Capitulo 4

A tarde Marina passou com a mãe entre os bordados, de vez em quando olhava para janela na esperança da chuva parar, lá pelas dezesseis horas a chuva parou, o sol deu até uma aparecida, então ela decidiu marcar o encontro, pede licença a sua mãe para ir na cozinha e vai em busca de Leni

Marina - mãe Maria, tem ainda daquelas rosquinhas que a senhora fez ontem? estavam saborosas.

Mãe maria - Tem sim sinhazinha, vou arranjar uma bandeja e a Leni leva lá na sala.

Marina- Posso esperar pra levar, não quero dar trabalho,

Mãe maria- Num é trabalho ninhu, nois tamo aqui é pra mode servi oceis

Marina - então está bom, espero lá na sala com a mamãe.

Marina se esconde próximo da porta da cozinha e fica esperando Leni passar

Marina - Parou de chover, fala pra ele que assim que escurecer vou pro riacho pra encontrar-lo

Leni -Tá bão sinhazinha, vou fala pra ele.

Marina - Vou na frente, espera um pouquinho e vai atrás de mim pra mamãe não desconfiar que conversamos, demora só um pouquinho pra entrar lá na sala.

Leni- Pode deixar

Marina chega a sala - Mamãe pedi a Mãe Maria umas rosquinhas pra fazermos um lanche, e podemos continuar amanhã? Estou um pouco cansada.

Tereza- Tudo bem, minha querida, amanhã continuamos, essa semana seu pai vai na cidade, vou pedir pra comprar uns tecidos pra fazermos uns jogos de cama, pro seu enxoval!

Marina - É pede mesmo.

Lá no seu íntimo grita uma revolta imensa, mas silencia, dá um sorriso pra não deixar sua mãe magoada.

Leni entra com uma bandeja e um suco elas se servem , a menina se retira silenciosa

Tereza - Nem parece que choveu praticamente o dia todo, o céu já está claro, essas chuvas de verão são assim mesmo, veem e vão muito rápido, vamos ter um céu estrelado.

Marina - A senhora fica olhando o céu a noite?

Tereza- Sempre fico admirando, da janela do meu quarto. porque? voce acha que me deito assim que entro para o quarto?

Marina - Sim , pensei que a senhora ia dormir. desde pequena é esse o nosso hábito!

Tereza sorri- As vezes leio, bordo, ou fico simplesmente sentada com a janela aberta admirando as estrelas, e você, o que faz, vai dormir?

Marina - também não, é muito cedo, também leio, mas gosto mesmo é de sentar na janela fico ouvindo os grilos, o barulho da noite, tão silenciosa e ao mesmo tempo com sons tão diferentes.

Tereza- A natureza é um presente de Deus.

Marina - Acho Deus tão injusto, não consigo entender o porquê de tanta diferença, será que ele fez o mundo só para os brancos, por achar que os negros são inferiores?

Tereza - Minha filha, não foi Deus que criou essa situação, penso que foram os homens, a lei do mais forte subjuga os mais fracos.

Marina - Mas se sempre abaixamos a cabeça seremos subjugados, como homens fortes como os negros aceitam o cativeiro?

Tereza - Mas será que pela luta física eles conseguiriam a liberdade? O problema minha querida é o poder que está concentrado em mãos de pessoas ruins, que não conseguem ver o outro como próximo.

Marina fica admirada com as ideias de sua mãe, ela tinha sim uma ideia formada , mas não tinha forças pra sustentar a sua opinião e novamente ficou comparando a vida delas com a dos negros, elas só estavam em uma senzala dourada.

Tereza - Que foi filha ficou tão caladinha agora.

Marina- Nada não, só estou pensando, será que isso nunca vai mudar?

Tereza - Espero que sim, porque já existem pessoas melhores, que mesmo explorando a mão de trabalho escravo os tratam bem, ouvi o seu pai conversando com um outro fazendeiro sobre uma fazenda daqui da região, la não impõe castigo, eles descansam todos os domingos e recebem uma boa alimentação.

Marina- E porque ele não passa a agir assim?

Tereza - Eles não concordam com essa postura porque acham que quanto mais regalias mais preguiçosos e indolentes eles ficam, preferem tratar com mãos de ferro, queria muito que fosse assim aqui nessa fazenda. O que posso fazer pra melhorar um pouquinho a vida deles eu tento,