Tem dias que eu acordo com vontade de desaparecer. Não morrer, não se assuste. Mas sumir. Virar poeira, vento, fumaça. Passar despercebida por todos, inclusive por mim mesma.
Essa manhã foi assim. Levantei da cama e Ítalo ainda dormia como uma criança emburrada. Nu, de bruços, com uma das minhas calcinhas rendadas azuis enfiada entre as pernas, roçando na coxa. A cueca dele jogada no chão. E eu... vazia.
Mais uma vez.
Fui até o banheiro em silêncio. Me olhei no espelho com a mesma cara de sempre: bonita, jovem, pele boa, olhos vivos... mas sem brilho. Um rosto que, quem vê de fora, jura que tem tudo. Mas quem vive aqui dentro sabe que não tem nada.
Já faz **um ano** que estou com Ítalo. E todos os dias eu tento me convencer de que o amo. Mas a verdade é que estou presa a ele como alguém que não sabe nadar e se agarra à primeira boia que aparece no mar revolto. Ele me salvou da solidão. Da depressão.
Mas nunca me deu prazer.
Literalmente.
Nunca.
Nenhum.
Perdi a virgindade com ele. Sangrei. Ardeu. Fiquei imóvel. Ele me virou de lado, depois de costas, forçou com um pouco de saliva, e terminou em menos de cinco minutos.
Eu perguntei se tinha feito algo errado.
Ele me mandou calar a boca. Disse que mulher quieta é mais excitante.
E eu acreditei.
Não sei o que é **gozar**. Não sei o que é gemer de verdade. Nunca ouvi um "te adoro" sussurrado com carinho. Mas já escutei muitos gritos quando tentei perguntar por que ele sempre me virava de costas e enfiava minhas calcinhas no rosto dele antes de transar.
Não que eu ache nojento. Mas... estranho.
E sempre que tento conversar, ele vira um monstro. Me xinga. Me culpa. Diz que eu deveria agradecer por ter alguém como ele.
E talvez... ele esteja certo.
Talvez eu devesse agradecer por ele ter estado comigo quando **mamãe morreu**.
💥 Foram os **pior três anos da minha vida**.
O telefone tocou às 4h da manhã. Um número estranho. Eu atendi com a voz grogue, e uma mulher séria disse:
— Você é filha de Verena Sartori Ferrari?
— Sou.
— Sinto muito. O avião que vinha da Suíça para Florença caiu. Não há sobreviventes.
Meu mundo acabou ali.
Ela estava indo fechar um contrato com uma multinacional, uma fusão que colocaria nossa empresa no topo da Europa.
Ela era tudo. Forte. Bela. Inteligente. Uma mulher que parecia imbatível.
E virou pó. Fogo. Metal retorcido. Nada.
Entrei em depressão profunda. Me tranquei em casa. Perdi peso. Parei de falar. Fiquei dias inteiros sem tomar banho. Quem me resgatou foi **Marina**, minha melhor amiga.
Ela invadiu meu quarto com pizza, vinhos e um tapa na cara. Literalmente.
— Chega, sua miserável! Você vai deixar a morte da sua mãe matar você também?
Ela gritou. Eu chorei.
E aos poucos, fui voltando.
A advogada da família me chamou duas semanas depois pra ler o testamento.
Eu tremia.
Imaginava que meu pai herdaria tudo.
Mas não.
**Mamãe deixou tudo pra mim**.
Tudo.
As joias, os carros, os imóveis, as ações, os investimentos secretos, as contas na Suíça, os cavalos, a casa no Lago di Como, a cobertura em Milão... até o cofre do banco com as cartas que ela dizia um dia me mostrar.
Tudo.
O que sobrou para o meu pai foi o cargo de presidente da empresa. Apenas isso.
Mamãe foi clara: **o cargo é dele até você completar 25 anos. Depois, ele deverá passar tudo pra você**.
Eu achei que ele ficaria feliz. Sempre dizia que só queria me ver bem. E eu sempre o obedeci.
Sempre fui a filha perfeita.
Mesmo quando ouvia minha mãe chorar sozinha. Mesmo quando via hematomas no braço dela e fingia que era maquiagem. Mesmo quando entendi que ele não a amava.
Ainda assim, quis acreditar que ele me amava.
Mas, desde aquele dia... os olhos dele mudaram.
Não me abraçou.
Não chorou.
Não disse "estou aqui".
Apenas assinou os papéis com a cara seca, saiu da sala e me mandou um áudio frio:
— Agora é sua. Espero que saiba o peso do que herdou. Boa sorte.
Eu ouvi aquilo deitada no chão do banheiro, abraçada ao perfume da minha mãe.
E jurei que **não deixaria o império dela ruir**.
Mesmo que eu mesma estivesse em pedaços.
📌 Hoje, três anos depois, estou de pé.
Presido reuniões. Assino contratos. Tenho uma linha de remédios e alguns cosméticos prestes a ser lançada. Mas ainda acordo sem saber o que é um orgasmo.
Sem saber o que é ser desejada de verdade.
Sem saber o que é ser... amada.
Ítalo se deitou ao meu lado agora há pouco. Tentou me virar de costas de novo.
Fingi cólica. Ele bufou, puxou a coberta, ficou no canto.
Não disse nada.
Nem eu.
Amanhã é o evento beneficente no hotel Vicenzo. Terei que discursar. E meu pai estará lá, sorrindo feito um lobo. Marina vai comigo, claro. Mas ela sabe que eu odeio essas noites.
Engraçado como **a mulher mais rica do salão é a mais sozinha também**.
E tem algo estranho no ar.
Não sei o que é.
Mas pressinto que algo está prestes a explodir na minha vida.
Talvez seja só TPM.
Ou talvez...
seja outra coisa.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Mavia Dantas
luna e ei o que acontece abraça com carinho e seja forte que e de onde que vai vi Vitória nas mãos do traficante que ja sofreu muito também /Scowl//Angry/
2025-08-03
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MEDUSA
que livro top amandooo cada capítulo autora fodastica todos os livros dessa autora são magníficos
2025-08-03
1
Vanildo Campos
tomara que no futuro ele acabe com esse dois fdp. da pior maneira possível 😡😡😡😡
2025-08-03
1