🐺 Capítulo 1 — O Cheiro do Destino
A chuva caía fina sobre as ruas de pedra da pequena cidade de Everfall. O vento frio da noite fazia os lampiões balançarem, e a lua cheia refletia nas poças d’água como olhos prateados observando tudo.
Entre os becos úmidos e o som distante de música vindo de um bar, uma jovem corria, o coração disparado.
Ela chamava-se Ayla Rivers, e cada passo era uma luta contra o próprio corpo.
Seu perfume começava a mudar — e ela sabia o que isso significava.
A cada ciclo, a maldição voltava: o cheiro doce e inconfundível de um ômega em início de cio.
Ayla não podia deixar que ninguém sentisse.
Não em um lugar como Everfall, onde clãs de lobos ainda disputavam território nas sombras dos humanos.
Puxando o capuz para esconder o rosto, ela entrou às pressas na boate “Luna Rouge”, o único lugar onde o cheiro de álcool e fumaça podia mascarar o dela.
— Um copo de água, por favor — pediu ao barman, tentando parecer calma.
Mas o garçom apenas ergueu uma sobrancelha, confuso com aquela moça de olhos cinzentos que tremia.
Então, ela sentiu.
Um cheiro cortou o ar — amadeirado, intenso, dominador.
Sua pele arrepiou, e o instinto ancestral gritou dentro dela: Alfa.
Lentamente, Ayla se virou.
No canto do bar, um homem alto observava-a com olhos âmbar, como fogo sob tempestade. Ele usava um sobretudo preto, o cabelo castanho escuro caindo sobre a testa, e uma aura de poder que fazia todos à volta inconscientemente se afastarem.
Ele era perigoso.
E irresistível.
O nome dele era Dante Blackmoon, líder do clã mais poderoso da região.
Um Alfa que nunca se curvava — e que agora, inexplicavelmente, não conseguia tirar os olhos daquela ômega de aparência frágil.
Ayla engoliu em seco.
Precisava sair dali, antes que fosse tarde.
Mas Dante já estava de pé.
A multidão pareceu se abrir sozinha quando ele começou a caminhar em sua direção.
— Você... — a voz dele soou grave, firme, e algo dentro dela estremeceu. — Quem é você?
Ayla deu um passo para trás. — Ninguém. Eu já estava de saída.
— Mentirosa — ele murmurou, o olhar fixo nela como se pudesse enxergar sua alma. — Você está escondendo o cheiro.
Ela congelou.
A máscara estava falhando.
O perfume doce, inevitável, escapava pela pele.
— Fique longe de mim — sussurrou, tentando passar.
Mas quando ela o empurrou para sair, o toque foi o bastante.
O ar ficou pesado.
O tempo pareceu parar.
O vínculo começou a pulsar, invisível, entre eles — um chamado antigo, primal.
O olhar de Dante se tornou quase selvagem. — Isso é impossível...
Ayla ofegou. — Não... por favor, não faça isso...
— Eu não posso ignorar o que senti — ele respondeu, a voz agora rouca, baixa, perigosa. — Você é minha...
Ela recuou. — Eu não pertenço a ninguém!
Então, de repente, um ruído cortou o momento — um grupo de betas embriagados começou uma briga perto da entrada. Um dos homens empurrou Ayla sem querer, e ela caiu. Antes que pudesse reagir, Dante já a segurava, protegendo-a, os olhos brilhando com a cor do ouro antigo.
A tensão entre os dois era tão forte que o ar parecia vibrar.
Ele a ajudou a levantar, o toque quente queimando a pele dela.
Por um segundo, o instinto gritou mais alto que a razão.
Mas Ayla se afastou, decidida.
— Eu não sou parte do seu clã. Não quero ser.
Dante ficou parado, observando-a sair em meio à multidão.
Mesmo com o cheiro de chuva e fumaça, ele ainda podia sentir o perfume dela se dissipando pelo ar — um perfume que agora o perseguiria em sonhos.
Quando finalmente a perdeu de vista, um sorriso quase imperceptível curvou seus lábios.
— Pode correr o quanto quiser, pequena ômega... — murmurou. — Eu sempre encontro o que é meu.
E, do lado de fora, sob a lua cheia, Ayla olhou para o céu e sussurrou para si mesma:
— Que os deuses me protejam do Alfa que o destino escolheu para mim.
A chuva começou a cair com mais força, como se o próprio universo tivesse ouvido.
O vínculo estava criado.
E nenhum dos dois sabia ainda até onde ele os levaria.
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Próximo capítulo 19/10/2025