capítulo 3

Curitiba, Brasil.

Celina entra na sala a procura de Melissa, já tinha uma meia hora que disse que ia ao banheiro e não voltou para a festa de aniversário da pequena Clara.

A encontra sentada no sofá com uma taça de vinho, e puxando mechas do longo cabelo, sinal que estava deprimida e cansada. Ela se aproxima, sabia o que se passava na cabeça da irmã, e se senta ao lado dela.

_Sabe Mel, acho que está na hora de você esquecer o acontecido e refazer sua vida, o tempo está passando, a vida continua. Quem sabe voltar a trabalhar como segurança, Carlos conhece varias empresa de segurança aqui em Curitiba, não precisa voltar a trabalhar em um banco, pode trabalhar em um shopping, o que acha? Você gostava tanto! Ou quem sabe conhecer alguém, passear, quem sabe viajar, voltar a ser a antiga Melissa.

Mel não tinha mais vontade de viver, devia ter morrido com seus filhos naquele acidente. Ela força um sorriso triste.

_Estou bem vivendo assim, mana, não quero mais ser segurança isso ficou no passado bem longe para mim.E conhecer alguém!

Ela sorri amargurada.

_ Você sabe, qual homem vai querer uma mulher que matou os próprios filhos e ainda por cima ficou estéril naquele acidente. Fábio me culpa até hoje pela morte de Roberto e Sabrina.

Os olhos de Melissa se enchem de lágrimas.

Ela bebe o conteúdo do copo. Sempre que essa conversa acontecia, Melissa se sentia morta e seca por dentro.

_Você tem que parar de se culpar pelo acidente, foi o motorista do caminhão que estava bêbado,e causou o acidente, culpa da tragédia e toda dele.

Celina a encara com amor, sua irmã sempre foi batalhadora, e amava os filhos, e a tragédia, não lhe matou o corpo, mas sim sua alma.

_O seu ex era um inseto, sempre foi, tenho certeza que ele queria só um motivo para se separar, sempre percebi o desprezo dele quando o assunto era você, e o acidente aconteceu no momento oportuno, ele só aproveitou da tragédia para pedir o divórcio. Robson pensa como eu.

Merinda a encara com carinho e tristeza.

_Sabe, ele me desprezava em todos os momentos, e quando o acidente aconteceu, já havia semanas que ele chegava tarde e dormia no sofá, eu que me fazia de cega e não admitia que ele estava com outra e que já estava pensando em pedir o divórcio. Sempre soube que ele se casou comigo por que eu engravidei, ele nunca havia me assumido, a todos dizia que eu era sua amiga, eu era a segurança de óculos e desengonçada da agência bancária, como ele dizia, era bom conversar comigo e ficar comigo, só que tinha que ser as escondidas.

Ela passa a língua pela boca seca.

_Então, quando os pais dele descobriu que eu estava grávida o fizeram se casar comigo.Por causa da gravidez fui transferida, e nunca mais voltei para aquela agência, e ele continuou como bancário e depois foi promovido a gerente, você imagina, ele boa pinta com uma mulher como eu, que em todo lugar tinha que fazer uma trapalhada ou quebrar alguma coisa, e que nem bonita eu era, como me disse várias vezes enquanto me humilhava.

Ela ri tristemente.

_Sabe quantas vezes ele me levou para as festas de final de ano do banco ?

Celina negou com a cabeça.

_Nenhuma, eu sabia que ele tinha vergonha de mim, e quando nas raras vezes em que estávamos com os amigos dele, sempre era deixada pelos cantos esquecida por ele. E trouxa como eu era, sempre deixava ele usar meu corpo, quando ele queria, até que engravidei novamente, ele nunca mais me tocou. Nos últimos quatro anos, ele só ia dormir depois que eu tivesse dormindo, e levantava primeiro e saia para a academia para não me ver.

_Por que nunca me contou o que estava acontecendo? Eu teria te buscado, não precisava ter passado por isso.

Celina sentia o coração quebrar ao saber a vida miserável que passou com o ex.

_ Pensei várias vezes, mas eu o amava ou achava que o amava, que fiquei dez anos tentando,e quando fui abandonada no hospital, se não fosse por vocês, não sei o que seria da minha vida, talvez eu não estaria mais aqui.

Ela pega na mão da irmã, tão parecidas e tão diferentes. Cláudia branca, linda e extrovertida, já Melissa, morena, gordinha,tímida e atrapalhada.

_Sabe, jamais esquecerei o que você e o Robson tem feito por mim, os amo do fundo do meu coração.

Celina a abraça com força.

_Jamais vou abandonar você, estarei com você sempre que precisar, pode contar comigo.

Então as duas se entregam as lágrimas de emoção.

_Vamos voltar lá para fora, já vamos cortar o bolo da Clara.

Celina a solta,e se levanta e a puxa pela mão.

_Ja que você não vai me deixar aqui escondida, vamos né.

Melissa diz desanimado limpando as lágrimas e acompanhando a irmã.

❤❤

Semanas depois.

Melissa chegou no horário de sempre na empresa.

Se trocou e se encaminhou para a sessão que trabalhava para passar o cartão ponto.

Desde que se mudou para Curitiba,trabalhava na produção, das 6:30 as 17:00, e nunca faltou um dia sequer.

Fazia algumas semanas que a empresa estava fazendo alguns cortes, mas sempre era funcionáris faltosos ou que dava trabalho.

Mas então percebeu,bons funcionários deixando o local e indo embora.

_Por que eles estão saindo?

Ela pergunta para Camila, sua melhor amiga, as duas trabalhavam lado a lado, a mais de seis anos.

_Ouvi uns murmurinhos que estão,mandando mais funcionários embora, principalmente quem não tem filhos ou dependentes.

_ Mas se estiverem fazendo isso,eu.....

Ela nem terminou de falar quando Fabiano,o supervisor do setor a chama.

_Melissa?

O sangue dela congela. Ela o encara.

_Sim?

_E para você ir ao rh.

Ele lhe diz,seu rosto mostrava tristeza.

_ Está bem, já estou indo.

Ele afirma com a cabeça e sai.

_O que será que eles querem com você,minha amiga?

Camila pergunta confusa.

_ Bom, acho, que não vamos mais trabalhar juntas!

Melissa tira as luvas e o avental.

_ Será que vão te mandar embora?

A amiga pergunta tristemente.

_Provavelmente. Deixe eu ir ver, o que eles querem. Se eu não voltar, passe lá em casa, e leva o pequeno David.

Melissa sorri.

_ Está bem, mas espero que não seja o que pensamos, amiga!

_Eu também.

Se despedindo da amiga, ela caminha até o rh.

🌼🌼

Bate na porta e espera permissão para entrar.

_Entre.

_Bom dia, querem falar comigo?

Ela pergunta ao entrar.

_Sim, infelizmente estamos fazendo corte em todos os setores, e estamos dado prioridade para os funcionários com família e filhos.

Dora, a funcionária do rh lhe diz.

_Então nesse caso, eu sou uma que serei dispensada?

Melissa tenta não mostrar decepção.

_Sim, infelizmente, você é uma ótima funcionária, não perde dia de serviço. Mas como a política da empresa é essa, não poderia continuar com você.

Dora diz tristemente, era um desperdiço perder uma funcionária tão boa.

Melissa respira fundo.

_ Já que não tem outra opção, onde que eu assino ?

❤❤

Voltando para casa, mais uma vez Melissa se vê perdida. Depois de ficar quase seis meses hospitalizada, a irmã cuidou dela, e quando já estava recuperada, conseguiu o emprego na fábrica de massa. Não tinha uma vida de luxo, mas o que ganhava dava para viver sussegada. Seu ex-marido, a deixou sem nada, tudo que conseguiram do nós dez anos juntos, ele havia colocado no nome da mãe dele, e com o divórcio,Melissa saiu com uma mão na frente e outra atrás.

Abrindo a porta do pequeno kitnet, ela entra.

Jogando a chave no pequeno rack, ela se joga no sofá, e coloca o braço sobre o rosto.

_O que vou fazer agora?

Ainda tinha o dinheiro que havia recebido do seguro de vida do antigo emprego onde seus filhos também eram assegurados, mas não queria mexer, teria o dinheiro da rescisão, teria que arrumar um emprego rapidamente.

_Aff, quando acho que vai melhorar, acontece alguma coisa. Será que não posso ter um pouquinho felicidade ou paz. Fabio deve ter me jogado uma praga, para eu não ser feliz só pode.

Melissa bufa desgostosa.

Essa história foi feita com muito carinho e amor. Espero que gostem.

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