Eu ainda me lembro como se fosse ontem.
Nesse tempo, eu tinha apenas 12 anos, morava com a minha com a minha avó e minhas irmãs no interior em frente a praia.
Você não sabe o quão bom era viver assim, o som das marés eram como músicas de ninar para mim. Não precisávamos de ventilador, o vento que soprava era o suficiente para nos refrescar a noite toda.
Um dia, quando acordei com a bexiga apertada, decidi sair para me aliviar. Era bem cedo, o sol já tinha surgido, mas ninguém ainda estava de pé, somente eu. No interior é normal fazer suas necessidades no mato. Sei que muitos teriam medo de fazer isso por conta de bichos venenosos, e como nunca ouvi falar de alguém que morreu por isso, eu só não ligava.
Após terminar o meu pequeno ritual, de longe ouvi algumas vozes femininas que pareciam vir da beira da praia, de lá surgiu uma melodia capas de confundir qualquer um, até hoje não sei como interpretar o que ouvi, as vezes parecia triste, ou agitada e assim por diante. Foram tantas sensações uma atrás da outra que só fez a minha curiosidade atiçar cada vez mais, eu precisava ver de onde tava vindo aquilo.
Ao me aproximar mais da praia, as ondas estavam fortes, o céu nublado, mas o vento soprava como de costume, forte mas não o suficiente para arrancar as folhas das árvores.
Como eu não era boba, não me mostrei para quem fosse as donas daquelas vozes, na hora eu só podia pensar em uma coisa "sereias". Aquela vila era muito pequena, o suficiente para todo mundo conhecer quem vivia nela, e aquelas vozes não era de nenhuma moradora dalí.
Com cuidado, esgueirando-me entre a mata, no pequeno caminho que dava para a praia, e lá, tive a maior surpresa que foi encontrar o absoluto nada. Olhei de um lado, só outro, não havia ninguém, apenas areia, as marés, árvores e pedras imensas escoradas nas paredes de terra, pedras essas que separavam a praia da mata.
Quando vi que não iria encontrar nada, retornei para a minha casa, completamente desapontada. Na porta de casa a minha avó me esperava com uma expressão de preocupação, eu expliquei tudo o que tinha ocorrido, e ao terminar de contar o meu relato, ela me explicou que, na verdade, eu não era a única pessoa que já tinha ouvido as melodias da beira da praia. Exclamei se eram sereias, mas ela negou, nunca foram sereias, mas sim as pedras que criavam sons de manhã cedo. Todos da vila diziam que as pedras eram encantadas e que era perigoso sair de manhã cedo por conta delas, que enganavam os pescadores para pensar que eram mulheres cantando, e afundar seus barcos antes mesmo de sair para velejar.
Mesmo depois de descobrir a verdade, até hoje eu ainda fico em dúvida se o que ouvi realmente era apenas sons que ecoam dos buracos das pedras, ou talvez outra coisa. Acho que nunca vou saber.
⚠️ (Baseado em fatos reais.)