Capítulo 2

Capítulo 2

O despertar de uma rainha.

O silêncio da suíte foi a primeira coisa que Issabelle recebeu ao abrir os olhos. Um silêncio quase voluptuoso, como se as paredes aveludadas e as cortinas de damasco branco contivessem o murmúrio do mundo para deixá-la sozinha com seu novo alento.

A manhã entrava através de uma janela de arco gótico, banhando o quarto com um resplendor dourado.

Issabelle sentiu a suavidade dos lençóis de seda sobre sua pele.

Respirou fundo e, por um instante, acreditou ouvir o eco distante daquele centro cirúrgico gelado. Sentiu seu pulso nas têmporas, um nó de emoção contida em sua garganta.

Então lembrou:

— Estou viva.

Sua mão viajou instintivamente ao ventre: ali dentro já não sentia aquele batimento diminuto que vibrava com ela.

Levantou-se direto para a janela. Abriu um pouco as cortinas. Sob a varanda se estendia o terraço do hotel: gerânios vermelhos, trepadeiras de jasmim, e mais além a silhueta da costa italiana banhada em azul. O mar brilhava como um manto de safiras.

Um aroma de sal e de cítricos flutuava com a brisa. Issabelle fechou os olhos e aspirou, sentindo-se dona daquele instante.

Mas o instante se quebrou com o som da porta ao abrir.

Enzo apareceu no umbral, impecável em seu terno escuro. O sol da manhã delineava seu perfil: a mandíbula firme, a testa limpa, o cabelo castanho penteado para trás.

Era a primeira vez que se dirigia a ela desde aquela lembrança fragmentada do casamento.

Sua voz chegou suave, mas firme:

— Issabelle... devemos voltar à Sicília. O jantar beneficente começa às oito. Pode aprontar-se em meia hora?

Ela girou o rosto com calma. Observou a gravata perfeitamente amarrada, a camisa imaculada, o relógio de ouro que aparecia sob o punho.

Sentiu a velha pontada de decepção: de novo, ele a tratava como uma convidada de segunda, sempre com pressa, sem tempo para ela.

— Claro — respondeu Issabelle, em tom neutro —. Meia hora.

Enzo arqueou os lábios num gesto que pretendia ser um sorriso paternal, e deu meia volta para ir embora. Antes de fechar a porta, deteve-se um instante:

— Issabelle — disse —, confio em que não me dará problemas.

Ela apertou os punhos, contendo o golpe de raiva e orgulho. Em sua vida passada, esse dia havia sido um punhal: Eva Longo, a pupila patrocinada por Enzo, a jovem fresca e segura que insinuava um futuro ao seu esposo. Mas desta vez Issabelle não temia.

— Não haverá problemas — murmurou, sem olhá-lo.

A porta se fechou com um clique que retumbou no silêncio. Issabelle permaneceu um momento em calma absoluta, escutando o batimento de seu próprio coração. Logo, foi até o vestiário.

O armário se abriu como um santuário de tecidos: vestidos pendurados em cabides de cetim, sapatos de salto alinhados como soldados de cristal, cofres de joias com pérolas e diamantes.

Issabelle deslizou os dedos por um vestido branco de seda que chegava até os tornozelos, com um decote sutil e uma cintura marcada por um cinto de pedraria. Pegou-o e o segurou contra seu corpo.

Aquele era o vestido da nova Issabelle: elegante, imponente, dona de seu destino.

Na penteadeira, o espelho lhe devolveu uma imagem conhecida e, no entanto, transformada.

Seu rosto, emoldurado por ondas escuras que caíam como cascata, mostrava umas maçãs do rosto firmes e olhos grandes, agora cheios de determinação.

Aplicou uma base leve, apenas um toque de blush para ressaltar a curva de suas bochechas. Um delineador sutil realçou seus cílios, e um tom malva tingiu seus lábios com uma nuance de certeza.

Enquanto se vestia, fechou os olhos e lembrou da última vez que se arrumou para seu esposo numa festa de inauguração, com a esperança de seduzi-lo.

Naquele dia Eva se aproximou, sorriu com suficiência e lhe sussurrou ao ouvido dele, deslocando seu mundo.

Mas agora Issabelle não esperava sua aprovação. Colocou o vestido, ajustou o cinto, calçou seus saltos stilettos. Deu um passo adiante e avaliou seu reflexo: sua figura esbelta, as costas erguidas, sua presença imponente.

Assentiu com satisfação.

Desceu pelo elevador de cristal e cruzou o saguão sem pressa.

Um empregado do hotel abriu a porta do veículo: um sedã preto esperava por ela.

Enzo se encontrava apoiado no capô, junto a Alonso, seu assistente.

Alonso, um homem de meia-idade com óculos finos e gesto servil, inclinou-se ao vê-la:

— Senhora Milani... Devo dizer que hoje se vê você... muito mais formosa que a senhorita Eva.

Issabelle sentiu o olhar de Enzo cravado em Alonso. Um lampejo de ciúmes cruzou os olhos de seu esposo, e Alonso pigarreou, nervoso.

Issabelle esboçou um sorriso frio, quase glacial, que curvou seus lábios com elegância contida.

— Obrigada — respondeu.

Sem mais, deslizou para dentro do veículo. Sentou-se com as costas retas, as mãos apoiadas no regaço, o queixo ligeiramente erguido.

Enzo abriu a porta do copiloto e subiu.

O carro arrancou em silêncio, deslizando pela avenida.

Enquanto o veículo avançava, Issabelle apoiou a mão na janela, sentindo o ar fresco que entrava em rajadas.

Cada edifício parecia saudá-la com cumplicidade. O mar apareceu à sua esquerda, brilhante, imenso.

Enzo rompeu o silêncio:

— Este jantar é muito importante. Novos empresários, os sócios da construtora... todos estarão ali. Querem conhecer a nova senhora Milani.

Issabelle o olhou de soslaio, sem se deter em sua beleza masculina nem na nuance de preocupação que aparecia em seus olhos.

— Eu sei. Estarei à altura.

Enzo inclinou a cabeça, surpreso por aquele tom sereno e seguro. Queria perguntar mais, esquadrinhar em seu olhar, mas se conteve.

O veículo girou para a autoestrada que levava ao aeroporto privado. O sol já estava alto, prendendo brilhos no metal do veículo e nas janelas dos edifícios.

Issabelle fechou os olhos um momento e repetiu em sua mente a promessa: “Não mais humilhações. Não mais submissão. Desta vez, eu marco as regras.”

Sentiu o batimento de seu coração. Abaixou a janela um pouco e aspirou o ar salobre. Ao longe, as colinas da Sicília emergiam como uma promessa antiga.

Ali, na ilha banhada pelo sol, voltaria a enfrentar a história que a havia condenado. Mas já não seria a mesma mulher que tremia ante as zombarias de Eva ou o desprezo de Enzo.

Enzo a observou de soslaio e sentiu um calafrio. Aquela Issabelle era uma rainha que despertava de um longo cativeiro.

Sua beleza era a mesma, mas agora irradiava um fogo que ele não conhecia. E, pela primeira vez, compreendeu que talvez havia subestimado a mulher que jamais lhe interessou conhecer.

Sem trocar mais palavras, o carro avançou em direção ao horizonte. O mar, as colinas e o céu formavam um cenário digno de um renascimento.

Issabelle, com o queixo erguido e o olhar fixo na linha onde o azul se fundia com a luz, soube que aquela viagem não seria um simples jantar beneficente. Seria a antessala de sua própria revolução.

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