Um ninho de cobras

Anael

Duas semanas depois de meu encontro inesperado com o Rafael tive que retornar a nossa base para poder procurar por ele, já que não responde quando o chamo.

Aparentemente meus três irmãos desapareceram e eu não fui informada sobre isso. Suspiro frustrada ao adentrar meu quarto, estou tão confusa, não sei o que acontece comigo.

Não consigo tirá-los da minha cabeça, não suporto velos sair e tocar outras mulheres, toda vez que os vejo com elas sinto uma grande raiva queimar dentro de mim.

Mas não posso fazer nada.

Essa foi minha escolha, essa é minha decisão e fardo. Terei de carregar sozinha. Estou perdida em meus pensamentos, que não escuto a batida em minha porta até que seja tarde demais e o primeiro no comando de "Vossa majestade" entra em meu quarto parecendo radiante e  isso não é bom sinal.

- O mestre Uriel ordena que compareça à sua sala oval imediatamente.

A voz do subordinado do Uriel faz que um calafrio de mal agouro descer pela minha coluna.

Agora sim percebo que foi um erro retornar aqui. Eu sabia que era um ninho de serpentes sedentas pelo poder, gananciosos como sempre para tomar o que é meu por direito, aquilo que conquistei em minhas milhares de batalhas, Minha legião. Infelizmente tive que vir sozinha em busca do Rafael já que o mesmo bloqueio que me impedia de falar com o Miguel agora também me impede de falar com ele, isso não é bom porra.

Não consigo alcançar quais quer um deles Isso nunca aconteceu ...

Pensando bem... sim, o Gabriel vive me bloqueando, mas os outros ?

Eles nunca o fizeram.

- Já estou a caminho Griffin.

Respondo friamente, antes de me virar para acompanha-lo, saindo do meu quarto o sigo passando pelo corredor estreito indo em direção ao grande salão oval, ao me aproximar sinto meu coração acelerar, pois sei o que me aguarda quando passar pela porta, isso aconteceria de qualquer modo, vir aqui foi um erro e esse erro vai doer pra caralho.

Sei que desobedeci novamente, mas não posso machucar inocentes, não posso matar milhares por culpa de um, muito menos depois do que descobri o que aqueles dois shiftters são para mim.

Ao chegar em frente a porta respiro fundo e deixo escapar lentamente baixinho , o Griffin passa a minha frente e abre a porta e me deixa passar, esse ato de cavalheirismo você pode enfia-lo no seu rabo sádico de merda, penso com amargura. Tomando cuidado em manter minha expressão em branco ao entrar na "cova dos leões ". caminho lentamente até o centro da sala, mantendo minha cabeça erguida e olho para um dos os membros do conselho celestial, onde encontro o chefe da primeira linha de soldados alada Ituriel , que me olha com pesar.

Paro de encara-lo e olho para Uriel, o filho da put* mais sádico que existe a porra do executor do reino celestial. Que está sorrindo cruelmente para mim, sim estou na merda mas continuo impassível no meu lugar esperando minha sentença.

Ouço a porta se fechar lentamente há minhas costas, sinto a presença de mais dois soldados que entraram tão silenciosamente quanto possível no recinto.

endureço minha coluna e cerro os dentes enquanto aguardo.

- Desobedecendo novamente Anael? seus queridinhos não estão aqui hoje para aliviar sua sentença, desta vez você irá obter a punição total, não há como escapar de seu castigo desta vez. Uriel se vangloria, rindo como se estivesse desfrutando de uma piada. Logo em seguida Griffin está a minha frente, jogando algo em meu rosto. sinto meus olhos queimar, fraquejando caio de joelhos uma dor agonizante invade meu corpo, sinto como se estivessem me rasgando em pedaços.

Não tenho ideia do que seja este pó que me jogaram, mas não aguento meu próprio peso e desabo no chão aos pés dele, em completa agonia e gemendo de dor.

- Engraçado, não é? O que um pouco de pó de demônio pode causar a um arcanjo "puro" , uma dor incrivelmente forte, perda total dos sentidos, e a minha parte preferida...

a perda temporária dos poderes de cura.

Pó de demônio ? Onde ele arranjou isso ? Por que tem este efeito sobre mim ? Nunca senti nada igual, estou entorpecida mal posso respirar sem sentir dor.

Mas a única coisa que posso pensar é neles. Daniel e Lucas são por eles que retornei aqui, preciso obter a ajuda de meus irmãos para protegê-los. Mesmo que receba minha punição, vou levar tudo o que ele fará comigo com orgulho, mas tenho que garantir a segurança deles primeiro. Antes de perder todas as minhas forças, mando uma mensagem para Azazel.  

"Proteja-os com tudo que tem e mate qualquer um que ousar tocar em meus homens, isso é uma ordem                                                                                                                                            "Sim, senhora!"

Ouço o sussurro de sua concordância, pouco antes de perder o restante das minhas forças. Tenho que aguentar firme não posso falhar, não com eles.

Uriel se ajoelha à minha frente e fala calmamente.

- Veja como os poderosos caem, veja bem, quanto mais forte o arcanjo maior será a reação, isso será divertido. Para nós dois tenho certeza disso. Quanto mais pó de demônio entrar em contato em você, maior será o tempo em que seus poderes não irão funcionar e isso incluindo sua auto regeneração , isso não é uma notícia maravilhosa? Ops.... Não para você não é querida ?

Ele sussurra em meu ouvido.

- Chega de conversa Uriel ! A leve para que tenha seu castigo e a deixe em paz .

Fala Ituriel irritado .

- Griffen, Atimiel peguem-na e a levem para as masmorras .

Ordena Ituriel que sai da sala seguido pelos demais membros do conselho.

Sinto ser içada e carregada por dois pares de braços, tento abrir os olhos conseguindo apenas entre abri-los. vejo-me sendo levada pelo mesmo corredor, até as escadas onde eles sobem, rapidamente e cada solavanco eleva mais meu nível de dor, tento segurar um gemido mas ainda deixo escapar um pequeno som entres os dentes, não tenho certeza de quanto tempo passou, mais sou acordada com barulhos de correntes. sinto meus pulsos e tornozelos queimarem , mordo meu lábio até sentir o gosto de sangue, não darei o prazer de me ouvir gritar, posso até sentir o cheiro e escutar o chiado de minha carne queimando, ele deve ter envenenado as algemas com mais pó de demônio.

- Quer se fazer de durona, eu gosto disso...

Não se engane Anael, só estou começando.

Você deveria ter acabado com aqueles vermes, deveria ter exterminado aquelas criaturas desprezíveis, como havia lhe ordenado, eles ameaçam nossa existência, e agora minha querida você irá pagar por sua desobediência e eu irei desfrutar de cada segundo.

Abro os olhos lentamente, mas tudo o que vejo é escuridão, o filho da puta queimou os meus olhos, foda-se!  com os sentidos confusos percebem que estou algemada a parede, de costas para o Uriel.

Tento levantar minha cabeça, mais está tão pesada assim como o resto do meu corpo, frustrada respiro fundo e me preparo para o que está por vir.

- Nos deixem.

Uriel ordena aos seus subordinados que saem rapidamente do calabouço .

- Bem, agora que estamos sozinhos, vamos começar com a diversão, por enquanto iremos com quinhentas chicotadas.

Alguns segundos se passam antes de sentir a primeira chicotada, soltando um grito de pura agonia que fere minha garganta e ao longe ela escuta a voz debochada do Uriel.

- Agora seria a hora certa em dizer que assim como as correntes e algemas , o chicote também está envenenado com pó de demônio asseclas ? Humm... Não?

Acho que meu ponto alto desta década foi esse seu grito,  tem muito mais de onde saiu esse não é ?...

Ele solta uma risada cruel , antes de continuar a chicotear-me.

Não posso segurar os gritos de dor que vem a cada chicotada, essa dor é insuportável sinto meu sangue quente escorrer dos cortes abertos em minhas costas.

Não sei quanto tempo irei ficar acordada, estamos na 342 e já não tenho mais voz ou lágrimas , só pequenos sussurros e gemidos onde antes eram gritos agonizantes , meu sangue agora forma poças aos meus pés e respirar fica mais difícil a cada segundo.

"Daniel, Lucas ..."

chamo-os mentalmente antes de me entregar ao esquecimento.

Estou semi consciente e sinto cada pedaço de meu corpo doer e não aguento ficar de pé por conta própria, a única coisa que me mantém de pé são as correntes em meus pulsos.

A única coisa que me conforta é saber que estão seguros, Azazel cuidará bem deles, mesmo se mandarem outro carrasco ele não será páreo contra ela. Ninguém vai machuca-los, ela vai matar sem qualquer remorso quem se atrever a tocar um fio de cabelo deles.

Penso com a determinação renovada.

Essa é minha nova missão protege-los...

Fico repetindo e repetindo mentalmente, tentando me manter sã .

Não importa o quanto de dor me inflige o Uriel.

EU. VOU. PROTEGE-LOS

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