Um ano se passou, mas o rosto de Taise sempre ficava com as bochechas avermelhadas ao ver o cunhado, pois na mesma hora que o via, relembrava o dia em que o viu pelado.
Se já não lhe fosse vergonha demais isso acontecer consigo toda vez que o via, Taise sentia-se também chateada ao sair da universidade LC e o avistar lhe aguardando diante do carro da família.
— Não saia do carro, idiota! — reclamava Taise toda vez, lançando a própria mochila sobre ele. — Entre logo no carro antes que os meus amigos o vejam.
No entanto, ao longe, um grupo de alunos repetentes ao avistar Miguel, indagaram-se em vozes elevadas:
— Aquele não é o mudinho que estudava aqui há um ano?
— É ele mesmo!
— Vamos lá então cumprimentá-lo como sempre fazíamos!
O antigo valentão também estava entre os membros desse grupo, pois ele foi um dos alunos que não conseguiram ser aprovados nas matérias finais. Contudo, Taise apressou Miguel a pôr o carro em movimento.
Partiram então da universidade LC antes que o grupo dos antigos ofensores de Miguel alcançassem o veículo.
Durante a viagem, Taise pôs-se a desabafar o próprio aborrecimento.
— Não venha mais me buscar — disse ela, cruzando as pernas seminuas. — Espero que hoje tenha sido a última vez disso.
Taise trajava uma curta saia e uma blusa de gola com laço na base, brincos de angolas e uma pulseira de múltiplas angolas.
— Pois prefiro andar a pé até em casa do que ser envergonhada por você na frente de toda a universidade LC. — Ela virou o rosto na direção da janela ao lado e, vendo-se refletir no vidro, bufou e soltou mais desabafos. — Eu queria muito entender o porquê a minha irmã se casou contigo. Com tantos homens no mundo, foi escolher logo um mudo.
Miguel permaneceu calado. Sua garganta não fez força alguma, tampouco coçou com desejo de dizer algo. Continuava, pois, com a mesma mudez, mas para controlar os impulsos de reação que lhe afligiam o corpo de dentro para fora, ele teve de concentrar toda a sua força nas próprias mãos, pressionando ainda mais o volante, com tanta intensidade que, ao avistar um buraco na estrada, fez o carro desviar rapidamente, ocasionando com que Taise batesse o rosto sobre o vidro da janela e quase quebrasse o fino nariz.
— Cuidado, idiota! Se não sabe dirigir, não dirija!
Um pouco de sangue escorreu do nariz dela. Apesar do sangramento, quis ela continuar com as reclamações, mas teve de interrompê-las, pois Miguel fez o carro balançar ainda mais, indo de um lado a outro e aumentando a velocidade.
— O que está fazendo? — questionou Taise, tendo dificuldade em manter a cabeça erguida para que o sangramento cessasse. — Pare de fazer isso!
Só quando veio a cair de lado sobre os bancos e erguer os olhos próximo da janela entreaberta, Taise notou haver um carro ao lado tentando retirá-los da rodovia.
Era o veículo do antigo valentão cheio de companheiros que compartilhavam do mesmo desejo maligno. Ouvia-se do carro dele soar um bando de vozes sem sincronia, um ruído cheio de ofensas, que Miguel ignorou, com exceção da voz do próprio valentão, desafiando-o:
— Quem passar primeiro pelo próximo túnel vence, e o carro do perdedor deverá ser destruído. O que me diz? — questionou, gargalhando bastante. — Desculpa, esqueci que você é mudo.
Apesar do sarcasmo, Miguel acenou com a cabeça a aceitação do desafio. Assim que os companheiros do valentão puseram avista bastões de ferro, Taise exclamou:
— Ficou maluco, idiota! Se eles vencerem, vão destruir o carro predileto do meu pai!
Miguel manteve-se firme e confiante no desafio. Aos poucos ele já não parecia mais o mesmo homem mudo sem reação. Olhou brevemente o relógio de pulso e, relembrando outras palavras do mestre, pisou fundo no acelerador.
“Você tem um espírito muito forte, meu aprendiz. Todavia, quando despertar de vez o seu poder interno, não esqueça quem deve sempre estar no controle.”
E assim, deram início a uma louca corrida, em um trânsito razoavelmente movimentado. Ambos os carros se deslocavam de uma faixa a outra da rodovia, ora na mão certa, ora na contramão.
Miguel fez uma ultrapassagem tão arriscada que Taise sentiu o próprio coração dobrar o tamanho de seu seio acentuado. Além disso, ela quase desmaiou, pois, a adrenalina foi tanta que ela ficou tonta e, por isso, perdeu a noção de tudo por um instante ao ponto de, ao passarem pelo mencionado túnel, não saber dizer quem havia vencido.
O valentão parou o carro no acostamento logo à frente do veículo desafiado. Miguel permaneceu sentado ao volante, e Taise, sentada nos bancos detrás, retomou a boa consciência, ao passo que se assustou com a quantidade de homens que saíram do carro à frente, com um bastão de ferro cada.
— Eles tão vindo pra cá… Vão destruir o carro do meu pai!
Miguel balançou a cabeça em sinal de negação a ela e, encostando o dedo indicador no para-brisa, apontou o veículo perdedor, que, ao sinal de Miguel, começou a ser destruído pelos próprios colegas do valentão chorando aos milhares de “Nãos”.
Contudo, desafio era desafio para os portadores dos bastões cumprindo o que foi combinado entre os desafiantes.
Vencida a corrida, Miguel retomou o veículo a rodovia em destino a casa da família Sousa, uma residência de um amplo jardim, que um dia fora muito verdejante, mas dia após dia mais rosas murchavam e mais folhas das árvores podadas perdiam sua clorofila, tornando-se amarelecidas ou alaranjadas antes mesmo da chegada do outono.
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Atualizado até capítulo 102
Comments
Karina Kaley
autor eu gostei muito do seu livro, você está de parabéns continue pf
2023-01-16
8
misty
gostando até aqui
2023-11-28
0
Imaculada Abreu
começando a ler
2023-10-29
1