Almas não se desprendem PT 1

Fevereiro de 1917.

Leonor:

Algumas semanas se passaram como um piscar de olhos, tenho saído pouco por conta

das crianças, algumas ficaram doentes esta última semana, mas como elas tem muita sorte

se curaram rapidamente, ainda não consegui esquecer o beijo que Joaquim me deu, toda

vez que me lembro consigo sentir o sabor dos seus lábios e o cheiro de seu perfume, sei

que ele está totalmente fora de cogitação, mas toda vez que penso nele meu coração

dispara. Ainda não sei o que ele pensa sobre mim e se foi apenas uma brincadeira para ele,

mas gostaria que ele sentisse a mesma coisa que estou sentindo neste momento, na

próxima semana será meu aniversário de 16 anos, vou realizar um grande sonho,

finalmente juntei dinheiro suficiente para me hospedar em um hotel na cidade, ia ser a

primeira vez dormindo em um quarto sozinha, comendo comida feita por outra pessoa,

inclusive vou usar um vestido novo que a modista fez para mim, ele é branco com mangas

de renda, o desenho das flores em sua saia são muito delicados, nunca imaginei que um

dia usaria algo do tipo.

Levanto de minha cama e dou uma olhada nas crianças que ainda estão

dormindo, escovo meus dentes, troco de roupa e vou preparar o café da manhã, sento-me à

mesa junto dos meus amigos para desfrutar da refeição antes das crianças acordarem,

prometi levá-las a plantação de café novamente para brincarem.

-Leonor, tudo pronto para seu aniversário?

-Claro, vou aproveitar para fazer mais doces e entregar.

-Você precisa descansar, garota.

-Eu vou, pode ser apenas por uma noite, mas vai valer a pena.

-Vai sim, já conversei com a Senhora, ela disse que arrumaria um bom

partido para você.

-As mulheres da sua idade só pensam em casamento mesmo.

-Leonor, você não tem família desde criança, está na hora de ter alguém com

quem contar.

-Tenho vocês.

-Não é a mesma coisa, você vai entender o dia que tiver seu próprio filho.

-Eu já amo as crianças como se fossem minhas.

-Acredite em mim quando digo que o amor que sente por nossos filhos não

vai ser nem próximo do que vai sentir pelos seus.

Termino meu café da manhã e me lavando indo em direção ao quarto para

acordar as crianças, vamos ter um dia cheio hoje.

-Leonor, não volte tarde.

-Claro, as crianças se recuperaram a pouco tempo.

As crianças saem do quarto e se sentam para tomar o café, não demora

muito até estarem prontas e entusiasmadas para o passeio, elas gostam muito de ir até a

plantação para brincar por entre os pés de café.

Joaquim:

Algumas semanas já se passaram sem ir à plantação e meu pai quer muito

que eu aprenda como cuidar da fazenda, inclusive me contou toda a história de nossa

família, não via a hora de sair de dentro de casa. Preciso me divertir um pouco, mesmo que

seja com esses caipiras, quando estava andando em meio a plantação vejo a garota,

Leonor, ela estava com um vestido branco, solto, seus cabelos castanhos presos, ao

contrário da última vez que a vi, hoje ela estava perfeita. Fui em sua direção, ela estava

com as crianças, acredito que ela será uma grande mãe, já que ela dará toda a atenção

necessária, além de ter bastante paciência.

Conforme me aproximo ela nota minha presença e tenta sair dali como se

estivesse vendo um demônio, acho que o beijo que dei nela a deixou com vergonha,

olhe já está corando .

-Leonor, como está? (Falei sorrindo)

-Joaquim, quanto tempo não o vejo. (Que maneira de puxar assunto)

-Meu pai estava me ensinando a história da fazenda e como administra-lá.

-Ouvi falar que você e seu irmão Francisco, cuidaram da fazenda no futuro.

-Sim, afinal meu pai quer se aposentar e viajar com minha mãe.

-Eles merecem.

Leonor olhou para o horizonte como se quisesse fugir, essa garota é muito

engraçada.

-A propósito, tem planos para a próxima semana? (Eu talvez tenha com

você)

-Sim, tenho, por que a pergunta?

-Gostaria de conhecer melhor os funcionários da fazenda.

-É uma boa ideia, na próxima semana vou à cidade.

-Que ótimo, ouvi falar que tem alguns lugares para visitar.

-Não tem muitos como a capital, mas para alguém como eu é perfeito.

-Você é perfeita, não se menospreze.

Leonor parecia sem jeito, passou a mão em seu cabelo e ficou um pouco

vermelha.

-Joaquim.

-O que foi? É apenas o que vejo.

-Você nem me conhece.

-Claro que sim, posso dizer o que sei sobre você?

-Não precisa. (Ela corou novamente)

-Vou dizer mesmo assim, você é doce, gentil, paciente e sonha em ter sua

própria família, mas ao mesmo tempo não quer abrir mão de sua independência.

-Parece que alguém andou me estudando, assim você parece um maníaco,

sabia?

-Ei, sou só um bom observador. Então o que vai fazer na próxima semana?

-É meu aniversário, vou realizar um grande sonho, sei que você pode achá-lo

pequeno.

-Nenhum sonho é pequeno, me conte.

-Vou pela primeira vez dormir em um hotel na cidade, ter um quarto só para

mim, mesmo que seja apenas uma noite.

-Você não tem um quarto?

-Não, eu durmo com as crianças.

-Então você certamente tem um grande sonho, não se menospreze.

Alguns dias se passaram e logo o dia do aniversário da Leonor chegou.

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