Saí do elevador tirando o distintivo do peito e o prendendo no cós da saia, cobrindo a maior parte dele com o blazer.
Parei de frente para a porta de número 965 e bati, ela se abriu silenciosamente.
O escritório era muito amplo e possuía um mezanino acima da porta, tudo decorado em tons de marrom, dourado e vermelho, mas estava uma bagunça. Haviam livros antigos espalhados pelo chão, que não combinavam com o luxo do local e algumas das diversas relíquias que Cassan Semyonova colecionava desde a juventude, também pareciam fora de lugar.
Semyonova era um amigo muito antigo da minha família, se tornou meu padrinho quando sua família foi assassinada por saqueadores e atuou como meu mentor depois que ingressei na Academia. De certa forma, isso o deixava orgulhoso e o fazia reviver alguns momentos de sua adolescência.
Apesar de ter exatamente o dobro da minha idade, Cassan era um homem de aparência jovem e muito charmoso, e seu cargo como chefe de departamento o fazia ainda mais interessante.
Mas eu estava aqui por outro motivo, pelo menos eu achava. Durante os três anos que participei do treinamento dos sentinelas, depois da Academia, Cassan sempre deixou bem claro que me colocaria à frente de missões importantes, apesar disso eu me esforçava ao máximo, queria merecer. Não só o cargo e as missões, mas sua aprovação era muito importante para mim.
Mas eu não reclamava em ter vantagens por apadrinhamento no Estado.
Eu esperei por alguns minutos até que Semyonova aparecesse, visão periférica alerta, mãos cruzadas nas costas segurando a arma com firmeza.
- Vejo que aprendeu rápido - Cassan surgiu do andar de cima\, descendo a escada ao lado dramaticamente.
Ele vestia um colete vinho sobre a camisa de linho fino, uma corrente de ouro partia da sua cintura para dentro do bolso segurando o relógio na ponta, seu cabelo escuro bem cortado contrastava com a barba por fazer que contornava sua mandíbula larga, os olhos castanhos e gentis se apertaram com o sorriso.
- Não deixei escapar nada\, Padrinho.
Ele veio até mim e me cumprimentou com um abraço frouxo e um beijo em minha bochecha.
- Sinto muito não ter ido à formatura - ele cruzou a sala ignorando a bagunça e se sentou no sofá antes de fazer sinal para que também sentasse - estava no exterior\, resolvendo assuntos urgentes.
- Tudo bem\, meu pai estava lá - eu dei de ombros mesmo que isso me doesse um pouco - Bem\, é claro que ele estava e foi bem rápido.
- Teve honrarias?
- Em todas as matérias\, mas principalmente rastreamento e vigilância.
- Não estou nem um pouco surpreso - ele piscou para mim\, me deixando ligeiramente ruborizada.
- Mas espero que tenha me chamado aqui para mais do que fazer elogios.
- Certamente.
Cassan apanhou um envelope que eu já havia notado em cima da mesa de centro e me entregou, o abri rapidamente rodando o barbante no botão e retirei seu interior.
- Sua primeira missão.
- Isso é um dragão?- minha surpresa era nítida.
- Sim\, precisamos relatar o ocorrido\, tivemos um caso mais cedo essa semana na mesma região e...
– Eu esperava lutar contra os vampiros no burgo.
- Ainda não\, mas quando voltar conversamos sobre isso.
- Está bem. Alguma ligação?
- Não\, apenas coincidência.
- Achei que isso era função do Departamento de Criptozoologia.
- Está certa mas eles se sobrecarregaram com aquela confusão com o Kraken e nos pediram auxílio.
- Imagino\, eu li no jornal\, foram tantas perdas mas relatar uma morte de dragão? - eu abaixei a voz\, desanimada. Eu contava com aquela missão mais que tudo.
- Hei\, Moira - Cassan se sentou ao meu lado e passou o braço por meus ombros de forma acolhedora - sei que não é o que você esperava\, mas muitos sentinelas esperam meses pela primeira missão. Eu estou lhe dando porque confio em você.
- Eu entendo. Farei com perfeição\, padrinho - respondi com um sorriso triste.
- Sei disso\, não estou preocupado.
- Onde aconteceu?
- Na Região das Ilhas\, basta dar uma olhada no corpo e preencher a papelada\, não se esqueça de mencionar que a morte não tem relação com a outra e encerre o caso.
Uma batida na porta e ela se abriu vagarosamente, dando passagem a um garoto bem vestido e de sorriso simpático.
- Com licença\, Sr. Semyonova.
- Ah\, entre por favor.
Eu me coloquei em pé e cumprimentei o rapaz que foi me apresentado como Dominic Ioannou, recém formado na Academia e admitido para o próximo treinamento de sentinelas. Eu o avaliei, pele escura e bronzeada, olhos arregalados como se vivesse assustado, traços do Mediterrâneo.
- Terei um parceiro?
- Um estagiário\, Dominic fará anotações e vai ajudá-la com o que precisar no tempo que estiver em missão.
- Se pedir um café - disse o garoto em tom jovial - eu vou garantir que ele chegue até você quente e doce.
- Obrigada\, mas acho que vou utilizar sua boa vontade com mais inteligência - e me virando para Cassan - mais alguma coisa que eu deva saber?
- Nada importante mas receberá ajuda de um especialista.
- Que tipo de especialista?
- Um criptozoologista. Mas não deve se preocupar.
- Quer dizer\, um licantropo.
Me despedi dos dois homens naquela sala com um sorriso e uma missão em mãos, mas me preocupar era exatamente o que eu devia fazer.
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Atualizado até capítulo 132
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