sozinho — murmurei para mim mesmo.
— Chefe, essa moça parece bem inocente. Não entendo o que o senhor quer com ela — comentou Cristóvão, meu braço direito.
— Você não tem que entender nada.
— Tem notícias do carregamento?
— Sim, chega de madrugada. O desembargador resolveu aquele problema.
— Ótimo. Cuide de tudo e me ligue se houver qualquer falha.
— Certo, chefe.
— E o Miguel? Alguma notícia?
— Ainda não.
— Certo. Pode ir.
Às três horas em ponto, pelas câmeras, a vi chegar em meu escritório. Ela estava visivelmente nervosa e, enquanto esperava, percebi que fazia uma oração silenciosa, provavelmente pedindo para ser contratada. Minha assistente ligou avisando, e eu pedi que a mandasse entrar.
Quando ouvi as batidas na porta, meu coração acelerou. Apaguei o charuto e virei o uísque de uma só vez.
— Pode entrar — falei, ajeitando-me na cadeira.
— Boa tarde, senhor Ramon — Alícia me cumprimentou, com um sorriso tímido.
— Boa tarde, senhorita Alícia. Como está sua mãe? — perguntei, tentando parecer cordial.
— Mais ou menos, senhor Ramon.
— Espero que ela melhore logo — estimei. — Está pronta? Podemos começar a entrevista? — perguntei.
— Sim, claro.
Ela me entregou o currículo, mas percebi que havia esquecido as informações dela espalhadas na mesa. Rápido, juntei as folhas e guardei no envelope.
— Senhorita Alícia, já trabalhou como assistente antes?
— Não, senhor. Nunca tive a oportunidade. Quando terminei meu curso, minha mãe ficou doente, e eu precisei cuidar dela. Todos os cargos de assistente exigiam disponibilidade para viajar, o que eu não tinha por causa da doença dela.
Eu poderia usar isso como desculpa para não contratá-la e parar com essa loucura antes que fosse tarde demais, mas não conseguia. Eu a queria por perto. A razão já não falava mais alto; a emoção estava no controle.
— Sempre morou aqui na Itália? — perguntei, tentando prolongar a conversa.
— Não, senhor. Nasci na Colômbia e morei lá até a adolescência.
— Como veio parar aqui?
Ela hesitou. Percebi o nervosismo.
— Minha mãe... recebeu uma proposta de emprego aqui. Meus avós não aceitavam que ela fosse mãe solteira, então um italiano que conhecemos na Colômbia nos trouxe para cá. Eu era muito nova na época.
Algo na história dela não me parecia certo, e eu tinha um faro infalível para mentiras. Alícia estava escondendo alguma coisa. Isso só aumentava minha curiosidade. Eu queria saber o que ela ocultava e, acima de tudo, queria tê-la perto de mim.
— O emprego é seu. Pode começar hoje mesmo. Rebeca vai te passar tudo.
— Sério? Muito obrigada, senhor Ramon! Prometo dar o meu melhor — ela respondeu, os olhos brilhando de felicidade.
Enquanto ela era treinada por Rebeca, não pude deixar de ligar para meu hacker e pedir mais informações. Eu precisava saber o que Alícia estava escondendo e se havia algo mais em sua vida simples que os relatórios não mostraram.
No final da tarde, chovia muito. Apenas Alícia e eu permanecíamos no escritório. Ela havia aprendido rápido, revisado minha agenda e marcado reuniões, deixando tudo em ordem.
O telefone em minha mesa tocou.
— Senhor Ramon, tem um homem aqui querendo vê-lo, mas ele não tem horário marcado — ela relatou.
— Qual o nome dele?
— Miguel Ferrat — ela disse.
— Mande-o entrar — respondi.
Quando Miguel entrou, eu sabia que algo havia dado errado. Ele era meu intermediário e, quando vinha pessoalmente, era sinal de problemas.
— Para você estar aqui, é porque houve algum problema, não é? — perguntei, com um tom grave.
Miguel coçou a cabeça, claramente desconfortável.
— A carga não chegou ao Equador, e o Alex está furioso. Acha que o enganamos.
Aquilo fez meu sangue ferver. Eu tinha rastreado aquela carga. Sabia que havia chegado ao destino.
— A carga não chegou no Equador, o Alex tá enfurecido e pensa que enganamos ele.
— Já ligou para o Sandro?
— Sim, mas só dá fora de área.
— O Mathias estava com ele. Ligou para o Mathias?
— Sim, mas também tá fora de área. O rastreamento da carga mostra que chegou ao Equador, mas o Alex diz que não recebeu a carga.
— Ligue para ele agora! — pedi. Dava para ver as veias saltarem no meu pescoço.
Miguel rapidamente liga para o Alex e coloca no viva-voz. Não demora e ele atende.
— Alô, Alex! — fala Miguel.
— Miguel, já resolveu o problema? — ele pergunta.
— Alex, aqui é Ramon. Nosso rastreamento diz que a carga está no Equador. Não conseguimos contato com os nossos seguranças da carga. Não acha isso estranho? — perguntei desconfiado.
— Está insinuando que eu tenho algo a ver com isso?
— Não insinuei nada. Você que acabou de colocar dúvidas em mim — falo frio.
— Eu não sei da carga. Ela não chegou até mim. Você manda-me outra carga ou devolve o meu dinheiro! — Alex fala irritado, mas a essa altura eu já entendi o que aconteceu. O Alex estava com a carga, e ele não contava que em todas as caixas havia um rastreador. Não sou novo no negócio; fui bem treinado pelo meu pai, e o Alex não contava com isso.
— Uma nova carga está a caminho — falo e desligo.
— Esse desgraçado acha mesmo que sou idiota! Manda uma carga explosiva para o galpão do Alex. Ele quer uma carga? Eu vou dar uma especial — ordeno a Miguel.
— Agora mesmo.
— Explode tudo, não deixa nada! — ordeno.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
iranete teofilo
Está ficando bom demais, continua lendo pra vê no que vai dá. Porque essa história promete né?
2025-03-19
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Lurdes Rodrigues Tavares
ainda mais aqueles que são determinados, românticos com as esposas e que tem pegadas!!!!
2025-04-20
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Heloisa Coca
simples assim vai e explode tudo , há se eu tivesse esse poder kkk
2025-04-12
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