Os dias seguintes foram marcados por uma estranha sensação que Elena não conseguia nomear.
Talvez fosse só o frio…
Ou quem sabe… algo mais.
Desde aquela manhã na cafeteria, o homem de olhos negros não saía da sua cabeça.
O jeito como ele a olhou… como soube onde ela morava…
Aquilo deveria tê-la assustado. Mas, em vez disso, sentia um calor estranho, uma inquietação que não sabia se vinha do medo ou… da atração.
No entanto, a rotina precisava seguir.
Naquele fim de tarde, Elena ajeitava as prateleiras da cafeteria quando sua colega de trabalho, Camila, surgiu do estoque. Camila era o oposto dela: extrovertida, sempre falante, com cabelos ruivos vibrantes e olhos verdes atentos a tudo.
— Você tá tão estranha esses dias… — provocou Camila, inclinando-se ao lado dela. — Apaixonada?
Elena soltou uma risada abafada, negando com a cabeça.
— Só cansada…
Mas Camila não acreditou.
— Aposto que é aquele cara misterioso… o da manhã passada. Vi como você ficou toda sem jeito!
Elena corou, fingindo concentrar-se nas xícaras.
— Nem sei quem ele é…
Mas queria saber.
Do outro lado da rua, parado na calçada com um livro na mão, Dante observava pela vitrine.
Viu Elena rir com a amiga.
Viu a forma como ela encolhia os ombros, tímida.
E, mais uma vez, teve certeza: ela era dele.
Mas seria paciente. Sempre fora paciente.
Esse era o jogo, e ele conhecia bem as regras.
Naquela noite, já em casa, Elena fez o que fazia todas as noites: despiu-se lentamente, deixou a roupa íntima leve cobrir a pele e ficou diante do espelho, analisando o reflexo com a mesma insegurança de sempre.
Mas, agora… havia uma diferença.
Quando fechou os olhos, imaginou aquela mesma voz profunda dizendo “bom dia”…
E, pela primeira vez, sorriu para o espelho.
Dante, do outro lado da rua, a viu sorrir.
E o coração dele apertou com uma mistura perigosa de satisfação e desejo.
Nos dias seguintes, Dante começou a tecer sua aproximação com precisão.
Frequentava a cafeteria, mas nunca na mesma hora.
Sentava-se ao fundo, sempre sozinho, sempre observando.
Elena percebia sua presença, mas não tinha coragem de puxar conversa.
E então, numa tarde chuvosa, ela precisou sair mais cedo para resolver um problema na faculdade. Camila ficou cobrindo seu horário.
Enquanto Elena caminhava pela calçada encharcada, alguém segurou um guarda-chuva acima dela, protegendo-a da chuva de forma inesperada.
— Vai se resfriar assim… — disse a voz que ela reconheceu na hora.
Era ele.
Dante.
Elena virou-se, surpresa, e o viu ali, tão próximo que podia sentir o perfume amadeirado que ele usava.
Ele sustentava o guarda-chuva com uma mão firme, enquanto a outra estava no bolso do sobretudo.
— Oi… — disse ela, num fio de voz.
— Quer que eu a acompanhe até onde for? — perguntou Dante, com aquele tom que não era bem uma pergunta, mas uma certeza.
Elena hesitou, mas, pela primeira vez, não recusou ajuda de um estranho.
Assentiu, e começaram a andar juntos sob a chuva.
Por alguns minutos, caminharam em silêncio, ouvindo apenas o som da água batendo no asfalto.
— Você sempre passa por aqui…? — perguntou Dante, casualmente.
— Sim… moro ali perto. E você? — perguntou, quase como um teste.
Ele sorriu, com aquele jeito que misturava charme e mistério.
— Acho que somos vizinhos, Elena…
Ela estacou, surpresa.
— Como sabe meu nome?
Dante inclinou o rosto levemente.
— Está no crachá da sua cafeteria.
Elena riu, aliviada.
Como pôde ser tão paranoica?
— Ah… claro.
Mas, por dentro, ainda sentia aquele arrepio. Como se tivesse acabado de dar um passo dentro de uma floresta escura sem perceber.
Na mesma noite, enquanto Elena se despia como de costume, um vulto surgiu discretamente no prédio em frente.
Dante estava lá, como sempre.
Mas, agora, o jogo tinha mudado:
ela já sabia quem ele era.
Já tinha ouvido sua voz.
Já tinha andado ao lado dele, partilhado o espaço do mesmo guarda-chuva.
E, ainda que não percebesse, já tinha aberto a porta.
Dante se recostou na poltrona, serviu-se de um copo de whisky e sorriu para a escuridão da sua sala.
Ela começava a confiar.
E ele?
Ele não ia mais embora.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Jaildes Damasceno
Que obsessivo
2025-05-27
2