Deixando o tempo passar

Após um ano no internato voltei para casa, quando cheguei no sítio fui surpreendida com a notícia de que a família do Augusto havia ido embora sem deixar meios de contato.

A única lembrança que tenho é do seu olhar dentro dos meus na noite que ficamos juntos. Entro para o meu quarto e choro tanto...

É uma dor que aperta o peito e um nó na garganta que me sufoca.

Nunca mais fui a mesma, todos os dias esperei por uma ligação ou a surpresa dele atravessar a minha janela.

Fico sentada todas as noites a sua espera. Assim foi toda as férias de verão.

Fiz o vestibular para medicina e passei em quarto lugar, meu pai deu uma festa em comemoração, tive uma esperança de que eles pudessem comparecer nesse momento tão importante na minha vida.

Por todos esses anos eu esperei vê-lo em algum lugar da capital, bares, restaurantes até mesmo em baladas.

Às vezes tenho lembranças do beijo e da noite em que ele entrou pela janela. Foi mágico, nunca mais ninguém tocou em mim, não quero quebrar a promessa que te fiz.

Ficou só as lembranças e a solidão, um vazio no peito e uma sensação de perda. Ele nem deve mais lembrar de mim ou da minha existência.

Sinto saudades do Geraldo, apesar dos assédios e provocações eu lhe devo a vida da minha flor, pois ele estava no lugar certo e na hora certa. Até mesmo do seu beijo a força, nunca ninguém me beijou gostoso como ele, foi o melhor beijo da minha vida.

Aquele beijo na beirada do lago me causou muitas noites mau dormidas por causa da dúvida e incerteza que martelava minha cabeça. Confesso que algo mudou dentro de mim depois disso.

A dois anos eu faço faculdade de medicina, depois de muito tempo eu resolvi me dar uma oportunidade de me envolver com alguém.

Conheci um colega na faculdade e começamos a namorar.

Carlos, uma pessoa doce e maravilhosa, mas ele é mais velho que eu e já está no último ano fazendo residência. Ele é experiente e eu não quero um relacionamento sério com ninguém.

Infelizmente com o tempo eu fui esquecendo meus sentimentos de adolescente e vendo que não passou de uma ilusão. Algo que era tão lindo não passou de uma aventura. Carlos me ajudou aos poucos a esquecer essas aventuras de criança.

Saímos para almoçar em grupos, pois temos que voltar rapidamente para o hospital escola.

Vamos atravessar a rua, o sinal abre e as buzinas tocam desesperadas, olho para o que está acontecendo e meus olhos cruzam no olhar do Geraldo que está bloqueando o trânsito. Carlos me puxa e me beija :

_ Sua louca, vai ser atropelada aí. kkk

Olho para trás para vê-lo novamente e ele se foi, sinto uma tremura em meu corpo e um cala frio passa em meu corpo.

_ Você está bem? Parece assustada.

_ Não, eu estou bem! Só foi o susto dos carros.

Voltamos para o hospital escola e o resto do dia aquela imagem dele no carro não saiu da minha cabeça, o gosto da sua boca e a maciez dos seus lábios não saíram da minha cabeça. Seus olhares e indiretas, parecia que eu ouvia sua voz a todo tempo.

Como vou revê-lo, como posso lhe encontrar?

Esse sentimento ficou por muito tempo me martirizando, foi até que terminei com Carlos, não tinha como dar certo pensando em outra pessoa.

Durante os três anos seguidos da faculdade eu atravessei aquela rua com esperança daquela sena se repetir e eu poder fazer diferente.

No dia da minha formatura sou surpreendida com Carlos que me pede em casamento.

Carlos

A frente dos meus familiares e amigos ele não me deixa saída a não ser aceitar.

E assim começa um tempo na minha vida que eu gostaria de esquecer.

Fui deixando as coisas tomarem um rumo sem relutância e quando dei por mim eu já estava na semana do meu casamento.

A única certeza que tenho é que estou fazendo a vontade do meu pai, da Paula e do Carlos menos a minha vontade.

Nem mesmo meu vestido foi escolhido por mim, quem escolheu foi minha sogra, tudo tem que ser feito conforme a sua vontade.

Estou saindo do shopping onde fui comprar umas roupas para a viagem de lua de mel e me deparo com o inusitado. Guto está aos beijos e abraços com uma moça aparentando ser mais velha que ele. Fico o observando ao longe de onde não pode me ver e mesmo em público ele está com a mão por baixo do seu micro vestido vulgar.

Fico enojada com a sena deplorável deles na praça de alimentação. Ele não é nem a sombra do rapaz por quem fui apaixonada.

Só de saber que ele fez isso comigo eu sinto nojo, quero distância desse homem que ele se tornou.

Saio decidida a mudar o rumo da minha história , mesmo não sendo apaixonada por Carlos, mas o que posso fazer faltando tão pouco para o casamento?

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