A dor era absurda.
Ela se espalhava como fogo pelos ossos de Elena, queimando, retorcendo, quebrando o que antes era humano. O corpo todo tremia, pulsando entre o que era e o que queria ser. Cada centímetro dela gritava, se esticava, se desfazia. Ela queria fugir da própria pele, do peso nos ombros, do calor que ardia sob a espinha.
Mas não havia para onde correr.
A transformação havia começado.
— Elena, olha pra mim — a voz de Liam soava firme, quase áspera, mas não havia dureza ali. Havia urgência. Instinto. Dor partilhada.
Ela tentou erguer os olhos. Viu os pés dele, depois as pernas, os traços marcados do rosto emoldurado pela barba por fazer. Mas o que a atingiu como um soco foi o olhar. Aqueles olhos cinzentos que agora brilhavam intensamente sob a luz da lua.
— Está tudo bem… — ele disse, agachando-se ao lado dela. — Deixa acontecer. Não luta contra.
Ela gritou. Um som primal, animal, rasgado do fundo do peito. Os dedos se esticaram em garras. A coluna se curvou para trás. As roupas se desfizeram com o movimento do corpo se expandindo. Era dor e renascimento. Era destruição e poder.
Ela caiu de lado, arfando, suando, chorando. O mundo girava. Os sons da floresta pareciam mais altos, mais presentes. O farfalhar das folhas, o pio das corujas, até o sangue correndo em suas veias — tudo ecoava.
E então... silêncio.
O instante exato em que o corpo parou de lutar e simplesmente se tornou.
Quando Elena abriu os olhos de novo, não estava mais em dois pés. Suas mãos não eram mais mãos. Suas pernas não terminavam mais em pés. Sentia o solo sob as patas, os pelos arrepiados com o vento frio, e um faro tão apurado que o mundo parecia outro.
Ela era uma loba.
Ficou imóvel por um segundo, ofegante. Tentando entender. Tentando sentir. Tentando aceitar que a criatura dentro dela agora tinha nome, forma… e liberdade.
Liam se afastou alguns passos, então, diante dela. E ali, sem hesitar, deixou que o próprio lobo tomasse forma.
Ela viu quando os ossos dele se alongaram, quando os músculos se moveram sob a pele, quando o homem desapareceu — e no lugar ficou um lobo imponente, negro como a noite, olhos de tempestade e presença dominante.
O Alfa.
Ele se aproximou devagar, sem ameaças. O cheiro dele era o mesmo que havia sentido em todos os sonhos. Aquele que a puxava para si. Que aquecia a alma mesmo sem toque. Quando roçou o focinho no dela, Elena sentiu algo se acender em seu peito. Uma chama antiga. Um elo invisível.
O vínculo.
Era como se duas peças de um mesmo quebra-cabeça finalmente tivessem se encaixado. Não era só química. Nem só destino. Era alma.
Liam recuou, uivando para a lua. Um som que cortava o céu com força e reverência. Elena, instintivamente, ergueu o rosto e respondeu.
Foi nesse momento que ela soube:
ela não estava mais sozinha.
Ali, sob a luz da lua, em meio à floresta, ela havia morrido — e renascido como quem realmente era.
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Horas depois, já transformados de volta, Elena dormia envolta em um cobertor, o corpo exausto, a mente confusa, a alma em paz. Liam permaneceu ao lado dela, em silêncio, observando a respiração ritmada e o rosto sereno.
Sabia que o mais difícil ainda estava por vir.
Quando ela acordasse, precisaria de respostas.
E ele estaria ali, pronto para dar todas — mesmo que isso significasse revelar os segredos que jurou carregar para sempre.
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Atualizado até capítulo 45
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