...Alina...
Os aplausos soaram pelo estúdio.
O diretor estava satisfeito. Os câmeras sorriam entre si. Uma das maquiadoras soltou um “uau” audível.
Mas eu não ouvia nada.
Tudo o que sentia ainda estava nos lábios.
Me afastei devagar. Caminhei até uma das cadeiras com meu nome escrito. Peguei uma garrafinha d’água, mas minha mão ainda tremia. A tampa caiu no chão. Não me abaixei para pegar.
Celeste continuava parada no meio do set.
O sorriso dela era leve… mas os olhos estavam diferentes.
Mais sérios. Mais intensos.
Foi ela quem veio até mim — como sempre era.
— Então… o que achou? — perguntou, casual, mas com aquele brilho no olhar de quem sabe exatamente o que fez.
— Ficou bom para a cena. — respondi, fria.
— Só para a cena?
Não respondi.
Não sabia.
Antes que ela pudesse continuar, o diretor passou entre nós:
— Meninas, vocês foram incríveis. A química tá absurda. Vamos virar tendência em tudo que é rede social quando essa série sair.
Um dos assistentes completou:
— Vocês viram como a equipe ficou em silêncio? Até o cara do som parou de respirar.
Celeste riu. Eu não.
O diretor se afastou e ela voltou o olhar para mim.
— Vai continuar fingindo que isso não mexeu com você?
Ergui uma sobrancelha.
— Está confundindo atuação com emoção real.
— E você está confundindo medo com frieza.
O silêncio entre nós ficou pesado.
Celeste deu um passo para trás.
— Tudo bem. Você não precisa dizer nada. Mas não fuja de mim hoje. Me encontra na saída, depois da gravação. Só para conversar.
E, antes que eu recusasse, ela já tinha ido.
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Horas depois.
As gravações terminaram. Todos começaram a guardar equipamentos, figurinos e maquiar novas atrizes.
Olhei para a saída. Celeste estava lá.
Encostada na parede, olhando o celular.
Cabelos rosa levemente bagunçados, como se tivesse corrido até ali.
Eu podia ir embora.
Podia ignorar.
Mas algo… me puxava.
Caminhei até ela. Silenciosa. Como sempre.
Ela levantou os olhos, surpresa — mas não tão surpresa.
— Achei que você não viria.
— Achei o mesmo.
Ela sorriu.
— Quer… dar uma volta?
Assenti.
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Minutos depois, dentro do carro particular de Celeste.
Ela dirigia sem pressa, as ruas vazias, e uma música instrumental suave tocava.
Ela não falava. Nem eu.
Até que ela parou o carro em frente a uma vista da cidade iluminada.
— Esse é meu lugar favorito. Quando eu tô confusa… venho pra cá.
Ficamos em silêncio por mais alguns segundos.
Até que ela falou:
— Você me assusta, Alina.
Virei o rosto, surpresa.
— Por quê?
— Porque você é tão fechada… tão linda e tão distante, que às vezes eu não sei se tô falando com a atriz ou com a pessoa real.
— E o que você prefere?
— Prefiro a que me beijou hoje… sem atuar.
Olhei para ela.
Ela estava tão perto.
De novo.
Mas agora… eu queria estar perto também.
— Você… tá se apaixonando? — perguntei, a voz mais baixa do que imaginei que sairia.
Ela sorriu, os olhos marejando com doçura.
— Alina… eu já tô.
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O silêncio entre nós era confortável pela primeira vez.
Celeste ainda me olhava, olhos azuis vibrando sob as luzes da cidade refletidas no para-brisa.
Eu não conseguia entender aquele sentimento no peito — apertado, quente, desconcertante.
Era como se ela tivesse invadido um lugar que eu mantive trancado por anos.
Ela quebrou o silêncio, com a voz mais doce do que nunca:
— Alina… posso te fazer uma proposta?
Virei o rosto devagar.
— Que tipo de proposta?
Ela mordeu o lábio inferior, pensativa por um segundo.
— E se a gente namorasse?
Meu coração deu um leve baque. Me mantive impassível.
— Celeste…
— Calma. — ela ergueu as mãos, sorrindo com leveza. — Não tô falando de namoro real. É… profissional. Um namoro de contrato.
Arqueei a sobrancelha, surpresa.
— Você está propondo fingirmos um relacionamento?
— Sim. Quer dizer, só por enquanto. A série vai chamar muita atenção. A gente já tem química demais na tela, e a mídia vai inventar de qualquer jeito. Se a gente assumir um namoro, mesmo que seja de mentira, tudo fica mais fácil de controlar. A imprensa para de caçar fofocas e a gente ganha ainda mais projeção.
Pensei por alguns segundos, observando as estrelas pela janela.
— E se eu recusar?
Celeste não hesitou. A resposta dela veio sem drama, sem joguinho:
— Nada.
— Você continua sendo minha colega de elenco… e talvez minha amiga, se quiser.
— Mas… eu sou a única pessoa que deixa você com esse sentimento estranho. Não sou?
Minha respiração parou por um segundo.
Ela sabia. Ela sentia.
— Você é fria com todo mundo, Alina. Até com o diretor. Com sua equipe. Com os fãs. Mas comigo… você olha diferente. Você para de andar quando me escuta. Seu olhar demora mais. E hoje, depois daquele beijo… eu vi. Você sentiu.
Fechei os olhos por um instante, tentando controlar a maré dentro de mim.
— Eu não sei o que estou sentindo — confessei, baixo.
Ela sorriu, sem zombar.
— Então vamos fingir que estamos namorando… e, no caminho, talvez a gente descubra.
Abri os olhos. Ela ainda estava ali, firme.
— E se eu acabar me apaixonando de verdade?
Ela inclinou o rosto, e com o sorriso mais honesto que já vi nela, respondeu:
— Então a gente rasga o contrato.
Silêncio.
Então, depois de alguns segundos, estendi a mão para ela.
— Me manda esse contrato, Celeste.
Ela riu, pegando minha mão com as duas dela.
— Pode deixar, senhorita Moreau. Nosso amor… agora tem cláusulas.
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A luz suave da luminária preenchia meu quarto com tons âmbar. Estava sentada no sofá, ainda vestindo a camisa preta de gola alta que usara durante o dia, quando o som da notificação preencheu o silêncio.
Celeste havia enviado o contrato.
Abri o anexo sem hesitar.
O documento tinha uma apresentação formal, mas a identidade visual era… rosa claro. Com estrelinhas e corações minúsculos nas laterais. Suspirei, balançando a cabeça. Aquilo era tão Celeste.
Comecei a ler:
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Contrato de Relacionamento Público
Entre: Alina V. Moreau (A) e Celeste Ainsworth (C)
Com o objetivo de beneficiar a imagem pública de ambas as partes, promover engajamento da nova série e criar um ambiente confortável e positivo diante da mídia, ambas concordam com os seguintes termos:
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Duração do contrato:
— 3 meses (renovável por consenso mútuo).
Acordos públicos mínimos (por semana):
— 1 aparição pública conjunta (eventos, jantares, entrevistas).
— 2 postagens em redes sociais simulando intimidade.
— 3 aparições espontâneas monitoradas por paparazzi.
Demonstrações físicas permitidas e incentivadas:
— Beijos (sob acordo prévio).
— Abraços prolongados.
— Mãos dadas em público.
— Carinho em cabelo ou rosto.
— Uso de apelidos (opcional, mas recomendado).
Privacidade e respeito:
— Nenhuma parte poderá expor assuntos íntimos reais uma da outra.
— Nenhuma parte é obrigada a manter intimidade real fora do acordo.
— Caso sentimentos reais surjam, devem ser discutidos com maturidade.
Reajustes no contrato:
— Qualquer cláusula pode ser renegociada por desejo mútuo.
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No final, havia um espaço para assinatura e um pequeno recado, escrito em letras menores… como se fosse um sussurro:
> PS: Se quiser trocar os beijos por abraços, eu aceito. Mas se quiser beijos extras, também aceito.
Fechei o arquivo e encarei o teto.
Ela estava mesmo levando aquilo a sério — e de forma absurda e fofa.
Cada detalhe cuidadosamente pensado. E o pior: funcionava. A ideia de dar as mãos com ela em público não me causava desconforto. Pelo contrário… meu peito acelerava só de imaginar.
Respirei fundo.
Abri o aplicativo de assinatura digital, assinei, e enviei de volta com uma única mensagem:
> Cláusula 3 aprovada.
Prepare-se, Ainsworth.
Ela respondeu segundos depois com um áudio, a voz suave, quase cantada:
— Eu sempre tô preparada pra você, Moreau.
Sorri.
E era raro… muito raro… eu sorrir.
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Atualizado até capítulo 41
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