Passamos vários minutos imóveis depois de ouvir a notícia. O mundo está de cabeça para baixo. Estou apavorada, mas tentando ser racional.
- Rafa, acho melhor a gente tomar um banho e colocar roupas secas, além de limpar onde quer que tenhamos molhado.
Quando se vira na minha direção percebo pelo seu olhar as várias perguntas que se formam na sua cabeça, são as mesmas que estão na minha. Tomar banho vai resolver? o que esse vírus faz? Ainda estava claro quando pegamos a chuva, isso quer dizer alguma coisa? A gente vai ficar bem?... Tento não pensar nas interrogações que surgem uma atrás da outra. Apenas respiro e digo:
- Ficaremos bem. Vamos tomar um banho, enxugar a água e ver as outras notícias sobre o que está acontecendo. Não vamos nos precipitar, tá bom?
Não sei como consegui, mas falei de forma controlada e suave, isso visivelmente o acalmou e a mim também.
- Tá bom. Obrigada, Anne. Manter a calma é crucial e acabei fugindo dela um pouco.
- Vai ficar tudo bem. Pode ir primeiro, tá?! Vou lavar as mãos e pegar as roupas para você.
- Grato.
Ele tomou banho primeiro e eu fui logo em seguida, enxugamos e fomos desinfetando onde tinha água da chuva e ficamos de frente a TV tentando entender tudo o que estava sendo dito pelos jornais de notícias. Aparentemente era um vírus mortal que tinha atingido o mundo inteiro. Pelo que entendi choveu aqui e em todos os países do mundo ao mesmo tempo e por todo lugar também está escuro como a noite. Entre os sintomas do vírus estão febre, dor de cabeça, falta de ar e desmaios... Agora são 14:30 da tarde, mas o céu se mostra como se fosse 20:00 horas da noite. A chuva não parou desde que começou e não se ouve nada na rua. Alguns cientistas já pegaram amostras da chuva, mas aparentemente é uma chuva normal. O contágio do vírus é pela chuva e por contato físico. Já há óbitos e vários indícios que se o vírus estiver em você, você vai morrer independente da idade ou de como está a sua saúde. Minha cabeça está girando em um ciclo infinito de alguma coisa que não consigo nomear. Olhei para o Rafa e quis abraçá-lo, acho que partilhamos o mesmo sentimento agora. Mas da maneira que estou, tenho medo que o meu abraço não seja benefício. Então esqueço. Lembro que não almocei.
- Você já almoçou?
Ele fica em silêncio por um estante tentando entender o que eu estou tentando fazer. Vejo confusão em seu rosto. Até eu estou um pouco confusa. Como eu posso falar de comida, sendo que acabamos de ouvir que provavelmente, muito provavelmente iremos morrer?! Nossa, eu sou louca! Tento me explicar.
- Desculpa, eu só senti um pouco de fome e de forma espontânea pensei que você também não tivesse comido e perguntei sem analisar o que estava saindo da minha boca.
- Tudo bem. Só fiquei um pouco atordoado com a pergunta, ainda estou tentando processar o que acabamos de ouvir. Eu ainda não comi, quando nos encontramos eu tinha acabado de sair do trabalho e estava indo para casa justamente para comer.
- Ah, então vou fazer alguma coisa pra gente. Você gosta de macarrão com queijo?
- Claro! Posso te ajudar.
- Seria ótimo.
Enquanto fazíamos o macarrão não conversamos muito, acho que a nossa cabeça ainda estava em tudo o que aconteceu num intervalo tão curto de tempo. Ele estava pensativo e eu também. Terminamos de comer e ficamos sentados no sofá ouvindo várias outras notícias e a quantidade de óbitos subindo progressivamente.
- Rafa, acho que precisamos de um tempo dessas notícias para tiramos nossas próprias conclusões, você não acha?
- Acho que sim. Não sei se aguento ouvir mais a quantidade de mortos.
Desligo a televisão. E pretendo fazer o mesmo que costumo fazer quando preciso pensar. Vou até a cozinha faço um chá pra gente, pego dois lençóis e sento no sofá entregando para ele um lençol e uma xícara. Me sinto segura com ele, então peço que se enrole e comece a beber o chá. Também digo que ele pode me dizer o que está pensando, se quiser.
- Estou assustado, não sei muito bem o que dizer.
- Eu sei, me sinto do mesmo jeito. Sendo sincera nunca esperei muito da vida, eu nem sabia se ela era para mim, mas vendo agora que posso perdê-la, me arrependo. Eu deveria ter feito mais coisas.
- Eu também. A única coisa que se passa na minha cabeça é arrependimento.
Ele diz essa frase com tanta tristeza que meu coração se parte só pelo som de dor que essas palavras formam. Quero perguntar de quê ele se arrepende, mas não consigo. Eu não sinto que tenho esse direito. Quando levanto e estendo a mão para pegar a sua xícara, toco levemente a sua mão e me assusto, tanto que a xícara cai no chão e se quebra. Não ligo para xícara, não ligo que estou pisando nós cacos de vidro e cortando o meu pé, não ligo que ele é um estranho, apenas vou na direção dele e coloco a mão na sua testa... ELE ESTÁ ARDENDO EM FEBRE!
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Atualizado até capítulo 22
Comments
Sueli Alves
desculpe autora, ainda não entendi essa parte da chuva ☔ onde eu estava que não me lembro somente uma dúvida
2022-12-11
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