DIEGO
Capítulo 4
**Narração: Diego **
Três milhões de euros. É esse o valor que colocaram na cabeça da filha dele. A própria filha. E não foi qualquer sujeito podre de alma que ofereceu isso. Foi o pai dela. A porra do próprio pai.
Eu ouvi a proposta com os olhos frios e o cigarro amassado entre os dentes. Ele falava devagar, com aquele olhar de cobra que tenta te hipnotizar antes de dar o bote.
— Ninguém pode saber que partiu de mim — ele disse.
Como se eu fosse burro o suficiente pra sair por aí cantando o nome de quem paga meu silêncio.
O plano é simples. Primeiro, fazer com que ela desapareça. Ela precisa sumir do mapa sem rastros. Ele quer ver nos noticiários: “Herdeira das Indústrias Ferrari sequestrada. Polícia investiga”. Depois disso, o resgate: um valor alto o bastante pra parecer real. Ele pagaria com o próprio dinheiro, pra parecer que estava desesperado.
E por fim, o ato final.
O acidente.
O carro sem freio, uma estrada de curva, o penhasco, a explosão.
O corpo carbonizado o suficiente pra ninguém reconhecer. Enterro fechado, lágrimas falsas. Ele, viúvo de uma fortuna que nunca teve a decência de construir.
Eu aceitei. Com um sorriso torto e um gole de whisky barato.
Mas tem uma coisa que esse velho desgraçado não sabe: eu já sei quem é Luna Ferrari. Eu conheço o rosto dela, estudei sua rotina, seus passos, seus gostos, suas feridas.
Li tudo.
Vi entrevistas antigas, resgates da mídia, fotos borradas do acidente que matou a mãe dela. Um avião privado. Queda brusca. Fogo. Caixão lacrado. Foi três anos atrás, e ela nunca se recuperou.
Entrei tão fundo nessa merda que me vi preso numa obsessão silenciosa. Porque tem algo nela que me intriga. Talvez seja o jeito que ela segura a xícara de café na varanda do hotel. Ou o sorriso que ela força quando a imprensa encosta um microfone no rosto dela. Aquela solidão gritante por trás dos óculos escuros. Não sei. Mas tem algo em Luna que me puxa pro fundo.
O que sei é que, naquela noite em que recebi o contrato, dormi com a imagem dela no fundo da mente. Nem mulher nenhuma conseguiu apagar.
Eu deveria mantê-la viva tempo suficiente pra que o resgate aconteça. Depois, dar um fim nela com a porra de um carro sabotado.
Mas minha cabeça não é mais uma linha reta. É curva, instável, cheia de armadilhas. E Luna tá no meio disso tudo.
Na semana seguinte, iniciei os preparativos. Aluguei um sítio afastado no interior da Toscana, criei uma identidade falsa para o sequestro, e estabeleci comunicação segura com o advogado do pai dela — que, aliás, parecia tão sujo quanto ele. O tipo de sujeito que venderia a própria mãe por um pedaço de terra e uma garrafa de vinho caro.
A maior parte do trabalho é paciência. Observar, esperar, entender a rotina dela.
Ela frequenta um spa luxuoso três vezes por semana. Sai pra correr sozinha no parque ao lado da Villa. Tem segurança, sim, mas nada que eu não possa driblar com as conexões certas. O plano está quase pronto.
Só falta pegar ela.
Mas aí vem a merda: eu sonhei com ela.
Sonhei que ela me olhava de perto. Os olhos castanhos e brilhantes, o rosto limpo, o cabelo preso num coque bagunçado. Ela dizia:
— Você é melhor do que isso.
E eu acordava suando.
Caralho. Desde quando eu me importo com o que uma mulher que nem conheço pensa de mim?
Mas a verdade é que eu conheço sim. Conheço mais do que ela imagina. Sei que ela entrou em depressão depois do acidente da mãe, que deixou de sair de casa por meses, que a única que a tirou do fundo do poço foi uma tal de Marina — melhor amiga, fiel escudeira. Vi fotos das duas juntas, rindo com sorvete na calçada.
Ela herdou tudo. Casas, empresas, carros, joias. O testamento foi claro: tudo é dela.
Pro pai, sobrou apenas o cargo de presidente — temporário.
Ele sorriu, claro. Disse que não ligava.
Mas no fundo...
Ele odiou.
Odiou ser deixado de lado pela própria esposa, odiou o poder nas mãos da filha.
Odiou não ser mais o nome da fortuna.
É por isso que ele quer vê-la morta.
Quer o dinheiro todo.
Quer a porra do império sem precisar lidar com ela.
E eu, sou o filho da puta que ele contratou pra apagar a filha.
O pior? Ele escolheu bem.
Porque eu sei fazer isso.
Sei fazer sem deixar rastros.
Mas também sei o que é olhar nos olhos de alguém e sentir o peso do que você tá prestes a tirar.
Já matei por dinheiro antes.
Mas nunca uma mulher assim.
Eu ainda não encostei nela.
Mas ela já encostou em mim.
Na mente. Na alma, talvez.
E isso, fode tudo.
—
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Maria Isabel
tão linda essa história esperando ser atualizada logo
2025-08-03
2
Izaura Pessi
Hum não gostei desse cara não, muito feio 😞😞
2025-08-12
0
Izaura Pessi
Será que a mãe dela morreu mesmo
2025-08-12
0