Youjitsu of the Dead {Classroom of the Elite}
SUZUNE
Era um dia comum, como qualquer outro, mas algo estava diferente. Estava inquieta, incapaz de me concentrar. A manhã inteira foi assim e, agora, já era quase hora do almoço.
Suspirei, apoiando a mão no queixo. Olhei para Ayanokouji, na mesa ao lado, rabiscando algo em seu caderno. Ele nunca prestava atenção na aula. Quando percebeu meu olhar, parou de rabiscar e olhou para mim com aquela expressão vazia e irritante de sempre. O que meu irmão viu nele?
Ele era tão comum. Olhos castanhos, cabelo castanho, estatura mediana. Mesmo assim, deixei-me ser manipulada.
Eu me odiava por isso.
Algo do lado de fora me chamou atenção. Sem perceber, levantei e fui até a janela. Ayanokouji seguiu meus movimentos e minha linha de visão.
Tóquio estava em chamas. Devia haver muitos barulhos vindos de lá, mas não ouvimos nada por causa da isolação acústica da sala.
Logo, os outros alunos também perceberam, e a classe se encheu de burburinhos.
Houve um clarão no meio da cidade, uma bomba.
Sem pensar muito, joguei-me no chão e logo senti alguém se jogar em cima de mim. Era Ayanokouji, protegendo-me com seu corpo dos estilhaços de vidro.
O barulho da explosão deixou um zumbido horrível em meus ouvidos. Com a visão ainda turva, olhei em volta tentando processar o que estava acontecendo. De repente, uma voz veio do alto-falante que ficava em um canto da sala.
— Por favor, mantenham a calma. As aulas por hoje estão suspensas. Retornem aos seus dormitórios com calma e permaneçam neles até segunda ordem.
Droga, droga, droga...
— Horikita — chamou Ayanokouji, mais como um aviso do que um chamado.
— Certo — respondi e começamos a nos organizar para deixar a sala quando...
— Não se prendam tanto às ordens — disse Chabashira-sensei, limpando a garganta e colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Se julgarem necessário sair, mesmo sem autorização formal da escola... — Ela não terminou sua frase, mas olhou intensamente nos olhos de cada um de nós. — Isso é tudo, crianças. Fiquem seguros.
E deixou a sala silenciosamente, como sempre fazia.
Os corredores estavam uma loucura, cheios de alunos conversando alto e especulando sobre o que havia acabado de acontecer. Alguns eram bem negativos sobre o que aconteceria dali para frente, outros um pouco mais otimistas, mas uma coisa era clara: todos estavam com medo e apreensivos sobre as horas que se seguiriam.
Enquanto andava de um lado para o outro inquieta, tive uma ideia. Se tivéssemos que sair com pressa, com Tóquio em chamas, uma mochila cheia de suprimentos seria de grande ajuda, pelo menos até encontrarmos um lugar seguro para... seja lá o que estivesse acontecendo lá fora. Com a mochila pronta e uma roupa que me permitia mover livremente caso precisasse correr, talvez estivesse paranoica. Um lado meu realmente queria acreditar que eu não precisaria de nada daquilo, que tudo ficaria bem e que, se necessário, deixaríamos a escola em segurança. Mas algo estava muito errado naquele dia desde o início das aulas. A forma como Chabashira-sensei fingiu estar calma e seu aviso/pedido após o anúncio me diziam que a coisa estava feia e que a tendência era piorar.
— Organizem seus pertences, apenas o necessário, como água e suprimentos. Dirijam-se ao terminal de ônibus da escola o mais rápido possível. Os ônibus sairão dentro de 30 minutos. Sejam rápidos! E... que a sorte esteja com vocês.
Assim que coloquei minha mochila, ouvi o toque desesperado na campainha do meu dormitório. Corri para a porta e olhei pelo olho mágico. Era meu irmão. Abri rapidamente a porta, e ele entrou com tudo, seguido por Ayanokouji e Tachibana-senpai.
— Arrume suas coisas, precisamos ser rápidos. — disse Manabu, quase perdendo sua calma habitual. Esse cara estava uma pilha de nervos. O que diabos estava acontecendo?
Dei uma breve olhada para Ayanokouji.
— Já estou pronta. Alguém sabe o que diabos está acontecendo?
Finalmente perguntei, olhando entre as três pessoas no meu quarto. Nenhuma parecia saber a resposta.
— Ótimo, a gente tenta descobrir no caminho.
— Espere... tome isso. Agora vamos. — falou Manabu, passando por mim e me entregando uma faca. Eu ia fazer perguntas, várias perguntas, mas a hora não era oportuna. Nesse momento, agradeci a mim mesma por ter comprado aquele cinto de couro, mesmo sem saber direito quando iria usá-lo. Prendi a faca na cintura e segui o grupo de perto.
Saímos rapidamente do prédio dos dormitórios. Muitos outros alunos já estavam indo para o local indicado, todos muito nervosos e apreensivos, eu inclusa. O clima estava estranho, e uma fumaça cinza e densa estava avançando pelos portões, começando a prejudicar a visão. Isso não era bom. Segurei firmemente a mochila de Ayanokouji à minha frente, determinada a não me perder na confusão, e cobri o nariz e a boca para me proteger da fumaça. Estava distraída demais tentando acompanhar Ayanokouji, e quando ele parou de andar abruptamente, acabei colidindo com suas costas. Dei dois passos para trás para recuperar o equilíbrio, mas fui atingida por algo ou alguém.
O impacto me expulsou o ar dos pulmões de forma tão violenta que, por um momento, temi não conseguir respirar novamente.
— Me ajuda, me ajuda... ele... aahhh — o garoto que caiu em cima de mim era a personificação do desespero. Apesar da pouca nitidez do ar, pude ver claramente que seu ombro estava em frangalhos e sangrando muito, mas não pude perguntar o que havia acontecido, pois ele apenas saiu correndo novamente sem direção aparente, gritando por socorro.
Mas que porra?...
Alguém agarrou meu braço e me levantou enquanto eu olhava o garoto sumir no meio da neblina.
— Horikita... ei — Ayanokouji me sacudiu, e eu olhei para ele, atordoada. — Precisamos encontrar o Manabu. Ele e Tachibana-senpai sumiram.
Apenas segui Kiyotaka para onde quer que ele estivesse indo, sem questionar. Tudo parecia estar em câmera lenta, nada daquilo parecia real. Era como um maldito pesadelo esvoaçado. Se esse era o caso, como eu saia dali? Como eu acordava?
— Horikita, você precisa se concentrar ou não vamos conseguir sair daqui com vida! — Ayanokouji me sacudiu pela segunda vez.
Com vida? Isso não podia ser real. Não podia ser mais do que um pesadelo terrível... Não é? Olhei para o rosto de Ayanokouji. Era a mesma expressão de sempre, mas seus olhos denotavam urgência e um aviso claro. Se eu estivesse sendo um estorvo, não me importaria de ser abandonada. Olhei em volta e a fumaça começava a se dissipar. Ainda estávamos um pouco longe do terminal de ônibus da escola. Pessoas corriam para todos os lados em um cenário que só poderia ser descrito como apocalíptico.
— Dane-se — ouvi Kiyotaka praguejar antes de sua boca cobrir a minha. O choque da situação colidiu-se com o choque de ter Ayanokouji me beijando. Ambos se anularam, trazendo-me de volta à realidade. Voltei a ouvir as coisas ao meu redor, os gritos começaram a chegar à minha consciência, e finalmente compreendi a urgência da situação. Precisávamos sair dali o mais rápido possível.
— Entendi — suspirei assim que me desvencilhei de Kiyotaka. Ele segurou meu pulso, e começamos a correr para chegar aos ônibus de evacuação quando uma enorme explosão aconteceu no terminal. Tudo voou pelos ares e, pela segunda vez naquele dia, eu estava no chão para me proteger de uma explosão. Era o fim, certeza. O mundo estava acabando, e eu realmente esperava estar apenas sendo dramática.
— Vamos, me sigam! — não vi de onde Chabashira-sensei surgiu.
Algumas pessoas ensanguentadas e rugindo como animas começaram a nos perseguir, eram rápidas e eu não queria saber o que havia acontecido com elas e muito menos entender porque começaram a nos perseguir. Chabashira-sensei apertou um botão e uma picape 4x4 branca apitou chamando atenção de outro grupo de pessoas loucas, entramos rapidamente no carro e Sae ligou o motor. A pessoas chegaram ao carro se batendo contra e suas janelas.
— O que diabos há de errado com elas? — perguntei, sem realmente esperar uma resposta.
— Seja lá o que for, não quero ficar para descobrir — respondeu Chabashira-sensei, pisando fundo no acelerador.
Enquanto saíamos da propriedade da escola, vi pessoas atacando umas às outras como abutres. Todo mundo enlouqueceu. Apesar do horror, meu coração parecia que ia sair pela boca e a adrenalina corroía meus ossos. Nada daquilo parecia real; era como se eu tivesse entrado em um daqueles filmes de terror zumbi.
O pior de tudo era que eu não sabia onde estava meu irmão. Meus olhos giravam freneticamente de um lado para o outro, mas não consegui avistar nem um resquício dele. Bem, ele sabia se defender, não é? Ele sabia cuidar de si, ele ficaria bem. Pelo menos, foi nisso que escolhi acreditar. Manabu iria sobreviver e arranjar um jeito de me encontrar. Fui tirada dos meus pensamentos quando um carro colidiu com o de Chabashira-sensei, quase fazendo-a perder o controle.
— SAE-CHAN, ESTAVA PLANEJANDO ME DEIXAR PRA TRÁS? — gritou a mulher do outro carro, abaixando o vidro.
— TÁ FICANDO DOIDA, PORRA? — gritou Chabashira-sensei de volta.
— PARA ONDE VOCÊ VAI? — exigiu Chie Hoshinomiya, a sensei da turma de Ichinose.
Chabashira não respondeu, apenas acelerou e saiu pelo portão de entrada da escola. Finalmente estávamos fora da propriedade. Não sei o que esperava ver, mas definitivamente não era aquele cenário devastado: casas e prédios dominados pelo fogo, carros desgovernados, capotados ou em chamas, pessoas gritando e correndo. Não melhorou nada; na verdade, estava pior do que na escola, muito pior.
O que faríamos? Para onde a escola pretendia nos realocar?
— Não se preocupem, fomos orientados a deixar os ônibus para os estudantes e seguir para o abrigo em nossos próprios veículos — disse Chabashira-sensei.
— E onde fica esse abrigo? — perguntou Kiyotaka.
— Em uma área um pouco afastada de Tóquio. Não é o ideal, mas é bem melhor do que ficar no centro e mais seguro também. Vai servir para ganhar algum tempo até que consigam pensar no que fazer para conter a situação e o avanço da infecção.
Infecção? Aquela palavra girou na minha mente. Infecção pelo quê exatamente? Um vírus? Bactéria? Ou algum tipo de fungo como naquele videogame famoso? Não consegui chegar a uma conclusão, pois o grito de Kiyotaka me despertou.
— Cuidado!
Ele tentou avisar, mas já era tarde demais para desviar completamente. Um caminhão desgovernado acertou em cheio a carroceria da picape.
Senti meu coração pulsar com força e prendi a respiração. Os cacos de vidro flutuando à minha frente pareciam pequenos diamantes brilhando sob o sol das quatro da tarde.
Talvez, quando se está prestes a morrer, não seja um filme que se passa na sua cabeça. Talvez, quando se está prestes a morrer, tudo fique em câmera lenta e coisas ínfimas pareçam incríveis.
Vou mesmo morrer aqui sem nem ao menos saber onde ou como meu irmão está?
Continua?
Se gostarem irei continuar.
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