Cap. 5

O despertador tocou às cinco e trinta da manhã, mas Camila já estava acordada há muito tempo, olhando para o teto do quarto, sentindo o coração bater rápido tentando  controlar a respiração para se acalmar. Era segunda-feira, dia de começar a trabalhar na Rossi Digital.

Camila se levantou, e tomou um banho rapido vestindo a melhor roupa que tinha. Ela prendeu os cabelos num coque simples, e fez uma maquiagem simples, e saiu de casa em silêncio, para não  despertar a casa, não queria que ninguém tentasse acabar com a felicidade que sentia.

Pouco depois das oito da manhã, Camila já estava na recepção da Rossi Digital. A recepcionista a reconheceu, e com um sorriso educado, acompanhou Camila até o RH, onde uma mulher elegante, de terno cinza-claro, a esperava com uma prancheta na mão.

_Camila Teixeira? Bom dia e bem vinda a Rossi Digital. Eu me chamo Daniela, e sou gerente de RH. Venha comigo, vou te apresentar todos os setores da empresa.

_ Bom dia, e obrigada.

Durante o tour, Daniela explicou os departamentos, apontou salas, apresentou algumas pessoas para Camila, que sorriu tentando caminhar sem tropeçar com os saltos e respira sem parecer em pânico.

Mas foi no elevador, rumo ao andar que trabalharia, que Camila sentiu a ansiedade tomar conta dela. Sozinha, com a pasta de anotações nas mãos, Camila sentia o suor frio escorrer pela nuca quando elevador apitou, e as portas se abriram.

Camila parecia que ainda não acreditava que tinha um crachá com seu nome, um notebook com senha pessoal e mesa só para ela no andar executivo. E o mais surpreendente, seu chefe direto era Rafael Rossi.

Ela caminhou até a recepção executiva, onde a secretária a cumprimentou antes de indicar a sala de Rafael.

_Pode entrar. O senhor Rossi já está te esperando.

_Ok, obrigada.

Camila respirou fundo. Bateu levemente à porta. Ouviu um entre firme e abriu a porta com cuidado.

_ Com licença...

Ela entrou na sala e lá estava ele, Rafael Rossi, trabalhando desde cedo, vestindo um terno azul-marinho impecável. Os olhos estavam grudados na tela do notebook, mas assim que escutou a voz de Camila, ele ergueu o rosto para olhá-la.

_Camila, bom dia. Seja bem-vinda...

_Obrigada, senhor Rossi. Camila respondeu baixinho, tentando parecer confiante.

_ Pode me chamar de Rafael… Pediu Rafael endireitando sua postura.

_ Certo… Rafael... Camila sorriu fazendo Rafael ficar em silêncio por alguns segundos.

_Bom... Vamos direto ao ponto? Rafael se levantou, pegando uma pasta sobre a mesa. _Aqui está o cronograma da semana, sua agenda provisória, com contatos importantes e algumas orientações. Vou te passar alguns orientações, para que fique ciente do que espero de você.

Camila pegou a pasta da mão de Rafael, tentando não tremer. Ele estava muito perto dela, tanto que ela podia sentir o cheiro do perfume amadeirado que ele usava, perfume que parecia envolvê-la como um aviso. Era sutil, sofisticado, inebriante. Por um segundo, Camila perdeu a linha de raciocínio, e se odiou por isso.

_Alguma dúvida? Rafael perguntou, encarando-a.

Camila piscou rápido, como se voltasse à realidade.

_Ainda não. Mas... se eu tiver, posso perguntar?

_Deve perguntar. Não estou esperando perfeição, Camila. Só dedicação. E isso, pelo que vi, não falta em você.

Ela sorriu, sentindo a pele queimar ao receber um elogio inesperado.

Rafael voltou à sua cadeira, mas seus olhos ainda a observavam. Havia algo naquela jovem mulher que despertava a sua curiosidade. Camila não parecia se encaixar ali,  mas talvez justamente por isso chamasse tanta atenção.

Ele passou o dia explicando os processos, organizando a rotina de compromissos, repassando emails, apresentando os sistemas para Camila.

Rafael era exigente, e rápido.  Mas, diferente de todas os outras pessoas com quem Camila havia trabalhado. Ele sabia ouvir, corrigir, mas sem humilhar. Dava liberdade e cobrava responsabilidade.

 Na primeira tarefa que Rafel passou para Camila, ela quase derrubou uma xícara de café na mesa dele.  Na segunda, esqueceu um anexo importante no e-mail.

_Você está bem? Ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.

Camila sentiu arrepiar até a raiz dos cabelos tomada pelo nervosismo.

_ Desculpe... Eu estou um pouco nervosa. Mas eu aprendo rápido, prometo.

Rafael não respondeu. Apenas a observou por longos segundos antes de voltar ao computador. Ele já tinha visto centenas de profissionais tentando impressioná-lo, e que não parecia ser o caso de Camila. Naquele momento, Rafael ainda pensava que ela não sobreviveria ao ritmo da empresa. Mas havia algo que não soube ignorar: Camila não fingia saber o que não sabia. Admitia suas falhas com honestidade. Perguntava quando tinha dúvidas, e não cometia mais o mesmo erro.

E, apesar dos tropeços, Camila demonstrava algo raro: vontade genuína de crescer por merito em vez de bajular.

Enquanto isso, Camila sentia o cérebro ferver tentando acompanhar o ritmo de Rafael. Mas ao final do dia, quando o escritório começava a esvaziar, ouviu o inesperado:

_Bom trabalho hoje... Foi acima do que eu esperava.

Ela ergueu os olhos para Rafael, surpresa.

_Sério? Pensei que tinha sido um desastre.

_Não, e eu não costumo elogiar por hábito. Rafael disse, com um sorriso discreto. _Mas sim. Você tem algo diferente.

Camila sorriu, e por dentro sentia algo se agitar.

_Obrigada… nos vemos amanhã. Boa noite. Ela se despediu.

_ Boa noite… Até amanhã.

Camila saiu sob o olhar atento dele. Ela ainda era um enigma para Rafael, que se pegou esperando pelo bom dia dela no dia seguinte.

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