O "ceticismo" em si mesma

— Eu não o beijei! — Disse Ange respirando fundo. — Eu permaneço com os meus lábios puros! — Ergueu o queixo com uma feição esnobe. — Não os gastaria pela primeira vez com alguém que não gosto!

— Mas gastou o seu primeiro encontro com ele! — Afirmou Kayleen.

— Se tivesse me ligado eu teria te tirado do tédio, Ange! — Alex disse. — Aliás, acho que eu seria uma escolha melhor para ser seu primeiro encontro!

— ... — Ange e Kayleen franziram o cenho para ele, um tanto confusas com aquele comentário.

— ... — Alex coçou a garganta e com a mão atrás da nuca deu alguns passos para trás. — Eu vou nessa então! Tchau meninas! — Disse indo para longe o mais rápido possível.

— O que foi isso? — Kayleen maldava as palavras dele.

— Não veja coisas onde não tem! — Ange se deslocou, passando a caminhar.

— Nunca vai contar para ele, não é?

— Nem sei do que está falando...

— Às vezes eu acho que você merece Ezhan Peralta! — Disse.

— Concorda com o que ele está fazendo?

— Não, mas isso é culpa sua! — Disse Kayleen. — Deveria ter escutado Billie Eilish quando disse: “Você dá uma chance para um feio e ele acha que governa o mundo!”

— Não diga isso, Kayleen! — O sinal tocou as fazendo continuar entrando.

— “Não diga isso, Kayleen!”? — Kayleen voltou a se camuflar com seu boné, óculos e capuz. — Ezhan Peralta toca oboé, Ange! O-BO-É! — Esperava ser óbvia.

— ... — Ange não conseguiu segurar a risada. — Você é muito dramática!

— Não sou! — Elas entraram na sala, sendo as primeiras.

— Não é tão ruim participar da banda do colégio! — Ange sentou-se na cadeira.

— Ange? — Kayleen sentou-se na cadeira ao lado. — Quando foi que perdeu as expectativas em si mesma ao ponto de escolher um cara que toca oboé na banda do colégio? — Perguntou quase estupefata.

— ... — Alex apareceu na sala de aula, acompanhado de outro rapaz do time de basquete. Ele sentou-se em uma fileira encostada a outra parede e interagia com o outro rapaz de forma alegre e descontraída. — ... — Ange observou discretamente aquilo e após, desviou o olhar para sua carteira, respondendo Kayleen em seguida. — Você sabe muito bem que eu já perdi qualquer expectativa em mim mesma!

— Arg... — Kayleen resmungou, revirando os olhos para a autodepreciação de Ange. Mas antes que pudesse lançar outro comentário, o professor entrou na sala.

— Bom dia Classe! — Disse colocando suas coisas em sua mesa. — Hoje falaremos sobre ceticismo!

— Será que quem desacredita de si mesmo pode ser considerado uma pessoa cética? — Kayleen murmurou próximo de Ange, fazendo a mesma respirar fundo.

Durante a troca de sala, Ange foi até Alex aproveitando que ele ainda recolhia suas coisas. Quase nunca ela ia até ele já que seu jeito introvertido e tímido não se dava com a barulhenta galera do basquete que Moss costumava andar.

Ainda restavam poucos alunos naquela sala, sendo um deles, Jake Sharp que participava da aula de filosofia que havia acabado de terminar.

— Alex... — Ange lhe chamou, engolindo seco, agarrada aos seus livros a frente do corpo.

— Oi... — Ele se virou com aquele sorriso simpático de sempre.

— E aí Angel! — Disse Terrence, companheiro de time de Alex.

— É Ange, Terry! — Alex o corrigiu antes mesmo de Ange. — Espera lá fora que já estou indo!

— Beleza! — Disse Terrence. — Falou Angel! — Disse saindo fazendo Angelina revirar os olhos.

— Não liga pra ele! — Disse Alex. — Só existem dois bilhões de neurônios no cérebro dele e ele os usa apenas para jogar basquete e namorar! — Disse colocando um sorriso de lado e a fazendo erguer os cantos da boca timidamente.

— Minha mãe não terá como me buscar hoje, será que teria como me dar uma carona pra casa? — Perguntou ela e eles começaram a caminhar em passos lentos a caminho da saída.

— Nem precisava perguntar! — Disse colocando o braço dele ao redor dos ombros dela, a trazendo para perto dele enquanto andavam. — Óbvio que te levo pra casa hoje!

— ... — As bochechas de Ange estavam imensamente ruborizadas. — Obrigada! — Sorria timidamente.

— Vai ver meu jogo amanhã? — Perguntou retirando o braço dos ombros dela assim que saíram da sala.

— Eu não perderia! — Disse com aquele mesmo sorriso para ele.

— Vou te esperar amanhã lá em... — Disse se afastando de costas, lançando aquele sorriso maroto e logo sendo laçado pelo braço de Terry.

— Vamos meu garoto!

Quando Alex ia sumindo dentre os corredores, Kayleen surgiu por trás dela a dando o terceiro susto do dia.

— A próxima pessoa que me der um susto, eu juro que irei jogar no chão! — Disse Ange se recostando a parede com aquela feição fechada.

— Ei, ei... — Kayleen fingia recuar. — Não faço mais isso!

— Desculpa... — Ange soltou um suspiro e então, Jake passou pela porta da sala.

— ... — Kayleen o observou, prontificando-se a fazer um comentário sobre ele. — Você deveria dar as mãos a Jake Sharp, pois vocês parecem estar na mesma onda depreciativa!

— ... — Ange observou Jake que caminhou de encontro até o próprio armário no corredor. — Ele não está bem? — Perguntou espremendo os olhos, sem entender.

— Como poderia estar? — Kayleen pretendia ser óbvia. — No período passado, Sharp era o capitão do time e namorava a garota mais invejável desse lugar! — Dizia. — Ele tinha todos a sua volta e agora, ele se parece simplesmente com um zero a esquerda!

— E porquê? — Ange perguntou apenas por perguntar.

— Dizem que ele perdeu a posição no time e Bree lhe deu um grande: “hasta la vista” — Afirmou. — Aliás, sabe o que estão dizendo por aí?

— ... — Ange olhava para Kayleen, esperando que ela fizesse menos suspense ao contar suas fofocas.

— Que Alex tomou a posição dele!

— Alex? — Ange franziu o cenho, parecendo finalmente retomar o interesse na conversa. — Se bem que ele realmente é muito bom no basquete!

— E você sabe o que um capitão do time faz no primeiro jogo de basquete do período! — Kayleen olhava com aquela feição de quem tem uma mente muito fértil.

— Faz aquela bobagem de dar o casaco de basquete para a garota que gosta! — Ange apertou o maxilar, desviando o olhar e engolindo seco.

— Bobagem? — Kayleen fez careta, quase tendo um derrame. — Essa é uma tradição quase tão importante quanto o baile e você sabe disso! — Kayleen defendeu. — E meu bem, você tem grandes chances de receber esse casaco!