O sol mal havia cruzado o horizonte quando um mensageiro bateu na porta da torre de Anastácia. Seu tom era rígido, sem espaço para recusas:
— A princesa Chloe ordena sua presença no pátio de treino. Imediatamente.
Anastácia arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.
— No pátio de treino? — repetiu, como se a frase soasse absurda.
— Ordem direta, alteza. — confirmou o jovem, desviando o olhar, desconfortável com o cheiro sutil que começava a emanar dela.
O cio ainda não havia eclodido por completo, mas rondava seus sentidos como uma fera esfomeada. Ainda assim, Anastácia não recuaria. Não para Chloe. Não para ninguém.
---
O pátio fervilhava de soldados e nobres curiosos quando Anastácia chegou. A alfa já estava lá, de pé no centro da arena, com uma espada longa na mão, usando roupas de treino que realçavam cada linha definida de seus músculos. Seu cheiro estava diferente também. Mais denso. Mais... alerta.
Ao ver Anastácia, Chloe apertou o cabo da espada.
Deuses, por que ela precisava ser tão... provocante até sem querer?
Anastácia desceu as escadas, o vestido claro balançando a cada passo, e parou diante da alfa, erguendo o queixo.
— Quer me ensinar a lutar, princesa? — perguntou, com uma ponta de sarcasmo. — Ou pretende resolver nossos conflitos com lâminas agora?
— Nenhuma das duas. — respondeu Chloe, jogando uma espada de treino — sem lâmina, apenas madeira reforçada — aos pés dela. — Você está em Vallaris. Aqui, até as palavras são afiadas. Quero ver se tem tanta força quanto fala.
Os olhares se voltaram, ansiosos.
— Perfeito. — Anastácia retirou o manto, ficando apenas com um vestido ajustado, leve o suficiente para não atrapalhar os movimentos. Pegou a espada, testando o peso. — Mas aviso... nunca empunhei uma espada antes.
Chloe rodou a própria espada no ar, posicionando-se.
— Aprenda rápido.
O primeiro golpe veio sem aviso. Chloe avançou com precisão, mirando o ombro da ômega. Anastácia desviou por puro instinto, quase tropeçando para trás.
— Você é louca! — arfou, tentando se equilibrar.
— Não. — respondeu Chloe, atacando novamente. — Só estou sendo sincera com você, coisa que ninguém mais teve coragem de fazer.
Madeira chocou-se contra madeira quando Anastácia, surpreendentemente, ergueu a espada no tempo exato para bloquear o golpe.
— Está me testando... — disse entre dentes.
— Não. — Chloe deslizou pelo lado dela, golpeando o bastão contra sua cintura, fazendo-a girar e cair no chão. — Estou mostrando que, aqui, sua fragilidade não será sua proteção.
O cheiro do cio ficou mais forte. Chloe sentiu o nó apertar em sua garganta, as garras do instinto arranhando sob sua pele. Anastácia no chão, ofegante, os cabelos espalhados, o vestido sujo de terra — e ainda assim, olhando para ela como se fosse quem estava no controle.
Por que isso me afeta tanto?, pensou Chloe, rangendo os dentes.
Anastácia se levantou, rangendo os próprios dentes, segurando a espada com mais firmeza.
— De novo.
— Você vai sair daqui quebrada. — avisou Chloe, rodando a espada.
— Então quebre. — rebateu. — Mas não pense que vai me dobrar.
Chloe avançou. Anastácia bloqueou. O cheiro das duas se misturava — madeira, suor, adrenalina, e aquele perfume biológico que fazia os alfas perderem a razão e os ômegas se renderem.
Mas Anastácia não recuava.
Não importava quantas vezes Chloe a derrubava, ela se levantava. Ofegante, suja, trêmula... mas de pé.
E Chloe percebeu, com um choque desconfortável, que quanto mais Anastácia resistia, mais algo dentro dela queria... protegê-la. Não dominá-la. Não quebrá-la. Mas tê-la. Inteira. Feroz. Exatamente assim.
O último golpe veio quase sem controle. Chloe prendeu a espada no bastão de Anastácia, empurrou-a contra a parede do pátio, o corpo das duas colado. Respirações pesadas, os olhos fixos um no outro. As mãos de Chloe apertaram o punho da espada, mas seu corpo queria apertar outra coisa.
— Por que você me irrita tanto...? — rosnou, com a voz rouca, baixa.
— Porque você nunca conheceu alguém que não te teme. — respondeu Anastácia, sem recuar, mesmo sentindo o calor subir entre as pernas, o cio queimando as entranhas.
O silêncio se estendeu.
Até que um soldado tossiu, desconfortável.
Ambas perceberam o quão perto estavam. Chloe soltou a espada, recuando abruptamente. Anastácia respirou fundo, desviando o olhar, fingindo recuperar o fôlego.
— O treino acabou. — decretou Chloe, seca. — Por hoje.
E saiu, sem olhar para trás.
Mas, no fundo, ambas sabiam:
Nada estava acabado. Na verdade, estava apenas começando.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 34
Comments