Depois de quase 7 horas de viagem, eu já podia ver os muros altos que protegiam a cidade, ainda estávamos um pouco distante dos portões mas perto o suficiente pra ver a fila de pessoas esperando para entrar na cidade…
“O que é aquela fila? Inspeção ou algo do tipo?”
“Exato, até pra uma cidade mercante normalmente não tem tantas pessoas chegando assim, mas estamos em um período mais agitado…”
“Agitado? Algum festival?”
“Sim, celebração de Amaros, é um festival que acontece no dia dos amores, novos casais se formam durante essa época…”
‘Hm… então é um festival de dia dos namorados ou algo assim… pelo visto vai demorar…’
Sentado na carroça eu observava a fila, e reparei que haviam duas filas na verdade, uma de carruagens, provavelmente mercadores, com uma ou duas carruagens mais bonitas e intrincadas…
“Vamos pegar a fila de carruagens?”
“Sim, os outros são aventureiros ou pessoas viajando passando pela vistoria para entrar na cidade… Como você não tem identificação e nem dinheiro, melhor entrar comigo como meu ajudante, vou pagar pela sua entrada…”
“Obrigado, de verdade”
“Ah não precisa me agradecer garoto, hahaha… assim que chegarmos e descarregarmos minhas coisas eu sugiro que você vá até a guilda dos aventureiros, se você se registrar como um aventureiro você vai receber um cartão com seu ranque, filiação e nome, isso serve como identificação para entrar e sair da cidade… mas se você não completar missões durante um mês você pode perder a certidão, mas isso só nos níveis mais baixos, ranque C e adiante não tem essa necessidade…”
“Você sabe bastante sobre o assunto, já foi um aventureiro?”
“Hahaha, bem observado, eu era um aventureiro no passado, depois de conhecer a minha esposa eu voltei a minha vila, e hoje tenho 3 filhos, 1 menino mais novo e 2 meninas…”
“Hm… interessante…”
Ficamos conversando até chegar nossa vez nos portões da cidade, um soldado com uma armadura de couro reforçada com algumas proteções de aço se aproximou com uma lança apoiada no chão, enquanto outro soldado checava a mercadoria nos fundos da carroça…
“Identificação por favor.”
“Aqui.”
Gusttan pegou alguns papéis da sua bolsa e entregou ao soldado.
“Hm… veio a negócios… mas o pedido diz que você viria sozinho, quem é esse?”
“Esse garoto veio como meu ajudante, carregar e descarregar as coisas, ele não tem uma prova de identidade…”
“Não tem?”
Ao ouvir o último comentário do Gusttan, o soldado levantou uma de suas sobrancelhas e olhou pra mim como se estivesse me analisando…
“Hm…por que o ajudante tem uma espada?”
“Eu vim a cidade pra me tornar um aventureiro, senhor…”
Eu me expliquei um tanto nervoso enquanto ele me analisava de cima a baixo…
“Hm… vai precisar pagar a taxa de visitante, 5 moedas de prata…”
“Sem problemas então, eu pago por ele.”
Gusttan entregou a ele as 5 moedas de prata e pegou seu registro de volta, já o soldado se afastou e sinalizou que continuássemos… finalmente, eu estava em uma cidade nesse mundo novo…
A vista era incrível, eu me sentia um turista tentando se passar por um local, maioria das pessoas que vi pelo caminho eram humanas, porém eu vi também elfos, com suas orelhas pontudas e cabelos claros de tons dourados a brancos, anões baixos e musculosos trabalhando na forja ou indo ali ou acolá, algumas pessoas que vi no caminho me chamaram atenção, como pessoas-fera, répteis humanóides, até pássaros humanoides, tudo o que normalmente se veria em alguma obra de fantasia estavam ali, ao meu alcance…
“Você parece animado haha”
“Ah, sim… é que, é minha primeira vez numa cidade assim, tem até pessoas de algumas raças que eu não conhecia,como por exemplo, aquela moça parece um coelho… incrível…”
“É bom estar animado mas cuidado com os olhares e como você fala, a última guerra de alguns anos atrás foi contra uma nação vizinha que por sua maioria eram pessoas de várias raças, com poucos humanos, o conflito acabou mas ainda tem a tensão de preconceito na população… podem achar seus olhares e comentários ofensivos…”
“Oh… ok, eu não reparei que estava sendo indelicado, é que eu acho incrível essas outras raças…”
“Então você faz parte da minoria que gosta e acha atraente, maioria é indiferente ou apenas tolera, mas como eu disse, ainda tem uma certa tensão que restou da guerra… aqui, chegamos.”
Entretido na nossa conversa, eu não havia reparado que havíamos chegado, parecia ser os fundos de uma loja, onde um homem urso enorme saiu de dentro com braços abertos…
“Gusttan! Como foi a viagem?”
“Bom te ver também Bernard! Como andam as coisas?”
“O de sempre, crianças ficando mais velhas, eu ficando cada vez maior, o de sempre hahahaha… quem é o cabeludo?”
Bernard havia sinalizado na minha direção com o queixo dele, eu não conseguia ler suas expressões faciais, mas ele parecia estar curioso…? Ou pelo menos eu achava…
“Nero, prazer…”
“Nero veio ser um aventureiro, a vila era pequena demais pra ele haha”
“Hoh… então creio que você vai ficar na cidade, eu posso te dar umas dicas sobre a cidade, por exemplo, tá vendo aquele prédio branco ali? Ali é guilda dos aventureiros, e se precisar de um lugar pra ficar, minha irmã tem uma pousada aqui do lado da minha loja…”
Eu olhei para a direção que ele havia apontado e vi o prédio em questão, parecia haver uma placa acima da entrada, mas como o ângulo não era bom, eu não conseguia ler o que estava escrito… e a julgar pelo comentário do Bernard, aqui do lado já teria uma pousada em que eu poderia ficar enquanto eu estiver na cidade…
“Bom! Aqui tá o queijo, ovos, e leite, 4 caixas grandes de queijo, 6 cestos de ovos, e 3 latões de leite, o de sempre.”
Gusttan dizia enquanto começou a descarregar pelo o mais leve que eram os cestos, eu comecei a ajudar sem pensar duas vezes e Bernard veio também, ele já estava acostumado com isso…
Nós descarregamos as caixas e latões nos fundos da loja, e algo que me surpreendeu foi como os latões pareciam gelados, Notando minha curiosidade, Gusttan explicou que os latões têm um encantamento para manter o leite fresco por mais tempo, o que logo criou um novo objetivo na minha cabeça… verificar se os encantamentos desse mundo eram como os do Skylands, porque se fossem, eu já sabia o que eu faria… um truque até que simples porém completamente injusto, no Skylands você podia criar uma poção que aumenta suas habilidades de encantamento por um certo período, e com o efeito, encantar equipamentos que aumentam sua habilidade de criar poções, o efeito é pouco, porém ele aumenta conforme você repete o processo, chegando a um nível que se torna uma bola de neve, se multiplicando podendo chegar a benefícios de mais de 1583585163%, sendo assim, uma falha no jogo da qual eu abusei por achar divertido achar segredos e novas formas de jogar um jogo de formas que os criadores não esperavam… eu já havia testado como o save / load funcionava, e para a minha surpresa, igual ao jogo, eu reparei que o save que eu criei no primeiro dia com a pedra, ainda existia, porém como parece que a minha mente volta no tempo, eu perderia todo o progresso que fiz com as minhas skills e atributos…
“E, pronto! Huff… obrigado pela ajuda Nero, graças a você as minhas costas não doem hoje hahaha!”
Gusttan parecia animado como sempre, e como pagamento pela a ajuda, ele me deu 5 moedas de ouro da bolsa de moedas que ele recebeu do Bernard.
“Oh… obrigado mas não precisava…”
“Considere como o seu pagamento pelo seu primeiro trabalho como aventureiro, agora vá se registrar! Eu ainda tenho alguns assuntos a resolver na cidade antes de voltar, então creio que nós despedimos aqui… lhe desejo boa sorte garoto…”
Gusttan dizia enquanto me estendia a mão para um aperto…
“Obrigado, quem sabe um dia eu volte e faça uma visita pra vocês…”
E com um aperto de mão nos despedimos, eu segui em direção a guilda dos aventureiros, e ele voltou para a sua carroça e foi para o outro lado da cidade…
Ao entrar na guilda eu pude ver minha direita um enorme mural com vários folhetos pregados, que pareciam ser os pedidos, e a minha esquerda algumas mesas com vários grupos de pessoas conversando sobre os trabalhos difíceis, os fáceis, monstros, e outros assuntos que eu não pude discernir quais, e ao fundo havia 2 balcões enormes separados apenas por um lance de escadas que havia no meio, no balcão da esquerda haviam pessoas entregando seus pedidos e materiais coletados dos monstros que enfrentaram, e o balcão à direita parecia ser a recepção, o qual eu me aproximei…
“Bom dia, como posso ajudá-lo?”
Os funcionários da guilda usavam uniformes verdes com branco, a região de trás dos balcões era movimentada, e bem na minha frente havia uma jovem moça loira com cabelos mais curtos que o meu, um pouco acima dos ombros, me cumprimentou…
“Bom dia, eu vim me registrar como um aventureiro…”
“Claro, só precisa preencher um formulário, só um minutinho… aqui, achei…”
Ela se abaixou por um momento e voltou com uma prancheta com uma folha de papel, eu a vi no balcão com uma pena e tinta do lado e só agora eu havia reparado… eu não sabia ler e escrever na língua local… ou melhor, eu achava que não, pois após olhar a folha por alguns segundos o significado das palavras surgiam na minha mente, quase se houvesse uma magia de tradução no meu cérebro, o que me fez pensar, até agora eu estive falando com as pessoas, será que elas me escutam na língua deles?
“Se não souber escrever não tem problema, eu preencho pra você…”
A recepcionista disse, talvez por eu estar distraído demais olhando a folha e pensando…
“Hm? Ah não, eu sei ler e escrever, eu me distraí por um segundo… deixa eu ver…”
Eu peguei a pena e vi o texto mudar de letras estranhas a algo que eu entendia… as informações eram básicas, como meu nome, minha arma principal, classe, idade, e umas cláusulas como “a guilda não se responsabiliza por perdas ou mortes não relacionadas a missões” e outros detalhes…
“Aqui, obrigado…”
Eu entreguei a ela e ela verificava pra ver se eu não tinha cometido nenhum erro no processo…
“Hm, Nero, nome diferente, vou entregar a ficha, seu cartão de identificação ficará pronto em aproximadamente 1 hora, deseja esperar?”
“Eu vou dar uma volta na cidade e volto mais tarde, até mais…”
Eu me despedi e voltei a loja do Bernard, mas dessa vez para ir até a pousada garantir um lugar pra ficar, já que era uma época agitada com um evento chegando, eu não queria deixar de última hora e perder a chance…
Exatamente ao lado da loja do Bernard, havia um prédio grande de 2 andares, eu fui abrir a porta e reparei que era maior que eu esperava, mas levando em consideração o tamanho do Bernard que facilmente passava de 2 metros de altura, eu vi como um sinal de respeito a raças de grande porte…
“Seja bem vindo, como posso ajudar?”
Uma mulher ursa havia me cumprimentado assim que cheguei, o que me surpreendeu já que a voz dela era parecida com a de uma cuidadora legal e gentil de um dos orfanatos que vivi…
“Erm, quanto fica uma semana?”
“Com café da manhã incluso? Uma moeda de ouro”
“Então eu vou pagar por duas semanas adiantado.”
Eu disse enquanto colocava as duas moedas no balcão, ao ver o dinheiro ela já virou e pegou uma plaqueta com o número 3 em um porta chaves que havia na parede.
“Segundo andar a esquerda, terceira porta a direita, aqui está a chave.”
Ela disse enquanto me entregava a chave… eu subi as escadas e dei de frente com uma porta, logo virei a esquerda e cheguei na terceira porta, por algum motivo a minha chave não entrava direito, mas percebi que não estava trancada, apenas fechada, então eu abri e… me deparei com alguém baixinho e coberto de escamas… no meio de uma troca de roupas…
“...”
“...”
Sem saber o que dizer, eu simplesmente fechei a porta, e ao processar o que aconteceu eu reparei que na porta havia o número 2… o meu quarto era do lado…
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Atualizado até capítulo 21
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