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Sentei-me à mesa de reuniões com Edmundo ao meu lado. A sala era ampla, com paredes de vidro que deixavam entrar a luz suave do fim da tarde. O ambiente tinha um silêncio de respeito, mas dentro de mim o coração ainda acelerava pelo que havia acabado de ver: Edgar, preso ao corpo de uma colega, como se o tempo não tivesse passado e ele continuasse o mesmo adolescente insolente.
Edmundo ajeitou os óculos e me lançou um sorriso discreto, como quem pressentia meu desconforto.
– Fique tranquila, filha. Aqui você vai mostrar a profissional que é.
Antes que eu respondesse, a porta se abriu. Edgar entrou com passos firmes, sem olhar para os lados. Usava o jaleco aberto, as mangas arregaçadas, o crachá balançando no peito. Alto, loiro, os olhos azuis ainda mais frios do que eu lembrava.
– Finalmente – murmurou, sentando-se de frente para mim, sem cumprimentos.
O silêncio pesou por alguns segundos. Eu forcei um sorriso educado.
– É bom revê-lo, Edgar.
Ele ergueu o olhar, encontrou o meu e deixou escapar um riso breve, quase sarcástico.
– Revê-la? Eu não sabia que estava com saudade.
O ar se partiu. Edmundo pigarreou, tentando neutralizar a tensão.
– Vamos manter o foco – disse, abrindo a pasta com os papéis da clínica. – Diana vai assumir parte da coordenação de enfermagem e auxiliar nos projetos de expansão da área estética.
Edgar recostou-se na cadeira, cruzando os braços.
– Estética? – repetiu, o tom carregado de ironia. – Imaginei que, com tanta experiência em hospitais, você viria para algo mais… sério.
Mordi a língua. A vontade era responder à altura, mas respirei fundo. Não daria a ele o prazer de me ver perder o controle.
– Cuidar da autoestima é tão sério quanto uma cirurgia – retruquei calma. – As pessoas também adoecem quando não conseguem se reconhecer no espelho.
Por um instante, os olhos dele brilharam, como se não esperasse minha resposta. Mas logo voltou a frieza habitual.
– Veremos se consegue provar isso.
Edmundo interveio novamente, firme:
– Chega, Edgar. Diana é parte desta equipe. E você vai respeitar isso.
Ele não respondeu. Apenas me encarou, como se fosse uma batalha silenciosa. E naquele olhar havia algo além da hostilidade. Havia raiva, sim. Mas havia também algo que ele não queria admitir — e eu não ousava decifrar.
Saí da reunião com a sensação de que uma guerra antiga havia acabado de ser declarada outra vez.
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Edmundo me chamou para o refeitório e chegando lá tive uma grande surpresa.
— Vovô!!!
Um menino lindo veio correndo em nossa direção, lembrava muito Edgar mais novo, olhos azuis e muito marcantes
- Oi meu neto,vem aqui vc e seu irmão venham conhecer sua tia Diana!
Conhecer os filhos de Edgar foi como abrir uma porta que eu não esperava.
Maurício, de 13 anos, e Murilo, de 10, tinham olhos que lembravam o pai, mas corações muito diferentes. Me olhavam com uma curiosidade doce, sem a arrogância que sempre vi em Edgar. Murilo, o mais novo, logo criou o hábito de me chamar de Didi e até dizia, rindo, que um dia se casaria comigo. Eu ria, claro, mas no fundo aquilo aquecia um espaço em meu coração que eu acreditava estar fechado.
A mãe deles, Maria, era uma mulher serena. Enfermeira dedicada, tinha sido a primeira esposa de Edgar. Sempre percebi nela um afeto mal resolvido por Edmundo, meu padrasto, como se ainda houvesse um fio invisível os ligando. Maria me confidenciou que se separou de Edgar porque não conseguiu suportar a presença constante de outra: Suzana.
Ah, Suzana. Cardiologista renomada, elegante, 42 anos, alta como ele, cabelos castanhos lisos até os ombros, olhos verdes cortantes. Era a amante oficial de Edgar, mas sempre esteve ali, rondando a vida dele, antes mesmo da separação. Maria me disse um dia, com um sorriso amargo:
– Eu não perdi Edgar para outra mulher… eu perdi Edgar para Suzana.
E talvez fosse verdade. Suzana não era fácil de lidar. Prepotente, irritante, se comportava como se fosse superior a todos, e principalmente a mim. Muitas das provocações que vinham dela tinham raiz em Edgar, que com seu jeito cruel alimentava comparações absurdas entre nós.
– Ela desfila – dizia, com aquele tom irônico –, você rebola.
Eu odiava essas piadas. Elas me atravessavam como facas, porque vinham sempre com aquela pontada de verdade que ele usava para me ferir.
Ainda assim, havia algo em Suzana que me intrigava: ela era a única capaz de colocar Edgar no eixo. Não sei como. Entre idas e vindas, ela sempre aparecia nos momentos em que ele estava impossível. E, como um fantasma, o levava consigo. Quando voltava, voltava mansinho, domado. Era um mistério que eu preferia não desvendar.
O mais curioso é que, apesar de toda essa bagagem, Edgar não transformava o hospital em um palco de conquistas. Não precisava. As mulheres é que se lançavam sobre ele. Algumas entravam em sua vida, mas raramente saíam inteiras. Era como se ele fosse inesquecível, um vício do qual não se podia escapar. Maria precisou de terapia para seguir em frente, até entender que ele nunca mais seria dela.
Hoje, Maria Casada com Paulo, um advogado brilhante, negro, com um sorriso que iluminava qualquer ambiente. Um amigo em comum, ligado a Pietro, outro colega médico. Um homem digno, que fez Maria perceber que Edgar era apenas um capítulo doloroso do passado.
E, entre todos esses fios, lá estava eu: no meio de uma trama onde o passado de Edgar parecia sempre se misturar com o meu presente.
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Suzana Fontes
Maria Ribeiro
Paulo Vegas
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Atualizado até capítulo 80
Comments
MilitaryMan
Essa história me prendeu do começo ao fim!
2025-09-06
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