Capítulo 4 Fernando

Quando meu pai disse que iríamos embora, minha mãe tentou de tudo para que ficassemos, ela não queria ir, minhas irmãs e eu também não queríamos ir! Não queria deixar a Mili, os meus amigos, a nossa cidade.

Eu já tinha traçado o meu futuro junto com a Mili, nos conhecemos com 11 anos e desde o primeiro dia, não nos desgrudamos mais. Meu primeiro beijo foi com ela, aconteceu tudo de um jeito desajeitado, mas foi bom, pelo menos para mim foi.

Desde pequeno eu dizia que queria ser médico, que eu queria salvar vidas.

Quando eu conheci a Mili, ela dizia que queria ser médica para ajudar as pessoas pobres.

Durante as nossas conversas na adolescência já tínhamos decidido que faríamos faculdade juntos e que trabalhariamos juntos.

Eu não tive tempo de me despedir dela, de sentir o seu cheiro, de lhe dar um último abraço, um último beijo, eu até tentei, mas meu pai foi irredutível.

Lhe enviei diversas cartas e nunca obtive resposta de nenhuma delas, até que eu parei de escrever. Eu chorei muitas vezes com saudades dela, do seu cheiro, da sua alegria. Com ela eu podia ser eu, eu não precisava ter medo.

Decidi focar nos meus estudos, afinal a minha prioridade era passar em medicina e eu passei na melhor faculdade da minha cidade. Fiz a minha especialização na Europa em cirurgia da cabeça.

Eu estudo e trabalho muito para ser o melhor no que eu faço. Me tornei um homem duro, mais racional, de poucas palavras.

Conheci minha noiva em um jantar beneficente, ela é uma mulher incrível, faz tudo para me agradar. Iremos nos casar daqui a 6 meses.

Eu não esperava encontrar a Mili assim, foi muito bom trabalhar junto com ela, vejo a profissional incrível que ela se tornou.

O parto que realizamos juntos, me mostrou como ela estava segura em cada movimento que ela fazia. Pqp! Ela continua linda, o mesmo sorriso, o mesmo olhar meigo.

Mas a dor e a mágoa continuam presentes no meu coração, ela me abandonou, nunca respondeu uma carta sequer minha, achei que ela gostasse de mim da mesma forma que eu gosto, ops não, que eu gostava.

Ela tenta brincar comigo, me perguntando se sempre carrego a minha mala, eu apenas disse que estava de plantão, não lhe dei espaço para que o assunto se prolongasse.

Ficamos em um silêncio que me incomodou bastante, não era assim que eu tinha sonhado com o nosso reencontro.

Pousamos e ajudamos no transporte dos bebês e da mãe, ela é tão cuidadosa, tão atenciosa.

Por que ela tem que ser tão perfeita?!

Encontrei com a Tamy e fomos buscar as nossas malas, enquanto aguardamos, sinto que sou observado, e tinha razão a Mili estava com os olhos em direção a minha mão e da Tamires.

Arqueio a minha sobrancelha e fico lhe encarando, ela me olha e sorri travesso e me encara também. Tento desvendar o que se passa em seus pensamentos.