Bernardo Almeida, 34 anos
Assim que cheguei na empresa, fui direto para meu escritório, depois do dia de ontem, não tirava da cabeça a garota tímida na minha frente, por várias vezes me perguntei o que ela tinha que me chamava tanto atenção.
Sentei na cadeira e encarando a bagunça da minha mesa, não tinha porque esperar na decisão. Elise era exatamente a assistente que precisava, profissional, nada de insinuações, se vestia como uma executiva e podia ver a sinceridade nela enquanto falava, além de conhecer o pai que era muito competente. Ela tinha um rosto tão angelical, que chegava a aparentar inocência. Os olhos mal me encaravam, era surpreendente ver a timidez da garota. Mal podia crer que ainda existisse vergonha em uma moça.
Peguei o telefone e liguei direto para Luana.
— Fala, Beny!
— Chama a srta. Elise Alves no meu escritório, já tomei minha decisão. Pode entrar com a promoção, e me trazer os contratos.
— Certo, vou deixar tudo certinho e depois eu chamo ela.
— Okay!— desliguei o telefone.
Encarei os dois diplomas emoldurados na parede, meu sucesso se resumia a esses dois pedaços de papel. Foi ainda na faculdade que desenvolvi um método único para fabricar peças de automóveis, e a partir dali, cresci sem parar, até os dias de hoje.
A foto dos meus pais abraçados, sempre me fazia bater aquela saudade, tinha apenas 14 anos quando os perdi num trágico acidente de ônibus. Junto dos meus avós paternos, ajudei a criar os meus irmãos mais novos, Renato foi para o Japão num intercâmbio aos 16 anos, e nunca mais voltou, já meu irmão caçula, ficou comigo até recentemente. Peguei o retrato na minha mesa, o mais recente que tinha, o que sobrou da família, há cinco anos atrás, eu, meu irmão Carlos, minha vó e meu vô, antes de sofrer um derrame fulminante e me deixar incumbido de cuidar da minha avó, que hoje, com o Alzheimer em estágio avançado, não me reconhece, nem mesmo fala comigo há dois anos, mas ainda assim, a visito quase todos os dias.
O vazio se tornou parte da minha vida, primeiro meu avô, depois meu irmão que casou e se mudou para o Rio Grande do Sul, gerenciar uma concessionária de carros. Minha vó precisei internar numa clínica especial. O peso de uma vida cheia de mulheres, os compromissos sérios que levei, todos faltavam o amor, e o interesse das minhas namoradas, eram em algo material, não em quem sou. Toda solidão que a riqueza me proporcionou, caiu nos meus ombros ultimamente, e estou desacreditado do amor, de ainda ter a chance de encontrar alguém que complete minha vida, para constituir uma família.
Ter desejo, não é o mesmo que ter esperanças de encontrar sua alma gêmea, se é que isso ainda exista. Trinta e quatro anos, e ainda um solteirão que não sabe o que é amar verdadeiramente.
Encaro as minhas conquistas na parede, e sempre me pergunto, do que adiantou? Se no fim todo dinheiro e riqueza que adquiri, só me trouxeram solidão e prazer temporário.
Não que não me orgulhasse da posição que cheguei, vim do nada, filhos de um casal simples que vieram do interior do Paraná, avô e pai pedreiro, avó e mãe diarista... mas que eram felizes, desfrutavam de um amor profundo e genuíno, e não ter muito dinheiro nunca foi um problema, tinham a família. Agora eu acabei no oposto, com riquezas que meus pais jamais sonharam, e totalmente sozinho, porque até as mulheres que costumava ter na minha vida, abandonei frustrado. Hoje, tudo que tenho de amizade verdadeira, é Rogério, meu melhor amigo que faz parte da diretoria da minha empresa, e estamos juntos desde a faculdade. Também sua esposa, a Luana, que trabalha como chefe da administração, o filho deles, o Daniel, que o tenho como meu sobrinho de sangue, e já estou doido para saber qual será o próximo.
Uns minutos de ligações, outros perdidos procurando determinados contratos, olhar emails, ver minha agenda semanal... parte do que faço nos meus dias. Isso quando não surgem uns imprevistos na produção, na qual não tenho paciência de esperar os técnicos, e acabo me envolvendo com a mecânica, que é a minha verdadeira paixão.
Perdido na minha própria bagunça, Luana abre a porta anunciando a srta. Elise.
— Pode entrar! — falo tentando dar uma arrumada, pelo menos na minha mesa, mas não adiantou muito.
Levantei os olhos, e lá estava a garota mais tímida que vi na minha vida, olhos baixos, postura ereta e esbelta, talvez fosse os salto altos que calçava, cabelos cacheados divinamente caídos sobre os ombros, perfeitamente alinhados, vestia uma saia midi verde militar, uma camisa creme, totalmente profissional, uma executiva perfeita!
A maquiagem suave e discreta, não escondia o rubor de suas bochechas, as mãos brincavam uma com a outra e pareciam trêmulas. Seria eu, o causador de todo esse temor dela? Será que aparento ser um homem muito frio e arrogante?
Me levantei.
— Bom dia, srta. Elise!— me aproximei e estendi a mão.
— Bom dia...— ela respondeu tímida, aceitando meu cumprimento.
Apertar sua mão só confirmou o que vi, a mão tão delicada e pequena se perdeu na minha, estava suada e trêmula, como imaginei. Ela me transmitia uma energia boa, que fez meu coração acelerar no peito.
Senti os dedos de Elise mexendo na minha mão, então me dei conta do tempo que segurava sua mão e a soltei, voltando ao meu lugar.
— Sente-se, senhorita.— falei mostrando a cadeira na minha frente.
Graciosamente ela se sentou. Olhei o meu notebook, Luana havia enviado todos contratos, e digitado minha proposta. De soslaio, observei ela olhando para minha mesa, enquanto com as mãos pousadas sobre seu colo, batia os indicadores um no outro freneticamente.
— Quero te oferecer uma proposta. Aceitaria o cargo de assistente?— Os olhos dela finalmente encontrou os meus, meu coração errou as batidas com a intensidade daquele olhar de mel que brilhava. — Bom, eu te chamei por que resolvi contratar você como minha assistente. Mas para não ser precipitado, eu vou primeiro fazer um contrato de três meses, para ver como você se sai.
Ela me encarou atentamente, um sorriso espontâneo surgiu em seus lábios, me fascina e por uns segundos, esqueço do mundo. Piscos os olhos, forçando minha mente a voltar ao planeta terra, o sorriso perfeito, mais parece um sonho meu.
— Ainda tenho que acertar alguns detalhes com você, ok?
— Claro, tudo bem.
Tenho que admitir, ela tem uma aura diferente, que me atrai. Respiro fundo e retomo o controle. Falei sobre os novos horários, horas extras, para não se preocupar com a faculdade caso ela precise sair mais cedo por causa das provas.
— Vou precisar que me acompanhe nas reuniões, eventos e viagens de negócios, mas sempre vai ser antecipadamente informada. Você vai cuidar da minha agenda, cuidar de notas fiscais e emissões de contratos de serviço. Meu celular de trabalho vai ficar nos seus cuidados, terá acesso aos meus e-mails, rede sociais e também as ligações do meu escritório. Vou te ajudar no começo, pode me perguntar qualquer coisa que tiver dúvida. A Luana também vai te ajudar e treinar você, até que se sinta capaz de realizar tudo sozinha.
Elise me olha atentamente e não parece se intimidar com o novo serviço.
— Você vai ser minha primeira assistente, estou aprendendo também. Acredito que sabe o papel de uma assistente, não é mesmo?— disse sorrindo, e dei uma piscada, ela ficou vermelha na hora. Por algum motivo gostei de ver essa reação e deixei escapar um meio sorriso.
Ela assentiu, e sorriu envergonhada. E eu só sabia admirá-la.
O que estou fazendo?
Bernardo se concentra no trabalho! Ela é uma funcionária, como qualquer outra.
Será?
— Vou triplicar seu salário, e quando for efetivada, podemos fazer alguns reajustes. Vai ter um carro a sua disposição, para resolver questões da empresa. Você me disse aquele dia que vêm com seu pai trabalhar, né?
— Sim...
— O horário não vai bater, pode cadastrar o cartão da empresa no seu App de Uber, e vai ser outro benefício que vou te dar. Agora, quero saber o que tem a me responder?— indaguei apoiando as mãos na mesa e me inclinando para encará-la melhor.
Elise tomou uma postura firme e séria, mas não conseguiu esconder o seu jeito delicado e tímido.
— Eu aceito. Espero estar a altura do que o senhor deseja para uma assistente.— respondeu olhando ligeiramente para os meus olhos.
— Ótimo srta. Elise! Mas preciso que comece logo, se possível amanhã. — falei um tanto imperativo.
— Por mim, tudo bem. Trabalho é trabalho. — ela encolheu os ombros.
— Excelente! Preciso que passe no RH, leve os contratos que vou te dar. — falei digitando no notebook e permitindo a impressão do contrato.— Fale para marcarem seus exames médicos para amanhã cedo.— concluí me levantando e pegando os papéis na impressora.
Assinei onde me cabia, e mostrei onde ele assinava. Por incrível que pareça, ela leu tudo, numa velocidade que me surpreendeu.
— Está contratada. Espero que sejamos bons parceiros! — exclamei estendendo a mão.
— Obrigada pela oportunidade! Não vou decepcionar, levo meu trabalho á sério, e com muita responsabilidade.— ela falou enquanto segurava minha mão.
A eletricidade que corria com o toque de nossas mãos, era assustadora e gostosa.
Ela soltou a minha mão e se encaminhou a saída. Observei-a ir até a porta.
O que ela tinha de diferente? Tudo! No entanto, não saberia explicar o quê...
Talvez seja coisa da minha cabeça, já me enganei tantas vezes, mas ela parece inocente, pura...
Com a mão na maçaneta ela se virou, e me olhou timidamente.
— Boa tarde, senhor!
— Boa tarde, srta. Elise.
Suspirei profundamente. Ela tinha exatamente tudo que eu achava não existir mais em uma mulher.
De onde ela veio?
Seria um anjo que caiu do céu?
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Atualizado até capítulo 99
Comments
RuthdaSilvaFerreira
❤✌🏼
2024-12-05
1
Francis Damasceno
Os personagens masculinos da nossa querida e competente Autora são maravilhosos.
2024-05-22
13
Katia Regina Manoel
Gostei do CEO , não é um garoto de 25 anos .
2024-05-08
1