Insônia
Após uma manhã cansativa, fui agraciada pela falta de sono, a Insônia se tornou minha companhia durante a silenciosa madrugada. Tudo que eu posso fazer é me revirar pelas cobertas frias da cama, observando os incomuns detalhes do meu quarto, como as manchas de mofo próxima ao armário, o caminhar das formigas para o formigueiro atrás da penteadeira.
Ao me sentar à beira da cama, encaro o despertador e vejo os minutos passarem lentamente. Minha ansiedade me alfineta, entretanto a ignoro a fim de evitar uma crise. Uma tarefa simples, fechar os olhos cansados e desligar, porém, para minha cabeça no momento tudo era um imenso quebra cabeças que eu facilmente joguei as peças para o alto e me deleitei com o tormento de minha própria frustração.
Tomando coragem, fui a caminho da cozinha com o intuito de beber algo e tentar recuperar o sono perdido. Ao descer as barulhentas escadas, pude me deparar com minha sala totalmente bagunçada e com a televisão ligada, fazendo um chiado incomum. Mas com minha onda depreciativa falando alto, ignorei o chiado e partia para a cozinha que era anexada a sala, tornando uma só.
Sendo iluminada pela lâmpada da geladeira, minha silhueta tornava-se uma imensa sombra que tomava conta do ambiente, entretanto ao fechar a porta, tal sombra desaparece. Mas, notei uma imensa mancha na janela que ficava sobre a pia de lavar louça. Me perguntei intrigado, se uma mancha poderia ser capaz de me observar de forma tão intensa como naquele momento. Com um forte arrepio sendo um alerta, me movi rapidamente rumo ao meu quarto.
No entanto, ao passar pela televisão, os canais começaram a mudar em um frenesi. Pulando de seriados ruins a programas estranhos da madrugada, mas, na agitação da troca de canais, frases começaram a ser formuladas que eram difíceis de compreender.
…Venha…a… nós criança… necessitamos… de ti…
Franzindo o cenho, pude entender o que a estranha transmissão estava a dizer. Porém o arrependimento veio com um forte impacto em minha cabeça. Principalmente após o chiado se tornar um rosto, que a cada troca, deformava sua feição. Um rosto que forçava sua saída da tela, e que me permitiu sentir um medo tão profundo ao ponto de paralisar.
Poderia correr, e queria, poderia ter evitado ter parado para ver a televisão, entretanto aquilo me encantou de alguma forma.
“Mexa-se!”...“Me responda corpo!”
Berrava tudo o possível para mim mesmo enquanto encarava uma mão esbranquiçada, que pingava um líquido gosmento de seus dedos, porém ao passar dos segundo tal mão derretia e seus pedaços caem no carpete da sala. Enxergando isso como uma oportunidade, sai rapidamente, com um pavor apertando meu peito. Ao chegar ao segundo andar, pude ouvir um grito estridente.
- LARA! - uma voz que falhava ao gritar, mas que logo era acompanhada por batidas fortes.
Pude ver aquela coisa, com um corpo branco em sua grande parte, porém com cores que se distorciam ao movimento da criatura. Sua feição era o rosto da minha falecida mãe, que com uma agitação, se distorcia de uma forma horrenda.
Fugi rapidamente para o quarto, e com certa dificuldade pude colocar a penteadeira contra a porta, porém, a criatura começou a bater contra a porta movendo a penteadeira ao poucos. Tudo que pude fazer foi esconder em um canto escuro do quarto, abraçando com força meus joelhos, vendo a porta quebrar aos poucos. Minha respiração estava ficando alta, intensa, sentia meu coração querer sair do peito.
Mas, um som tomou conta do ambiente. O despertador havia começado a tocar, com certa dificuldade me esgueirei pela cama até o despertador, o desativando. Fitei a porta, que estava perfeitamente normal. Ao descer as escadas, o primeiro andar estava tranquilo com apenas uma pequena mudança. Um rádio, que ligou e fez uma transmissão.
- Bom dia Lara, espero que sua noite tenha sido ótima. Nós aguardamos nossa próxima visita, afinal, você merece ter uma boa noite…