Certo dia, Rosemarie trabalhando à noite na escola, foi a última a deixar o local com sua bolsa de alça única sobre o ombro. Despediu-se do segurança.
— Vai embora a pé?
— Sim, a minha casa não é longe.
— Mesmo assim, a esta hora qualquer distância é perigosa.
— Não se preocupe — sorriu, sentindo-se grata pela preocupação dele. — Hoje não é a minha primeira vez. Além disso, sou esperta, estou bem preparada.
Ela abriu a bolsa e mostrou o spray de pimenta.
— Coitado de quem tentar algo.
Sorrindo, confirmou: — Pois é.
— Até amanhã então!
— Até!
Ela saiu olhando para os dois lados da rua, respirou fundo e então prosseguiu ao desejado destino.
No meio do caminho Rosemarie já sentia os músculos, principalmente das pernas, clamarem por um sofá ou por uma cama em que pudessem ser estendidos e relaxados sem a preocupação de se andar à noite escura por ruas com baixa iluminação pública. Um poste elétrico aqui e outros acolá sem lâmpada alguma, pois queimavam e não eram trocadas, ou ocorria de um, ou mais vândalos quebrá-las.
— Meu celular!
De repente, lembrou-se de tê-lo esquecido sobre a mesa da sala dos professores. O dispositivo acabou por ficar sob alguns papéis e, por isso, foi esquecido. Regressou a metade do caminho percorrido. O segurança a princípio achou estranho, mas depois engraçado, quando a viu partir novamente, dessa vez, com o pertence esquecido.
"Linda e esquecida, será que ainda retorna hoje?", murmurou consigo mesmo, sorrindo ao fechar o portão pela segunda vez.
Caminhou então apressada, pois a hora já era alta e, contudo, já deveria ter chegado em casa, mas quem nunca passou por uma eventualidade dessa?
Ela passou pelos mesmos postes elétricos sem iluminação e, estranhamente, um deles piscou, atraindo o olhar dela, que deixou de fitar a motocicleta se aproximando.
"Irmão?" pensou, animada de que não precisasse mais andar, pois cansada estava e exausta não desejava mais caminhar.
— Calada, não se mexa ou vai levar chumbo!
Ouviu soando naquela escuridão, pois o piloto da motocicleta desligou o farol e a lâmpada do poste ficou só pelo piscar, já que não acendeu. Naquele breu sinistro, ela tremeu-se e, nervosa, apanhou a arma de autodefesa.
O “garupa” foi quem a abordou de perto enquanto o outro o aguardava a uma pequena distância.
— Passa essa bolsa pra cá! — puxou o pertence das mãos dela e então levou uma dosagem do gás ardente no rosto. — Ai, caralho!
A bolsa caiu no chão. Ela teve a oportunidade de sair correndo, mas suas pernas hesitaram e, pela demora de poucos segundos, foi agarrada pelo assaltante de olhos ora semicerrados, ora fechados devido à dor picante.
— Vadia, insolente! — deu-lhe um tapa no rosto.
Ela deixou o spray cair no chão e, empurrada, também caiu no limite dos pés. Ele apanhou o objeto e nela lançou o gás ardente. Com sangue no olho, só parou porque o colega o chamou a atenção.
— Vamos embora, mano, antes que alguém apareça...
— Calma aê! Essa vadia aqui não mexeu com qualquer um, mexeu foi com o Zé da Perna Preta.
E, tossindo no chão, ela tentava entender o que mais queria de si e o porquê ele estava a culpá-la pelo ocorrido. Além de assaltante, era arrogante e desequilibrado, só não sacou uma arma porque nem ele e nem o colega portava uma naquele momento.
Ele largou o spray aos pés dela e, recolhendo a bolsa do chão, notou o farol de outra motocicleta se aproximando. Era o irmão dela, que, vendo aquilo, já foi parando, descendo do veículo e deixando-o ali, ligado, partiu de imediato para cima dos assaltantes.
O piloto recebeu um forte soco nas costas que até perdeu o ar por um momento e o Zé da Perna Preta levou uma rasteira, caiu no chão e recebeu um feroz chute no rosto. Sangrou nariz e boca.
— Irmã! — agachou-se ao lado dela.
Continuava ela tossindo, como se estivesse a ter uma crise de tosses.
— Malditos, o que fizeram com ela? — vociferou contra eles e, se ela não o tivesse segurado pelo braço, teria partido novamente contra os assaltantes, que, ainda sentindo as dores dos rápidos golpes, saíram às pressas dali, ameaçando retornar.
— Ninguém faz isso com o Zé da Perna Preta e fica por isso mesmo! — gritou a metros de distância. — Eu sei onde vocês moram!
Foram embora com tanto medo das habilidades marciais do irmão mais velho de Rosemarie que nem o objetivo da abordagem levaram.
Ele recolheu a bolsa da irmã e a ajudou a sentar no banco da motocicleta. Dali, levou-a para o hospital e, ao amanhecer, foram à delegacia fazer o boletim de ocorrência.
— Foi por volta das onze e meia da noite. Dois homens numa moto, e um deles dizia ser um tal de Zé da Perna Preta — explicou o irmão de Rosemarie ao delegado, já que ela, ainda amedrontada, não queria nem sequer tocar no assunto.
— Queixa registrada, meu bom homem — respondeu o delegado, pedindo que ele assinasse o boletim da ocorrência. — Pronto! Iremos agora mesmo encontrar esses dois meliantes que conseguiram fazer mal a uma bela inocente.
— Espero que os prendam antes que façam mal a mais alguém.
Assentindo com a cabeça, o delegado assistiu aos dois irmãos deixando a sua sala, onde permaneceu mais o assistente.
— Pegue estes papéis.
— E o que eu faço com eles, senhor? Devo arquivá-los...
— Nem pensar! Destrua isso, enquanto vou ter com aquele bocó do Zé uma conversa séria.
E ocorreu que naquela manhã o delegado da cidade foi até a região próximo à casa de Rosemarie, pois era lá onde se situava um conjunto de barracos, nos quais viviam algumas famílias nas condições mais precárias de toda a pobre redondeza.
O delegado avançou com a viatura pela viela entre os barracos, tendo ciência de que já haviam mais de dez rifles apontados em sua direção e munição suficiente para penetrá-lo da cabeça aos pés. Desceu com apenas uma pequena pistola presa à cintura e um olhar raivoso. Prosseguiu rumo ao barraco central.
— Zè, seu desgraçado! — gritou, batendo várias vezes na porta de metal. — Abre esta porta, porra!
No interior da moradia, Zé da Perna Preta compartilhava o tubo do prazer, a fumaça da paz, o gás que a todos proporciona um instante de paz e amor.
— Quem diabos está me chamando?
— Tem um policial lá fora, chefe.
— E por que ainda não salpicaram o corpo dele?
— Porque é o seu irmão mais velho.
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Atualizado até capítulo 31
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