A Bela Adormecida E O Médico Encatado Capítulo 4

Meu celular desperta e o toque me remete à lembrança ruins, mexo nas configurações do celular e mudo o toque para não relacionar aquele à um dos piores momentos da minha vida. Tento canalizar todas as forças que tenho dentro de mim, faço minha oração da manhã e levanto para ir trabalhar contra minha vontade. No caminho para o restaurante eu vou torcendo para não encontrar o Allan lá e pensando no que vou dizer aos tios dele que são como pais para mim e se preocupam muito comigo, dependendo do que o Allan disse eles vão vir me perguntaram o que aconteceu... Ao abrir a porta do restaurante eu olho em volta e não vejo Allan, no mesmo momento Gilberto tio dele abre um sorriso e vem ao meu encontro.

Gilberto

— Bom dia querida tudo bem? Está melhor? Allan me disse que você teve um mal estar ontem, ficamos preocupados.

Gilberto (tio do Allan)

Camila

— Bom dia Gilberto, não foi nada de mais, tive uma dor de cabeça forte e fiquei indisposta, me desculpe não ter avisado o senhor e ter mandado o recado pelo Allan, é que eu realmente não estava me sentindo bem!

Gilberto

— Que isso menina, não tem problema nenhum, se você não estiver 100% ainda, não precisa trabalhar tá bom! Vai para casa descansar.

Camila

— Já estou me sentindo melhor, consigo trabalhar normalmente hoje, obrigada por se importar.

Gilberto

— Você sabe que você e o Allan são como filhos para mim, importo-me muito com vocês! Falando nele, sabe do Allan hoje? Não passou aqui para tomar café como faz todos os dias.

Camila

— Talvez tenha perdido a hora hoje!

Gilberto

— De novo? Ontem ele já chegou tarde no serviço, acordou tarde e de ressaca por ter ido no aniversário daquele amigo dele, o Michael. Sabe Camila eu não gosto muito daquele rapaz, o Allan nunca foi de beber e desde que começou a andar com esse Michael tem feito muito isso. Preciso ter uma conversa séria com o Allan e acho que você devia conversar com ele também pois você é namorada dele, é bem capaz que te escute melhor do que a mim!

Camila

— Então seu Gilberto... Eu e o Allan brigamos feio e eu pedi um tempo para ele. Talvez seja até por isso que ele não veio aqui hoje, para não me encontrar.

Nisso a tia dele escuta e vem em nossa direção.

Ana Teresa

— Eu não acredito que vocês brigaram de novo Camila! O que o Allan fez dessa vez? Você é uma menina tão doce, educada, eu não sei o que ele quer da vida dele. Precisa colocar juízo na cabeça do Allan, Gilberto! Uma menina como a Camila não se encontra em qualquer esquina, ele tem que aprender a dar valor!

Ana Teresa (tia do Allan)

As palavras de Ana Teresa mexe muito comigo e começo mesmo contra a vontade chorar.

Gilberto

— Olha o que você fez minha querida, a Camila está chorando!

Ana Teresa

— Hó! Me desculpe Camila eu não queria te fazer chorar!

Camila

— Não! Tudo bem! Não foi culpa sua Ana, eu só estou um pouco chateada. Me desculpe pelas lágrimas.

Ana Teresa

— Venha até a cozinha beber um copo de água e me conte o que meu sobrinho fez para você, conversar faz bem!

Camila

— Obrigada Ana, mas tenho que abrir o caixa, os clientes já estão chegando.

Gilberto

— Não querida, pode ir! Eu fico no caixa! Tem certeza que estão bem para trabalhar hoje? Vai para casa descansar.

Camila

— Muito obrigado dona Ana e seu Beto, mas eu prefiro trabalhar, assim ocupo minha cabeça e paro de pensar em coisas ruins, vai me fazer bem trabalhar.

Falo isso com um sorrisinho forçado e vou em direção ao caixa, mas a verdade é que todas as vezes que precisava tocar no nome do Allan era como se estivesse enfiando uma faca no meu peito. O dia passou rápido, e trabalhar realmente me ajudou a parar de pensar no que tinha acontecido, o restaurante tinha um movimento grande e eu não tinha muito tempo para pensar em outras coisas a não ser me concentrar no trabalho. Não vi o Allan hoje e os dias foram se passando e ele não apareceu. Me dediquei ao trabalho e ao estudo todos os dias para não pensar no que me machucava. Ia trabalhar, saia as 15 horas, ia até a biblioteca estudar e depois para a faculdade e assim fazia todos os dias até o final de semana. No Sábado acordei e fui trabalhar, chegando no restaurante lá estava ele, sentado tomando café falanto com aquela mesma moça atraente de novo. Eu entrei e no mesmo momento olhou na minha direção com um semblante abatido, fingi que ele não estava lá e fui para o caixa. Ele entendeu o recado e não chegou perto de mim, logo depois ele foi embora. Trabalhei o dia todo e fui para casa, geralmente de sábado à noite eu costumava sair com o Allan, e foi estranho não ter com quem me programar para sair, pois, era o único momento da semana que eu tinha para distrair. Tomei o meu banho, coloquei uma roupa confortável e fui ver um filme. Nisso a Juliana chegou com a Talita.

Juliana

— Ha não! Hoje é sábado e eu não vou deixar você ficar enfiada nesse quarto assistindo filme triste e chorando por macho! O pessoal todo da faculdade vai para o barzinho hoje, e você vai com a gente! Vamos, levanta, tira esse pijama horroroso e se arruma quero você linda.

Camila

— Oi para vocês também meninas! E eu não estou afim de sair hoje não, podem ir, vou ficar aqui com meu filme e meu pijama horroroso mesmo.

Talita

— Ha amiga vamos com a gente, vai ser legal, e é bom você distrair a cabeça, termino de namoro é difícil, mas logo você supera, vamos vai?

Talita não sabia o real motivo do meu término com o Allan, e não sabia o quão eu estava machucada.

Talita

Juliana

— Isso mesmo. Vai levanta você precisa sacudir essa poeira e dar a volta por cima Camila, vamos é uma ordem!

Juliana fala puxando os meus braços e tentando me levantar do sofá.

Camila

— Juh por favor, respeita minha decisão vai!

Juliana

— É... não! Vamos Camila! Levanta esse defunto do sofá.

Como sei que ela não vai deixar-me em paz, levanto e vou arrumar-me e as duas dão pulinhos de alegria por ver-me levantar. Vamos á um barzinho universitário que tem aqui na cidade e é bem popular, estavam la muitas pessoas da faculdade. Sentamos em uma mesa com alguns meninos que são amigos da Juliana e da Talita e começamos a beber. No início eu não queria beber nada com álcool mas de tanto insistirem acabei tomando uma capirinha e algumas cervejas, quando me dei conta estava rindo que nem uma boba de todas as graças que os meninos faziam. A todo momento entrava e saia gente conhecida da faculdade no barzinho, e alguns iam até a nossa mesa conversar com a gente. Derrepente eu olho para porta e me deparo com o Allan e Michael entrando. Assim que ele entra nossos olhares se cruzam e ele fica parado me olhando, era nítido em seu rosto que ele não esperava me encontrar ali. Saio do transi de ficar olhando para ele e cutudo a Juliana que estava ao meu lado.

Camila

— Juh vamos embora!

Juliana

— Porquê amiga? Você está se divertindo tanto!

Ao percorrer o olhar no bar para se virar para mim ela vê o Allan na porta.

Juliana

— Há tá, entendi! Viu você não tem que ir embora por que ele chegou, continua se divertindo e mostra que não precisa dele para ser feliz.

Camila

— Você tem razão!

Apesar achar que a Juliana estava certa eu não fiquei mais a vontade com a presença dele no mesmo lugar que eu. Vejo que eles vão até o fundo do bar e saem da minha vista. Continuei bebendo e tentando fingir que ele não estava ali. Não deu muito tempo eu olhei para porta e vi eles indo embora, mas antes de sair Allan olha pra mim, e saí. Sinto meu telefone vibrar, e quando vou ver era uma mensagem dele.

Allan

Mensagem: Eu sei que o que fiz com você não é facil de perdoar, mas vejo que nem está tentando né? Eu não imaginava te encontrar em um lugar desse, ainda mais bêbada e se divertindo com um monte de homens. Seu desejo é uma ordem Camila, eu vou te esquecer com prazer não me procure mais.

Aquela mensagem acabou comigo, não era para me sentir abandonada, não era para me sentir triste, muito menos culpada por estar alí, quem me machucou foi ele, quem abusou de mim foi ele, se eu não estava mais junto com ele a culpa era dele. Mas saber que agora era definitivo e não era só porque eu não queria ver ele e sim porque ele também não queria me ver, doeu e eu não consegui controlar minhas lágrimas.

Juliana

— Hey o que aconteceu? Por que está chorando?

Eu não conseguia falar, estava engasgada com meu choro.

Juliana

— Camila você está me assustando, o que aconteceu?

Apenas peguei o celular e mostrei para ela. Ela lê a mensagem.

Juliana

— Vamos embora! Vou avisar a Talita que estamos indo.

Ela sai por alguns segundos e volta para irmos. Vou chorando o caminho todo e não consigo falar uma palavra. Chegando no quarto, Juliana pega um copo de água com açúcar e me da para tomar, ao pegar o copo percebo que estou tremendo muito. Ela abaixa-se para olhar para mim e fala.

Juliana

— Amiga tenta se acalmar por favor! Ele não merece uma lágrima sua. Eu sei que dói, mas precisa ser forte, você é uma das pessoas mais forte que conheço, eu sei que está vulnerável depois do que aquele traste fez com você, mas tem que ser forte e superar isso.

Eu olho para a Juh, tomo a água com açúcar e consigo enfim falar.

Camila

— Eu sei que preciso ser forte, mas tá doendo muito, e eu não sei nem porque está doendo. Não era para mim estar assim, quem estragou tudo foi ele e não eu.

Juliana

— Você tem todo o direito de sentir dor, afinal vocês estão juntos a muito tempo e o que ele fez com você foi muito difícil, mas tem que se acalmar, você não pode ficar tendo crises de ansiedade uma em cima da outra assim, isso vai acabando com você por dentro, precisa controlar isso. Eu acho que seria bom até você procurar sua psicóloga de novo, ela te ajudou tanto quando você estava com problemas com sua mãe.

Camila

— Você tem razão, eu vou procurar ela na segunda. Desculpa-me se te assustei e acabei com a sua noite!

Juliana

— Você não acabou com nada garota! É minha irmã de coração e eu daria a vida por você e se precisar eu esfrego aquela cara linda do Allan no asfalto e faço ele perder aquele ego dele arrogante.

Solto uma risada com as palavras da Juliana.

Camila

— Só você mesmo para me fazer rir depois de uma crise de ansiedade.

Juliana

— Eu sou foda mesmo eu sei, haha. Agora que está mais calma, vai tirar essas roupa, lavar esse rosto e ir dormir um pouco, amanhã quero ver minha amiga de volta sem lágrimas nos olhos tá bom?

Camila

— Tá bom, obrigada por tudo viu. Não sei o que seria de mim sem você na minha vida.

Dei um abraço apertado nela e fui me arrumar para dormir. A noite foi longa, eu tive muitos pesadelos, geralmente é assim depois de uma crise de ansiedade, eu não consigo me desligar para dormir. No dia seguinte eu estava bem melhor mas não quis sair de casa. Na segunda eu fui trabalhar e o Allan não apareceu no restaurante. Liguei para minha psicóloga e ela arrumou horário para mim para aquele dia mesmo depois do meu expediente, marcamos de ir duas vezes na semana e isso foi me ajudando muito.