📘 Capítulo 1 — “Três Anos Atrás”
Fazem três anos que o mundo parou.
Três anos que meu telefone tocou às quatro da manhã com uma voz seca dizendo que o avião da minha mãe havia caído sobre o Mar Mediterrâneo. Nenhum sobrevivente. Nenhum corpo encontrado. Só o silêncio e uma caixa preta que nunca chegou.
Na época, eu tinha dezoito anos. Era uma garota rica, mimada na aparência, mas emocionalmente faminta. Minha mãe era tudo. Meu colo, minha razão, meu refúgio. E ela simplesmente… evaporou. Sem despedida, sem aviso, sem chance de dizer “eu te amo” uma última vez.
Eu afundei.
Não com estilo. Nada de lágrimas discretas ou cafés tristes em Paris. Afundei com vômitos, surtos, remédios escondidos debaixo da língua. Cheguei a ficar sem tomar banho por dias. Trancada no meu quarto, vendo o teto girar e perguntando a Deus por quê.
Se não fosse a Marina, eu teria morrido.
Ela me arrastou pra fora da cama. Me deu banho como se eu fosse uma criança. Me forçou a comer. Dormiu comigo por semanas. Me ensinou a andar de novo, mesmo sem ter quebrado nenhuma perna.
Foi também ela que me acompanhou na leitura do testamento. A sala do advogado era gelada. A cadeira, desconfortável. Meu pai estava ao meu lado, com os olhos vermelhos. Achei que ele estava arrasado. Hoje eu sei que ele só estava fazendo teatro.
Minha mãe deixou tudo pra mim.
As indústrias farmacêuticas. As ações. As contas milionárias. As joias, as casas, os carros. Tudo no meu nome. O que ela deixou pro meu pai foi apenas o cargo de presidente do Grupo Ferrari. Nada mais.
Na época, eu fiquei em choque. Ele também. Mas ele sorriu, segurou minha mão e disse:
— A mamãe sabia o quanto você é especial, Luna. Vamos honrar isso juntas.
Eu acreditei. Achei que ele estava feliz por mim. Achei que ele queria me proteger.
Afinal, tudo que ele pedia… eu fazia. Sempre fiz.
A faculdade que ele escolheu. As roupas que ele aprovava. Os eventos que ele mandava eu sorrir. Eu obedecia. Fui treinada pra isso.
Até Ítalo apareceu por causa dele.
Filho de um sócio antigo, ele surgiu nos jantares da empresa, nos eventos de gala. Tinha cabelo arrumado, roupas de marca e um perfume que todos elogiavam. Meu pai sempre dizia:
— Esse menino é um cavalheiro. É homem de família.
Aos poucos, Ítalo se aproximou. Gentilezas, presentes, flores. Começamos a sair. Eu ria porque parecia o que toda garota queria. E no fundo, eu só queria esquecer a dor. Queria me sentir viva de novo.
Começamos a namorar oficialmente. Hoje faz um ano.
Perdi minha virgindade com ele num final de tarde chuvoso. Dentro do carro dele, nos fundos de uma vinícola da família. Achei que seria especial. Foi… rápido. E seco. Ele me penetrou sem nem olhar nos meus olhos.
Eu não gemi. Nem doeu tanto. Nem senti prazer. Só fiquei ali, deitada, esperando acabar.
Depois disso, nossa vida sexual se tornou um roteiro fixo.
Ele nunca me chupou. Nunca beijou meu pescoço. Nunca explorou meu corpo com desejo real. A única coisa que o excitava de verdade era me virar de costas e me penetrar pelo ânus. E depois… vestir minhas calcinhas.
Sim, ele gosta disso.
Rouba as que eu deixo no banheiro. Veste escondido. E às vezes, durante o sexo, me pede pra chamá-lo de “vadiazinha”. Eu achava estranho. Muito estranho. Mas não falava. Quando tentei dizer que aquilo me incomodava, ele me gritou. Jogou um copo na parede e disse que eu era quadrada, burra, sem mente aberta.
Então eu calei. Como sempre calei.
Com o tempo, comecei a pensar que era assim mesmo. Que sexo era isso: uma obrigação mecânica. Que prazer era só coisa de filme. Eu nunca gozei. Nunca senti meu corpo tremer. Nunca soube o que era perder o controle nos braços de um homem.
Mas agora, olhando minha vida do alto dessa torre dourada, eu entendo.
Eu sou prisioneira.
De um pai controlador.
De um namorado narcisista.
E de um mundo que me fez achar que eu devia aceitar tudo calada.
Só que algo dentro de mim começou a mudar. Um desconforto. Uma inquietação. Um grito mudo querendo sair. Eu comecei a reparar nos toques. Nas ausências. Na forma como meu pai me usava em jantares para fechar contratos, me exibindo como um troféu. Nos olhares gelados que ele lançava quando eu dizia que queria viajar sozinha. Na forma como ele sorria — aquele sorriso falso, ensaiado — sempre que alguém dizia “a Luna tem tudo, né?”
Sim. Eu tenho tudo.
Menos liberdade.
Menos verdade.
Menos… prazer.
Hoje acordei com uma angústia no peito.
Marina me ligou cedo. Disse que sonhou com minha mãe. Que ela aparecia de vestido branco, chorando. Eu tentei rir, mas não consegui. Fazia dias que eu também vinha sonhando com ela. Sempre me olhando, mas nunca falando.
Como se estivesse tentando me alertar. Me avisar de algo. Mas o quê?
Olhei pro lado e Ítalo estava dormindo na minha cama, de calcinha rosa. A minha. Uma que comprei em Paris. Ele ressonava feito um bebê. E eu senti nojo. Não dele vestir aquilo — mas de mim permitir isso sem sentir nada. Sem dizer nada.
Levantei devagar. Fui até a varanda. Senti o vento gelado bater na pele e fechei os olhos.
Três anos atrás, minha mãe morreu.
E com ela… eu também morri um pouco.
Mas agora, algo em mim está acordando.
Algo sombrio. Algo faminto.
Algo que não aceita mais migalhas.
Eu não sei o que vai acontecer.
Mas sei que alguma coisa… está vindo.
E vai mudar tudo.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Mavia Dantas
esse namorado da luna e mulher do pai dela só pôde vixe
2025-08-03
3
Vanildo Campos
ele é gay 🫣🫣🫣🫣🫣🫣🙈🙈🙈🙈🙈
2025-08-03
1
Izaura Pessi
Esse é um verdadeiro marica , que nojo 🤮🤮🤮🤮🤮🤮🤮🤮
2025-08-12
0