O salto estava apertando.
O vestido colado nas curvas.
E o sorrisinho torto no canto da minha boca? Ah, esse era puro deboche. Porque eu estava em uma daquelas festas onde ninguém se importa com ninguém, mas todo mundo finge que está encantado.
Champanhe em taças finas. Conversas sobre ações, fusões e… confusões de ego.
Lily- Só fico mais trinta minutos, Mário. Depois disso, juro que deixo meu sapato virar arma — sussurrei no ouvido do meu melhor amigo.
Ele riu. Beijou minha bochecha com carinho e apontou discretamente com o queixo.
Mario - Trinta minutos é o tempo que você precisa pra conhecer ele.
Revirei os olhos.
Lá vem.
Virei devagar na direção indicada e meus olhos pousaram sobre ele.Alto. Ombros largos. Camisa branca alinhada impecável. Cabelos escuros, alinhados como se nenhum fio ousasse desobedecer.A barba bem feita, desenhando o contorno do maxilar com uma perfeição quase irritante.
E o sorriso… ah, o maldito sorriso. Aquele tipo de curvatura nos lábios que não pedia permissão pra entrar, só dominava tudo à sua volta.
Adam Moretti.
Meu coração deu uma batida diferente.
Mas minha mente reagiu com ironia imediata.
Claro. Rico. CEO. Bonito. E provavelmente um péssimo conversador.
Eu, por outro lado, vestia um preto justo o suficiente pra causar um leve incômodo em olhos conservadores e solto o bastante pra me deixar dançar se eu tivesse coragem naquela festa engomada.Meus cabelos loiros estavam presos com alguns fios descendo pelo rosto ..
Maquiagem leve, brilho nos olhos e minha arma favorita: a língua afiada.
Aproximei-me com minha taça em mãos. Ele nem me notou de primeira estava cercado por dois homens engravatados e uma mulher que parecia ter saído direto de um editorial da Vogue.
Foi Beatriz, sempre maravilhosa e direta, quem nos apresentou.
Beatriz - Adam, essa é a Lili, amiga do Mário.
Lily- Lilian — corrigi, estendendo a mão. — Mas você pode me chamar de Lili. Só meus inimigos me chamam pelo nome completo.
Ele olhou para minha mão estendida como quem avalia um contrato antes de assinar. Apertou, mas rápido, frio. Como quem cumpre um protocolo.
Adam - Adam Moretti — ele disse, sem sorrir.
Lily - Eu imaginei. Seu visual grita seu nome antes de você abrir a boca.
Adam - Isso é bom ou ruim?
Inclinei a cabeça, avaliando o homem à minha frente.
Lily- Depende. Está tentando impressionar ou intimidar?
O canto da boca dele se mexeu. Quase um sorriso. Quase.Mas ele se recompôs rápido.
Adam - Nenhum dos dois. Só estou tentando sair vivo dessa noite.
Lily- Uau — ri, girando a taça com elegância provocativa.
Lily- Um CEO que detesta eventos sociais. Que original.
Ele arqueou uma sobrancelha.
Adam - Você fala demais.
Lily- E você parece alguém que ouve de menos.
Silêncio.
Olhares.
E ali, no meio de uma festa entediante, algo inesperado aconteceu.Ele me olhou de verdade. Não com desdém. Não com indiferença.
Com curiosidade.Como se estivesse tentando entender quem, no inferno, era essa mulher que não se calava diante dele.
Foi nesse momento que eu soube duas coisas:
Adam Moretti não estava acostumado a ser desafiado.
Eu seria a exceção dessa regra.
O que eu ainda não sabia… é que ele me olhava como se tivesse acabado de encontrar a solução para o maior problema da vida dele.
E eu?
Mal sabia que estava prestes a receber a proposta mais absurda e tentadora da minha vida.
Adam narrando ..
Ela tinha resposta pra tudo.
Uma língua afiada, um sorriso provocador e aqueles olhos claros que me encaravam como se me conhecessem há anos e ainda assim não estivessem nem um pouco impressionados.
Lilian Nogueira. Ou Lili, como fez questão de corrigir.
Ela se afastou com um rebolado sutil, nada forçado, mas que chamava atenção até de quem fingia não notar.Eu observei por mais tempo do que devia.
Beatriz- Gosto dela. — a voz de Beatriz soou atrás de mim, com aquele tom divertido e ácido que só ela tinha.
Revirei os olhos e virei o rosto, encarando-a.
Adam - Você gosta de quem me tira do sério.
Beatriz - Exatamente por isso. — ela sorriu, cruzando os braços sobre o vestido longo preto, clássico e elegante como ela.
Beatriz -Faz bem pra você. Você está ficando azedo demais, Adam.
Adam - Estou cansado. — murmurei, pegando uma nova taça da bandeja de um garçom que passava.
Adam - Esses eventos são uma perda de tempo. Falsidade em traje de gala.
Beatriz ergueu uma sobrancelha, sorrindo como quem tinha um ás escondido.
Beatriz - E mesmo assim veio. Por quê?
Adam - Mário insistiu. Disse que era “estratégico”. Como tudo na vida dele.
Beatriz - Ou talvez você só esteja entediado com sua própria previsibilidade.
Adam - Beatriz… — dei um meio sorriso, cansado.
Adam - Começou com a filosofia de taça cheia?
Beatriz - Não. Comecei com o óbvio que você se recusa a ver. — Ela me lançou aquele olhar de irmã mais velha que não tinha, mas que adorava bancar.
Beatriz - Você vive cercado de gente que te obedece, te bajula ou te teme. É por isso que ficou hipnotizado por Lili. Ela não fez nenhum dos três.
Suspirei.
Ela estava certa. Mas não precisava jogar isso na minha cara com tanta elegância.
Adam - Ela é… diferente.
Beatriz - Ela é o caos que você precisa. E antes que você fuja, eu já sei o que vai dizer: que tem trabalho, que não tem tempo, que não quer se envolver.
Adam - Porque é verdade.
Beatriz me olhou por um segundo mais longo, como quem avaliava se dizia o que vinha a seguir. Mas no fim, apenas suspirou.
Beatriz - Por enquanto, Adam. Só por enquanto.
Enquanto ela se afastava, a voz dela ainda ecoava na minha cabeça.
“O caos que você precisa.”
Olhei de novo para onde Lili conversava com Mário.Ela ria, os olhos brilhando. Leve, viva, cheia de presença.Tudo o que eu evitava. Tudo o que eu desprezava.Tudo o que eu, contra toda lógica, queria ver de novo.
Mal sabia eu…
Que o caos estava só começando.
E que, naquela mesma semana, meu pai deixaria claro:
Se eu quisesse o império da família, eu teria que me casar.
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Atualizado até capítulo 34
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