O céu estava tingido de âmbar e cinza quando Elena resolveu seguir a trilha que cortava a floresta atrás da cidade. Ela caminhava como quem tentava fugir de algo — embora nem ela mesma soubesse o quê. Nos últimos dias, algo dentro dela parecia fora do lugar. Os sonhos estavam mais vívidos. As emoções, mais intensas. E os sons... os sons vinham como ecos distantes que ela conseguia ouvir claramente, mesmo quando ninguém mais parecia perceber.
Ela tentava ignorar.
Tentava fingir que estava tudo bem, que era apenas imaginação. Mas seu corpo sabia. Sua pele formigava com o toque do vento, seu coração batia com força ao menor estresse, e uma sensação incômoda a acompanhava desde que acordara naquele dia — como se estivesse sendo observada.
E estava.
Liam a viu primeiro, a distância. Estava ali por acaso — ou talvez não fosse acaso algum. Seu lobo sentira a aproximação. Um cheiro diferente, quente, adocicado. Familiar e ao mesmo tempo novo. Ele parou de andar no mesmo instante em que o vento soprou na direção certa.
O cheiro dela.
Seu corpo inteiro reagiu.
Liam ficou imóvel, os músculos tensos, os sentidos aguçados como se estivesse prestes a entrar numa luta. Mas não era medo. Era o instinto mais antigo de todos, aquele que sua espécie carregava há séculos: a presença da companheira.
Ele a observou caminhar entre as árvores, distraída, com os cabelos soltos voando suavemente ao redor do rosto. Usava um vestido simples, sandálias presas com tiras finas, e segurava um livro contra o peito. A luz do entardecer tocava sua pele com delicadeza, e Liam sentiu algo que não sentia havia anos: paz.
E um desejo feroz de protegê-la.
Ela não percebeu a presença dele de imediato, até se virar em um ponto da trilha e dar de cara com a figura parada a poucos metros à frente. Elena estacou. O ar lhe fugiu dos pulmões por um instante. Não era comum encontrar alguém ali. Muito menos um homem como aquele.
Ele era enorme. Forte. Vestia roupas simples — jeans, camiseta escura, botas sujas de barro. Mas não era isso que chamava atenção. Era o olhar. Olhos cinzentos que pareciam vê-la inteira. Não por fora, mas por dentro.
— Me desculpe — ela disse, tentando disfarçar o susto. — Não esperava ver ninguém aqui.
— Nem eu — respondeu ele, a voz rouca, grave, e surpreendentemente tranquila. — Mas... que bom que nos encontramos.
Ela o olhou, desconfiada e curiosa. O tom era estranho. Como se ele estivesse falando de outra coisa. De algo mais profundo do que um simples “olá”.
— Eu sou Liam — ele se apresentou, dando um passo à frente, mas respeitando a distância.
— Elena.
Ele sorriu. Um sorriso pequeno, contido. Mas seus olhos diziam outra coisa. Algo mais intenso. Ele sabia. Ela ainda não, mas ele sabia. O vínculo começava a pulsar como uma corda invisível entre os dois.
Elena sentiu algo dentro de si se agitar. O estômago revirar. Um calor subir pela nuca. Era como se já o conhecesse. Como se aquela presença despertasse algo antigo nela.
— Você vem sempre aqui? — ela perguntou, querendo quebrar o silêncio que se tornava denso demais.
— Às vezes. O silêncio ajuda a... pensar. — Ele hesitou, olhando para os olhos dela como se procurasse algo. — E você? Também busca respostas?
Elena sentiu um arrepio. Como ele sabia?
Ela não respondeu. Apenas assentiu, apertando o livro contra o peito.
Ele então disse baixinho, mais para si do que para ela:
— Em breve, tudo vai fazer sentido.
Antes que ela pudesse perguntar o que ele queria dizer com aquilo, Liam sorriu de novo, deu meia-volta e desapareceu entre as árvores, deixando para trás apenas o som das folhas e um cheiro no ar que faria o coração dela disparar por dias.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 45
Comments