As chamas ainda dançavam nos telhados do vilarejo quando Lira disparou pela floresta.
Lira (ofegante):
— Não posso deixá-los encontrá-lo primeiro... Eu tenho que chegar antes.
O mapa queimava em sua mão, literalmente. Tinta mágica escorria das runas antigas, revelando a trilha escondida. Seu braço, onde a marca brilhava, latejava como se o próprio destino pulsasse ali.
Voz distante de um caçador:
— A bruxa está indo para o coração da floresta! Sigam-na!
Lira correu mais rápido.
Finalmente, a clareira. Silêncio absoluto. Névoa dançando como espíritos perdidos. De repente, um rugido profundo vibrou no ar, fazendo as folhas caírem das árvores.
Ele surgiu.
Um dragão gigantesco, dourado-esmeralda, com olhos como estrelas distantes. Asas do tamanho de navios. Respiração quente como fornalhas.
Dragão (em voz mental, profunda):
— Outra humana? Veio matar-me como os outros?
Lira caiu de joelhos, mas ergueu a mão, revelando a marca.
Lira:
— Não vim ferir. Vim cumprir o pacto. Sou filha de Thariel. Última dos Pactuados.
Silêncio. Um instante que durou uma eternidade. O dragão aproximou a cabeça. Seu focinho ficou a centímetros do rosto de Lira.
Dragão:
— Thariel... Eu a conheci. Ela tinha coragem. Mas você... é tão pequena.
Lira (olhando firme nos olhos dele):
— Pequena? Talvez. Mas a chama dentro de mim nunca se apagou. Nem mesmo quando o mundo esqueceu sua promessa.
O dragão a fitou mais intensamente. E então, abaixou a cabeça.
Dragão:
— Toque-me. E que os espíritos julguem seu valor.
Ao tocar sua testa na do dragão, um clarão envolveu os dois. Imagens do passado, guerras aéreas, pactos quebrados, dragões caindo, humanos chorando — tudo dançou diante de seus olhos. E então, uma visão de futuro.
Mas o momento foi quebrado por um grito:
Caçador (do alto da colina):
— Aí está! Matem o monstro! E a bruxa!
Flechas voaram. Uma acertou o chão ao lado de Lira. O dragão rosnou.
Dragão (com raiva):
— Sempre os mesmos erros!
Lira (gritando):
— Leve-me aos céus! Deixe que vejam o que despertaram!
Com um rugido que rachou as pedras, ele abriu as asas. Lira subiu em suas costas e se segurou firme.
Dragão:
— Segure-se, pequena herdeira. Vamos mostrar-lhes o verdadeiro fogo.
Eles alçaram voo como um raio. O céu se iluminou com chamas azuis e douradas. Lira conjurava rajadas de vento cortante com gestos rápidos, desviando de lanças. O dragão mergulhava, girava, lançava labaredas que derretiam as flechas no ar.
Lira (erguendo a mão para o céu):
— Pelo pacto! Pela memória dos caídos!
Dragão (com um rugido gutural):
— E pelo renascimento do fogo!
Ao fim da batalha, os caçadores fugiram. O céu se acalmou. A floresta estava segura.
O dragão pousou. Lira desceu, exausta, mas vitoriosa. Ele a observava em silêncio.
Dragão (com admiração):
— A centelha tornou-se chama. Você é digna, Lira de Thariel.
Lira (sorrindo):
— E você, o último... nunca mais estará sozinho.