Saije estava trancado em seu quarto. Ele havia ignorado todos os chamados para descer para o café da manhã e até para o almoço. Estava mais do que decidido a ficar entre aquelas quatro paredes a todo custo. Não pensava em dar o gosto a ninguém e só estava pensando em que mais fazer para poder incomodar aquele Alfa de quarta, como ele o chamava.
Cruzou os braços e deu alguns passos pelo lugar pensando na melhor forma. Já não podia usar a janela porque tinham colocado grades. Estava mais do que furioso porque o tinham literalmente encarcerado e jamais, dos cinco dias que levava ali, tinha recebido alguma chamada de seus pais.
Formou punhos e quis bater a cabeça porque tinha fome, tinha sede e estava entediado.
Aproximou-se da porta para abri-la de forma lenta e olhou pelo corredor, mas ninguém havia e acreditou que tinha o caminho livre. Deu alguns passos porque não sabia muito bem para onde ir para chegar à cozinha, devido a que a mansão era enorme. Não sabia quantas habitações tinha com exatidão, mas de certeza que podiam dormir umas cinco famílias inteiras ou inclusive mais.
Desceu as escadas e o irritava mais o facto de que haviam alguns quadros que eram mais do que hermosos. Queria atirá-los ao chão, mas estavam demasiado altos e não os alcançava.
Ao chegar ao primeiro piso, olhou para todos os lados e começou a notar que o lugar estava demasiado vazio. Ficou de pé duvidoso uns segundos porque, como outros dias anteriores, as criadas que estavam encarregadas dele já as teria atrás de si repetindo-lhe o mesmo de sempre:
—Seu marido encontra-se a trabalhar.
—Seu marido disse que se comporte.
—Seu marido disse que deve comer para estar saudável.
—Seu marido disse que não tente escapar porque lhe vai ir muito mal.
—Seu marido disse que pode sair, mas não sozinho.
Estava mais do que cansado das coisas que lhe diziam cada vez que dava um passo, mas agora essas mulheres insuportáveis, como ele as considerava, não estavam por lado nenhum. Engoliu saliva e, ao escutar uns ruídos, começou a caminhar para o lugar de onde provinham. Viu uma mesa enorme e longa onde bem podiam caber vinte pessoas, mas somente estava ocupada por Jaehan.
Ele tomava um café de forma lenta enquanto estava lendo o jornal. Gostava de inteirar-se das coisas que sucediam na cidade, mas não gostava da televisão, assim que sempre devia ter um jornal na mão. Passou de folha de maneira lenta e seus olhos seguiram movendo-se por cima das palavras que ia lendo até que alçou o olhar e Saije deu um salto. Ele não disse nada, só o observou uns segundos e seguiu lendo como se não houvesse ninguém de importância. Bebeu outro gole de café e observou o relógio que costumava levar em seu pulso esquerdo sem falta alguma. Odiava chegar tarde às suas juntas, reuniões e coisas sobre seu trabalho, assim que sempre devia andar com um relógio.
O Omega o viu demasiado sério com seu cabelo negro. Levava um fato azul escuro e se via grande apesar de que estava sentado, mas isso não deixou que o fizesse sentir intimidado. Jamais queria ver-se débil ou temeroso ante os Alfas, assim que tomou uma profunda respiração para perguntar:
—Onde está sua asquerosa servidão?
O Alfa terminou de ler o parágrafo onde havia uns pequenos comentários sobre um matrimónio em segredo, naturalmente, era o seu.
Logo, dobrou o jornal com cuidado e o deixou no chão.
—A despedi —contestou e terminou de beber o que lhe restava de seu café.
Saije ficou olhando com enojo por acreditar que lhe estava tomando o pelo.
—O quê?
—Vi que és demasiado caprichoso, assim que, para que tudo seja como tu queres, então não haverá ninguém mais que tu —disse enquanto se punha de pé.
—Estás louco ou quê?
—No outro dia mencionaste que havia pó por alguns lados, assim que terás todo o dia para limpar cada recanto da casa.
—O quê?! Não sou teu empregado, idiota! —soltou furioso e desejou ter algo nas mãos para atirar-lhe na cara.
—Também mencionaste que a comida era asquerosa e que tu só devias comer comida de primeira categoria, assim que a cozinha é toda tua. Claro, isso se é que sabes utilizá-la —se burlou Jaehan, mas se conteve as ganas de soltar um sorriso.
Podia ver que Saije era mais pequeno que ele, mas que a quantidade de enojo que podia haver em seu corpo era demasiado. O viu com seu rosto vermelho e como quase lhe saía fumo pelos ouvidos. Tinha mais que claro que, se tivesse uma arma, lhe teria disparado até esgotar todas as balas. Seu cabelo rosado já podia ver que se tornava vermelho fogo.
—Acreditas que não sei cozinhar?! Posso fazer o que quiser! Não sou um inútil como tu, maldito doente!
O viu passar por seu lado e quis subir em suas costas para enforcá-lo uns segundos, mas sabia que não tinha muitas oportunidades de ganhar. Olhou para todos os lados até que viu na mesa que havia um vaso com umas rosas que estavam recém cortadas.
—Chego por volta das sete. Sê uma boa esposa e tenha-me a comida pronta.
—Eu a terei, mas com veneno!! —exclamou com força atirando-lhe o vaso.
Jaehan já havia fechado a porta, assim que só impactou nela. Ficou parado uns segundos escutando-o como repreendia sozinho e como gritava milhares de palavrões enquanto amaldiçoava seu nome de todas as formas possíveis e até em outro idioma. Naturalmente, estava fazendo uma birra. Começou a afastar-se quando o escutou tentando abrir a porta e, ao dar-se conta de que estava fechada com chave, começou a gritar com muitas mais ganas.
Havia uns homens que costumavam cuidar a área sempre e ficaram assombrados porque Saije gritava obscenidades que nem sequer eles conheciam. Olhavam-se uns com outros e sentiram um pouco de lástima por seu chefe por ter que suportar alguém como ele.
—Não a tem fácil, chefe —comentou um enquanto caminhava a seu lado.
—Não me interessa tê-la fácil. É unicamente por um contrato. Quando se finalize, não o voltarei a ver nunca mais.
—Ainda bem que você é um pouco paciente.
—Sim, suponho que a paciência é minha maior virtude.
A viagem ao trabalho foi lenta. Revisou alguns correios no caminho e notou que, a notícia de seu matrimónio, estava saindo à luz de forma rápida. Haviam se casado em segredo onde só havia estado a família, mas, como sempre, os meios televisivos se inteiravam de tudo de qualquer forma com tal de ter algo de que falar para ter mais trabalho e dinheiro.
Ao descer em sua empresa viu o nome do apelido de sua família no alto: EMPRESAS TECNEC BRENNAN LIMITADA.
Especializavam-se em diferentes coisas e a marca BRENNAN era uma das mais vendidas, já fosse em telefonia ou computação. Estavam expandindo seus terrenos e seus investimentos lhe funcionavam às mil maravilhas. Jaehan era o CEO da principal, mas seus outros dois irmãos estavam começando a encarregar-se de outras, além de outros integrantes de sua família: tio, mãe e pai.
—Felicidades por seu casamento!
—Felicidades, CEO Jaehan.
—Alegro-me por seu casamento!
—Espero que tenha uma linda vida matrimonial!
Escutou as felicitações em silêncio e unicamente dava um assentimento de cabeça em modo de agradecimento, mas não podia evitar pensar no facto de que o ter uma linda vida matrimonial era muito difícil quando, com quem havia se casado, de certeza que lhe estava preparando comida com veneno e até pensando em como queimar a casa sem importar-lhe o morrer na tentativa.
—Obrigado a todos. É algo que se devia manter em segredo, mas creio que já todo o mundo o sabe —supôs, reflexionando em como ia controlar os meios e as coisas que lhe iam vir em cima.
—Em segredo? Você é um dos CEO's mais famosos do último tempo, além é um Alfa dominante com uma reputação irrepreensível, é normal que todos estivessem pendentes de sua vida.
Não disse nada mais, só entrou em seu escritório para começar a revisar alguns papéis.
—Permissão —falou sua secretária que entrava com uns papéis.
Era uma Omega que levava trabalhando com ele mais de três anos e sempre se esforçava em dar o melhor de si com o único propósito de obter algo a câmbio do Alfa, mas agora, com a notícia de seu recente e secreto casamento, não estava nada feliz.
—Magdalena, que bom que vieste. Leva estes papéis a Rouse, diz-lhe que há alguns pontos que estão mal. Deixei-lhos marcados para que os corrija o mais rápido possível.
Ela assentiu tomando os papéis e entregando-lhe outras coisas.
—Sinto muito, chefe. Rouse leva um mês já aqui, mas ainda não se acostuma. É um tanto lenta.
—Não te preocupes, todos quando somos novos em algum lugar costumamos cometer erros. Só dize-lhe que, se tem alguma consulta, que me a faça para que os erros se possam evitar.
—Por suposto. Necessita algo mais?
—Nada, podes retirar-te.
Tecleou algumas coisas em seu computador, mas deteve-se ao ver que já haviam passado três horas. Pensou que haviam sido horas suficientes para que a Saije lhe passasse o enojo e marcou o número da casa.
O telefone que estava pendurado na parede tocou e tocou por muito tempo, mas Saije não fez nem o mais mínimo intento em tomá-lo. Estava mais que furioso ainda e lhe dava exatamente igual tudo.
—Esse maldito Alfa. Mas, se assumiu que me pode ganhar, está muito equivocado. Vou deixar este asqueroso sítio brilhante —assegurou.
Tinha tudo o necessário para começar a limpar, nada mais colocou um lenço em seu cabelo para evitar que se lhe vá para os olhos e começou a limpar tudo o que seus olhos viam. Podia ser caprichoso, vaidoso e insuportável, mas não por isso era alguém inútil. Sabia fazer muitas coisas sem problema algum e era bastante rápido, assim que, quando terminou de limpar toda a casa inteira, ainda lhe restavam três horas para que Jaehan chegasse.
Sentiu-se mais que orgulhoso porque tudo cheirava bem e quase podia ver seu lindo e hermoso reflexo no chão.
Logo, dispôs-se a ir para a cozinha para ver que coisas tinha e começou a cozinhar tudo o que sabia sem deter-se. Tinha farinha até pelos olhos e queimou-se mais de um dedo, mas não se deteve jamais. Ordenou a mesa para deixá-la elegante, quase como a mesa que só a realeza deveria ter. E não só porque estava ordenada senão porque havia todo o tipo de comida.
—Vamos a ver quem perdeu —sussurrou quando se sentou no sofá e, em menos de dez minutos, estava dormindo desparramado.
Quando se escutou a chave sendo introduzida na porta, Saije seguia dormindo. Tinha o sono pesado, assim que não despertava nem por um terremoto.
Jaehan abriu a porta quando viu tudo brilhante. Olhou para todos os lados porque até o mais mínimo lugar reluzia. O aroma que havia no lugar era doce e não sabia muito bem a que cheirava. Deu uns passos pensando que, em qualquer momento, Saije ia se atirar sobre ele para atacá-lo pelas costas com uma faca. Deu uns passos dentro, mas tudo estava demasiado silencioso até que escutou um pequeno ronco.
Olhou naquela direção para vê-lo dormindo no sofá. Ainda tinha o pano em seu cabelo e um pequeno caminho de baba pela comissura de seus lábios. Além de farinha por todos os lados.
O observou uns segundos porque dormindo se via inocente e indefenso, mas quando estava desperto era muito diferente. Engoliu saliva e desviou o olhar para encontrar-se com a comida que havia sobre a mesa. Não sabia se realmente ele havia cozinhado tudo aquilo ou não, mas não podia negar o facto de que se via tudo delicioso. Aproximou-se um pouco para olhar mais de perto quando viu uma nota.
BOA SORTE ESCOLHENDO A COMIDA QUE NÃO TEM NADA DE MAL, TOLO.
ATENCIOSAMENTE: TUA LINDA ESPOSA.
Soltou um suspiro meditando em que provar. Viu uns waffles dando por facto de que ninguém se atreveria a danificar uns deliciosos waffles. Tomou um pedaço de um com um garfo para levá-lo a sua boca e ao princípio não sentiu nada, quando, depois de mastigá-lo uns segundos, o picante lhe chegou até a alma.
Saije só seguiu dormindo como um pequeno anjinho enquanto que Jaehan estava lavando sua boca com água porque sentia que o picante lhe chegava até as entranhas.
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Atualizado até capítulo 89
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