Era comum naqueles vastos campos floridos de lírio as belas damas quando chegassem a maioridade pegassem as flores brancas da castidade e fizessem pulseiras, era uma forma de demonstrar que a senhorita ainda era casta, afinal o lírio era, que nem parte da vida da mulher, um símbolo de castidade e pureza. Quando as jovens damas tivessem a sua primeira relação de amor, quando a doce dor do sangue escorresse no ato do prazer carnal, a pulseira do puro lírio era deixada de lado, e as mulheres começavam a cumprir as suas obrigações, esse era o costume do vilarejo de Westphalen.
Westphalen era um pequeno vilarejo arrodeado pelas cordilheiras íngremes, por isso a maioria das pessoas se conheciam e raramente recebiam novidades, mesmo que boas companhias sempre estivessem naquele âmbito. Estranhamente do dia para noite, um som esquisito, estridente, algo que nunca havia sido ouvido no vilarejo, começará a soar pelas ruas. Curiosos, as pessoas saíram das suas moradas rústicas para ver de onde vinha o som. Em meio a rua, uma espécie de maquinário que eles nunca se querem tinham visto, se encontrava em frente a uma casa, que estava abandonada a eras, de dentro da máquina erguida por quatro rodas, não de madeira, mas de um emborrachado. Do maquinário saia um homem esbelto.
— Que vila mais reconfortante, olha essas pessoas que vieram nos receber querida — Falou a voz do homem que saia do maquinário
O homem era mediano, possuía uma barba bem feita, a sua pele clara como as nuvens que voavam de um lado para o outro, as suas roupas não eram nada comuns, pareciam ser feitas de tecidos mais pesados, todas detalhadas de cima para baixo, era surpreendente para o povo da vila. Os homens o observavam curiosos, as mulheres inconscientemente começaram a admirar aquela beleza.
— Isso é uma espelunca, isso sim! Edgar, e esses caipiras alienados que não sabem o que é asfalto estão nos encarando como uma vara que encara os seus alimentos! — Respondeu uma voz feminina que acompanhava a saída do homem
A mulher era um pouco mais baixa que o seu marido, era esbelta, pálida, o seu rosto era cansado, velho, rugoso, cabelos amarelados como os raios de sol, os seus olhos eram verdes como a esmeralda, mundanos, ambiciosos, só com esse olhar as pessoas reconheciam o forte desejo de querer cada vez mais e mais as coisas do mundo. As vestes que a mulher vestia pareciam ser luxuosas, caras, a ceda mais requintada talvez fizesse parte do vestiário. As mulheres do vilarejo se perguntavam de onde saíram essas roupas, de onde saíram tais belas pessoas.
Após a saída da mulher mais velha, uma jovem mulher, com os seus 17 anos, saia do carro. A mulher com a sua beleza esbelta, com a sua pele clara quase pálida, como se fosse uma bonequinha de porcelana, com os seus cabelos dourados como o ouro mais puro do mundo, com os seus olhos verdes puros, não eram como as da sua mãe que esbanjava soberba, mas sim esbanjava a maior pureza. Todas as pessoas a admiravam, seria aquela a filha dos deuses gregos? Seria ela a fonte de beleza do mundo? Não importava qual fosse a resposta, todos sutilmente começaram a admirá-la secretamente.
— Que cidade bonita, arrodeada por essas belas cordilheiras, talvez esse seja o paraíso de Deus? — Falou a dama mais nova — Então essa é a casa que vó nos deixou?
— Sim, Melissa, essa é a casa — Falou o homem de família denominado Edgar
— Aham… eu sou o prefeito dessa cidade, vocês devem ser os Grenford's correto? — Falou um homem velho, baixinho, e enrugado, carente de beldade
— Isso mesmo, eu sou Edgar Grenford, você deve ser o prefeito Goethe — Falou Edgar esticando a sua mão para um aperto amigável
— Isso mesmo — Goethe apertava e balançava com um semblante amigável a mão de Edgar — Sinto muito pela morte do seu pai, mas se me permite perguntar, que maquinário estridente e encantador é esse?
— Vocês não conhecem? Céus, isso é um carro, meu bom prefeito, como podes ser um governante, se não consegue se locomover e estar em quase todos os lugares? — Perguntava Edgar
Uma pequena faixa avermelhada era formada momentaneamente na faceta do prefeito, ele se sentia diminuído, envergonhado, talvez, no fundo, furioso. Mantendo a postura de um governante, o homem desfaz rapidamente a vermelhão vergonhosa e responde o homem esbelto.
— Oh! Sinto muito… Mas é que a nossa pequena vila é realmente pequena, aponto que toda informação chega a minha pessoa, por isso nem preciso deslocar-me muito — Falou o prefeito tampando a sua faceta envergonhada por não saber dessa invenção
Abruptamente após as apresentações, a multidão, que até então se encontrava curiosa, havia se dissipado e como um clarão matinal, as coisas começaram a se ajustar para as amarás do destino do cotidiano. Melissa rapidamente parecia ter se acostumar com o local, sem muitas tecnologias, era estranho um vilarejo em pleno século XXI não possuir nem sequer conhecimento sobre carros, mas aquele doce ar do campo que adentrava no peito de uma garota da cidade grande, que, até então, nunca tinha respirado um ar tão puro como aquele parecia se alastrar como o mais forte veneno de uma víbora.
Diferente da sua filha, a mãe da moçoila, que ficou conhecida entre as crianças como senhora Rasmungo, detestara a súbita mudança de ares, afinal quem gostaria de mudar o conforto dado pela tecnologia, pela porquice e o isolamento do mundo exterior, aquilo era o verdadeiro inferno para a mulher. Um dia uma senhora de idade avantajada chegara a perguntar a senhora Rasmungo o porquê dela agir de modo tão azedo com a vida, enfurecida, a senhora Rasmungo levantara-se a mão e quando prestes a dar o movimento de um tapa, seu marido Edgar, intervia impedido a conclusão de tal movimento, dando um olhar de desgosto para a sua esposa, Edgar pedia desculpas em nome da sua mulher. Após tal incidente, Edgar, havia se afastado mais da mulher, passava horas e horas no seu escritório, e só saia de lá quando o prefeito, que volta e meia fazia constantes visitas à casa dos Grenford’s, aparecia.
Com as constantes visitas do prefeito, que era sempre acompanhado pelo seu filho mais velho, Melissa, acabara se apaixonar, inconscientemente, pelo filho de Goethe, o nome do filho pouco importa, pois, nem o próprio pai lembrava corretamente do nome do filho. O rapaz então ficara conhecido como Marc, sendo que esse não era o nome real do rapaz, mas sim, a certo modo, uma abreviação do nome. Com a advinda das estações, todas as mulheres da cidade se reuniam nos campos de lírio para confeção das pulseiras de lírio. Melissa querendo entrosa-se com as pessoas da vila decidira ir ao evento
— Marcondes, vamos, vamos por favor, é minha primeira vez nesse evento — falou Melissa arrastando o amado para o campo
— Calma, calma, os campos de lírio não irão sumir de lá — respondia o jovem sorrindo para a amiga, amiga essa que o rapaz possuía uma grande afeição amorosa, mas devido à covardia ele nunca falara dos seus sentimentos abertamente para ninguém.
Ao chegarem no campo de lírio, todas as mulheres, acompanhadas com alguns poucos homens, estavam no local, mas somente as mais jovens damas pegavam o lírio, era algo um tanto quanto fora do comum, já que, até então, era um evento comemorativo de toda a cidade.
— Marcondes, por que só as mais jovens pegam o lírio? — Perguntava Melissa de forma boba e inocente, parecia uma criança ao ficar curiosa com as novidades do mundo a sua volta
— Bem... é que faz parte da tradição, com um significado profundo, digo... Quando uma mulher pega os lírios e faz uma pulseira com eles e os utiliza, o que geralmente é o tempo todo, quer dizer que ela ainda é pura — Respondia Marcondes com uma certa rubrosidade na sua faceta um tanto quanto tímida.
— Entendi... Então também vou querer uma pulseira dessa — Respondia Melissa com a sua faceta tipicamente sorridente, como de costume
Amanhã passou-se de forma típica, sem muitas surpresas ou acontecimentos um tanto quanto marcantes. Melissa estava cada vez mais apegada ao jovem rapaz que vivia sempre a visitar, mas por algum estranho motivo, no seu subconsciente, ela abominava o pai do seu amado, ela jurava sentir um certo calafrio na sua espinha ao estar perto do mesmo. Enquanto Melissa se aproximava mais de Marcondes, a senhora Rasmungo, aparentava se distanciar de Edgar, que não mais saia do seu escritório ou dava atenção a sua filha, fazia meses que a garota não o via, e sempre que ela tentava entrar no escritório do seu pai, a sua mãe a atrapalhava de entrar no local de trabalho.
Na véspera do amanhecer de uma quinta-feira, um semblante sombrio se encontrava na porta da casa dos Grenford’s, e a matriarca esperava com estase, estancado na sua face por tal ser oculto. Ela abrira a porta de forma sorrateira; tirara os sapatos do ser; entrosara-se com o mesmo, que possuía uma fisionomia masculina; dera um beijo tão árduo e quente que aparentava um aumento na temperatura do local; derrubara-se no chão com o ser masculino; retirara as vestes de ambos e, finalmente, entraram em um estado de euforia, onde a perda da castidade sempre começa, no sexo. Um cheiro forte e abrupto, para aqueles que não se encontram a fim de tal comportamento, se espalhava por toda a casa. Gritos de prazer começara a surgir e a se espalhar por todo o local, e um semblante maravilhado de prazer surgia na faceta da senhora Rasmungo.
Aquela efémera irresponsabilidade, fizera que Melissa se desvinculasse dos braços de Morpheus, e partisse para onde advinha o som. O coração da garota, um tanto quanto já fragilizado, devido as repentinas ausências do seu pai, descia cada degrau da escada com uma certa dificuldade respiratória. Ao chegar no local de onde os barulhos vinham, a jovem dama vê na sua frente, uma forte atrocidade, não contra a vida, mas contra a ética. A sua mãe despida, penetrada pelo órgão reprodutório do prefeito da cidade, e nela uma cara que a sua amada filha jamais havia visto. Em choque, a moçoila rapidamente elevara a sua voz dando um grito que chamara a atenção dos dois amantes luxuriosos.
— Olha quem está aqui, bom dia querida! — Falara a senhorita Rasmungo, com a cara mais pura e singela que ela conseguia demonstrar, mas claro, demonstrando o extremo prazer canal que recebia — O que queres o meu bem? Você deveria estar na cama, não?
— Que merda você está a fazer mãe? Por que caralhos a senhora está a trair o papai? — Perguntava a jovem moça segurando a suas lagrimas de desespero, mas fracassara miseravelmente
Senhorita Rasmungo se levantava despida, e com um semblante sério e enfurecido anda até a sua filha que chorava. Ela levanta a sua mão e desfere um golpe contra a sua filha.
— Sua imbecil! — Falava a mulher enfurecida — Claro que trai o seu pai! Ele que pediu, veja o que ele fez conosco querida, ele obrigou-nos a viver nesse fim de mundo, nos obrigou a viver em meio ao chiqueiro, e ainda por cima ele ousa deixar-me só durante as noites! O que mais eu faria? Estava tão carente numa noite, que o pobre do prefeito, viúvo, veio até a nossa casa um dia, e bem... Uma coisa leva a outra — Falou a senhora Rasmungo, um tanto quanto calma, soberba, louco no próprio prazer
— A senhora está louca mãe! Se era só para fazer essas sem vergonhices, pedia logo o divórcio para o papai! — Respondeu Melissa de forma revoltada a sua mãe
— Sabe querida... o que eu acho que está a faltar em você é experimentar, Goethe, por favor — Falava a senhorita Rasmungo com um sorriso intenso e prazeroso enquanto olhava para a sua filha
Goethe, que até então estava sem pronunciar uma palavra sequer, avançava na direção de Melissa, ainda na forma que ele veio até o mundo. A pobre garota que correra até o escritório do seu pai, onde a mesma vê a cadeira de costas para a mesma, e nela estava sentado o seu pai, que estranhamente estava imóvel.
— Papai, papai! A mãe estava — Falava a garota indo até à parte da frente da mesa onde o seu pai trabalhava
Ao ver o seu pai de frente, a garota vê somente o corpo falecido do mesmo, que estava perfurado por uma faca ensanguentada. A reação de imediata da pobre garota fora a de chorar, ela chorou como nunca havia feito na sua vida, parecia uma criança que se separara dos seus pais num parque de diversões. O prefeito e a senhora Rasmungo chegara até o escritório ainda pelados e ignorando os sentimentos da garota, partem para o ato carnal, que se via com a boca amarrotada e os seus movimentos imobilizados. Na sua mente a garota apenas se lembrava da sua pulseira de lírio, o seu amado que nunca confessara os seus sentimentos e do seu pai falecido na sua frente. O belo lírio que, até então, era castro e puro, amarrotado pela branquidão da gentileza, vê-se perfurado pela maldosa natureza humana, que do branco para o vermelho pecaminoso, passa a ser agora, não mais um simples lírio, mas uma mulher formada, mulher essa que passa pelos anseios doloridos que advém do prazer carnal que não fora desejado. Sem escolhas na vida, sentindo-se desonrada, resta apenas um anseio do lírio pôr um fim. Previamente a morte advém acompanhada de um frio sórdido e solitário, sem o acompanhamento do seu criador, e com o consentimento da sua criadora, sem nunca se quer demonstrar o que sente para a outra flor amada.