Eu não podia adiar mais, precisava de um lugar para ficar, aceitei que não existe o bom e barato e estava procurando por qualquer cu de cômodo que não parecesse um buraco de sequestrador.
- Eu sinto muito Flore, se estiver precisando muito eu posso conversar com a locatária e pedir para você ficar um tempo comigo, mas o lugar é bem pequeno e ela foi bem específica quando disse que queria alugar para uma mulher solteira, sem animais, e de preferência sem um relacionamento - Disse Vic, uma das funcionárias do café onde trabalhei nos últimos meses, que se tornou uma boa amiga.
- Bizarro, e muito fofo da sua parte querer enfrentar o dragão que parece ser sua locatária por mim.
- Você não pode dormir no trabalho? - Perguntou Theo se aproximando com uma xícara de capuccino e colocou na minha frente.
- Obrigada, eu até pensei na hipótese, mas ter que passar oito horas com ele já é cansativo o suficiente, e aposto que me cobraria pra morar lá.
- É um velho rabugento e rico? Dá pra dar o golpe do baú?
- É um pedaço de mal caminho rabugento e rico.
- Que sonho.
- Ha, infelizmente o que tem de beleza tem de insuportável.
- Típico, mas se for como nos romances você vai descobrir o passado trágico dele e vocês vão começar a se envolver e se apaixonar e ai vai descobrir que ele na verdade é um amor de pessoa e vocês vão viver ricos, digo, felizes para sempre.
- Foi longe - Riu Vic.
- Pra caramba - Ri e terminei o café - Muito obrigada pelo seu tempo, tenho que ir agora.
- Qualquer coisa eu te aviso - Vic acenou.
- Olhos no prêmio - Theo mandou um beijinho e eu sai do café acenando.
Hora de ir pro trabalho.
De certa forma, Theo tem razão, deve haver um motivo para o senhor Duarte ser daquele jeito, no fundo ninguém é completamente ruim não é?
*
- De cima a baixo - Disse o senhor Duarte.
- De cima a baixo? - Eu ergui uma sobrancelha.
- Exatamente.
Olhei para a lancha na garagem, uma lancha? Por que cargas d'água tinha uma lancha no meio de São Paulo? Por que ele trouxe a droga da lancha para longe de qualquer resquício de mar?
- O que isso tá fazendo aqui?
- Minha irmã me deu.
- Tá, e o que ela tá fazendo aqui?
- Ela conseguiu num leilão, no Chile.
É uma lancha Chilena, mas o que ela tá fazendo aqui?
- O senhor pretende usa-la?
- Não, mas ela veio de muito longe e está imunda.
Eu vou limpar a lancha para ela ficar parada na garagem no meio da cidade grande?
- O senhor não tem mais o que fazer não?
- Não, mas você tem - Ele cruzou os braços e foi embora.
Respirei fundo e olhei para a lancha.
Era muito bonita, e inútil, parece alguém.
*
Minhas costas estralaram quando levantei depois de limpar a droga da lancha chilena, agora estava impecável pra ficar parada na garagem.
Fui levar as coisas para o quartinho da limpeza e escutei a campainha, eu já estava trabalhando ali a dois meses e nunca tinha escutado esse som, nem sabia que tinha campainha.
Fui abrir a porta quando o senhor Duarte veio correndo escadas abaixo fazendo um sinal para eu ir embora, tarde de mais, girei a maçaneta.
Abri a porta e um deus grego estava parado em frente a ela, alto, loiro, olhos castanhos e um sorriso que misericórdia.
- Vera! - Ele travou e soltou uma risada - Opa, você não é a Vera.
- Claro que sou, botox e um corte de cabelo fazem maravilhas não?
Ele riu, ai ele riu. Ficava ainda mais bonito rindo.
- Nunca pensei encontrar outra pessoa nessa casa.
- Vera tirou umas férias, estou cuidando das coisas por hora.
- Que surpresa que Marcus te aceitou.
- Quem disse que aceitou?
- Não te pago pra ficar de papo furado, pra cozinha - O senhor Duarte bufou, parado no meio da sala com os punhos cerrados.
- Com licença - Disse indo na direção oposta da cozinha, me escondi no quartinho da limpeza embaixo das escadas e fiquei olhando pelo buraco da fechadura.
- Como você está Marcus? - O bonitão perguntou.
- Não interessa, por quê está aqui?
Ele é realmente um doce.
- Não venho com boas notícias.
- E alguma vez veio?
- O capitão encerrou a investigação oficialmente, disse que estamos gastando tempo e recursos de mais com algo que não tem mais o que procurar.
O bonitão é policial? Ele deve ficar um pitel de uniforme.
- Meus recursos e o seu tempo que eu pago, não está encerrado até eu disser que está.
- Eu só vim trazer a notícia, se quiser contestar terá que ir falar diretamente com o capitão. Ficar preso no passado não te ajuda Marcus, digo isso como seu amigo.
- Amigo é o cacete, eu estou te pagando, então espero resultados, não a sua piedade.
Os dois ficaram em silêncio alguns instantes, o policial gato limpou a garganta.
- Claro, não é o desfecho que eu gostaria, mas acabou Marcus.
- Todos vocês são malditos corruptos, sugando meu dinheiro quando nunca tiveram a intenção de procurar nada!
- Está falando besteira.
- Suma da minha frente!
Mais alguns segundos de um silêncio perturbador, então o policial saiu e fechou a porta, o senhor Duarte xingou e subiu as escadas.
Saí do quartinho e escutei algumas coisas serem quebradas lá em cima.
Eita.
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Atualizado até capítulo 95
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