Era uma vez…
um homem e uma mulher que viviam num vilarejo tranquilo, com janelas que rangiam no vento e hortas cheias de promessas verdes.
Ao lado deles, morava uma mulher… estranha.
De roupas escuras, olhos frios, e uma cerca viva que parecia crescer só pra manter o mundo longe.
Seu nome era Gothel.
No jardim dela, entre ervas e espinhos, cresciam folhas delicadas chamadas rapunzels.
Verdes, brilhantes, irresistíveis.
A mulher, grávida, passou a desejar tanto aquelas plantas que não conseguia mais dormir sem sonhar com o gosto delas.
Seu marido, movido pelo amor — e pelo medo do silêncio sombrio que tomava o olhar da esposa — decidiu pular a cerca.
Colheu um punhado.
Mas quando voltou pra pegar mais…
— O que faz no meu jardim?! — soou uma voz cortante como vento de inverno.
Era Gothel.
De pé entre as sombras, parecendo feita de pedra e raiva.
O homem tremeu.
— Minha esposa… ela carrega uma criança. E… ela precisa das rapunzels. Eu imploro…
Gothel olhou dentro dos olhos dele com um sorriso fino e cruel.
— Pode levar quantas quiser… Mas quando a criança nascer… ela será minha.
E foi assim que, num raio de trovão silencioso, o destino foi selado.
Quando a menina nasceu, Gothel apareceu à porta.
— Ela se chamará Beatriz.
E a levou embora como quem arranca uma flor do solo.
🌙
Beatriz cresceu trancada numa torre esquecida pela luz.
Não havia porta.
Não havia escadas.
Apenas uma janela que dava para o céu — onde ela cantava pra não enlouquecer.
Seus cabelos eram longos como o tempo.
Dourados como a memória do sol.
E era neles que Gothel se apoiava pra subir, dia após dia.
Até que um dia, o vento trouxe alguém novo.
Uma figura ágil, esperta, com olhos que misturavam medo e desafio.
Seu nome era Caroline, mas isso era só um véu.
O verdadeiro nome era Adriellen — e por trás dele, havia uma história feita de dor, abandono, e tentativas de esquecer quem se é.
Adriellen ouviu Beatriz cantar e… parou.
Como se o som a puxasse de volta à vida.
Como se aquela voz dissesse: "Você ainda pode ser amada."
Ela subiu na torre.
Beatriz tremeu de medo.
Mas os olhos de Adriellen… tinham doçura.
E logo, nasceram risos, segredos, mãos dadas sob o luar.
No silêncio da torre, nasceu algo novo.
Beatriz pediu:
— Traga fitas de seda… uma por uma. Eu vou trançar uma escada com elas. E a gente vai fugir.
E assim, noite após noite, Adriellen vinha.
Trazia fitas… e promessas.
E o amor delas crescia como flor entre pedras.
Mas um dia… Beatriz, sem perceber, deixou escapar:
— Como você é mais leve que Adriellen… e sobe tão depressa!
Gothel ouviu.
Furiosa, gritou:
— Como você ousa me trair?!
E com um golpe de tesoura, cortou os cabelos dourados.
Levou Beatriz para um deserto distante.
E esperou na torre.
Quando Adriellen chegou, escalou a trança… e encontrou Gothel.
— Você nunca mais verá Beatriz! — ela gritou.
E empurrou Adriellen.
A queda foi longa.
E quando ela se levantou, seus olhos não viam mais.
A luz havia sido tirada.
Mas o amor… o amor ainda pulsava.
Adriellen vagou por anos.
Vivendo de raízes, chuva e saudade.
Até que um dia…
ouviu uma canção.
Na ponta de uma colina, entre flores selvagens, estava Beatriz.
Mais forte.
Mais viva.
Com dois bebês no colo — Theodor e Louise.
Beatriz correu até ela.
Caiu de joelhos.
E chorou.
Duas lágrimas tocaram os olhos de Adriellen.
E o mundo brilhou.
Ela viu.
Viu Beatriz.
Viu os filhos.
Viu o amor ainda ali.
🌅
Anos depois, num jardim que lembrava um sonho, Beatriz e Adriellen se casaram.
Com flores nos cabelos.
Com promessas nos lábios.
Com Theodor segurando as alianças, Louise rindo alto, e Eleanor — a caçulinha — dormindo no colo de Pérola, a madrinha emocionada.
Elas construíram uma casa de pedra e luz.
Com janelas abertas, chão de madeira, e um balanço pendurado no carvalho velho.
E com o tempo… mais dois filhos vieram.
Um menino doce de olhos curiosos: Gael.
E uma menina que nasceu no silêncio de uma noite estrelada: Isla.
Hoje, se você caminhar até aquela colina ao pôr do sol,
vai ouvir risadas.
Vai ver cabelos ao vento, um cachorro correndo atrás das crianças,
e duas mulheres de mãos dadas.
Beatriz, com os olhos de céu.
Adriellen, com as cicatrizes que viraram poesia.
Porque o amor delas…
não foi só conto de fadas.
Foi escolha.
Foi cura.
Foi lar.