Lorena Ferraz,
Ele finalmente acordou. Demorou dias, mas abriu os olhos. Fiquei ali, sentada, fingindo preocupação. Usei um vestido azul claro, puxei o cabelo em um coque elegante, como se isso representasse algum tipo de luto ou angústia. Mas a verdade? A verdade é que a única coisa que senti quando o vi naquela cama, imóvel, com tubos e aparelhos ligados ao corpo, foi alívio.
Alívio por saber que o poderoso Cael Ferraz, aquele que comandava tudo com firmeza, agora dependia de mim até pra virar na cama.
— Cael? — sussurrei, suavemente, inclinando a cabeça com uma expressão preocupada.
Ele piscou devagar, tentando entender onde estava. A voz saiu arranhada:
— Oi…
Suspirei fundo, encenando tristeza.
— Você sofreu um acidente. Um carro bateu em você na contramão. Os médicos disseram que você não vai poder andar por um bom tempo. Talvez nunca mais. Você ficou desacordado por oito dias, quase enlouqueço — menti, com perfeição. A vantagem de conviver com ele é que eu aprendi a controlar cada expressão, cada palavra.
Esperei alguns segundos antes de soltar outra bomba, como quem sente dor ao dizer algo cruel:
— Que pena amor, que não vai mais andar. Mas não se preocupe, estou aqui para servir de apoio.
Ele fechou os olhos. Vi as lágrimas escapando e por dentro, confesso, me deliciei com aquilo.
— Sinto muito, amor — completei, com a voz doce. — Mas você precisa ser forte. Nem todo mundo consegue seguir em frente com um destino assim. Mas sei que você vai conseguir.
Fiquei ao lado dele por mais alguns minutos, fingindo segurar sua mão, quando ele a retirou lentamente. A respiração dele começou a pesar.
— Não… não é verdade — murmurou, como se a ficha dele tivesse caído só aquele momento— Você está mentindo pra mim…
Ele tentou se mexer. Primeiro os braços, depois tentou levantar o tronco. E então tentou mover as pernas. Nada.
— Você está mentindo! — ele gritou, com a voz rouca. — Eu vou andar, você está mentindo!
Se debateu, puxando os fios, tentando sair da cama, como se assim pudesse escapar da verdade. As máquinas começaram a apitar. A crise estava começando.
— Doutor! Enfermeiros! — gritei, fingindo desespero, saindo do quarto como uma esposa preocupada.
Em segundos, médicos e enfermeiros entraram no quarto e o cercaram.
— Senhor Cael, por favor! Precisa se acalmar! — um deles disse.
— Eu quero a verdade! Me digam! Eu não aguento essa dúvida! — ele chorava, transtornado. — Eu vou voltar a andar? Ou não?
Houve um silêncio breve. Um médico olhou para o outro, e então respondeu:
— A lesão foi grave, senhor Ferraz. A chance de recuperação é extremamente baixa. Tecnicamente… o senhor está paraplégico.
Ele ficou em silêncio por um segundo… e então gritou. Um grito de dor, de revolta, de perda. Um grito que me arrepiou — não de pena, mas de prazer. Era como ver um rei perder a coroa.
— Me deixem morrer! Eu não quero viver assim! não quero ser um estorvo para ninguém. — vociferou, totalmente descontrolado.
— Precisamos sedá-lo! — disse uma enfermeira.
— Façam o que for necessário — respondi, colocando a mão no peito como se estivesse com o coração despedaçado. — Meu marido precisa estar bem.
Minutos depois, ele já dormia. O rosto sereno, como o de um homem derrotado. O poderoso CEO agora era um pedaço de carne inútil ligado a aparelhos. E aquilo… era perfeito.
Fiquei no quarto, olhando pra ele com desprezo. Me aproximei da cama e sussurrei, com o tom mais venenoso que consegui:
— Olha pra você, patético. Um estorvo. Um peso. Um homem quebrado que nunca mais vai levantar da cama. Você não serve pra mais nada.
Saí do quarto sorrindo e fui até a varanda do hospital. Liguei pra minha amiga, Lídia.
— Oi, amiga. Ele acordou — falei, segurando o riso.
— E aí? Descobriu?
— Descobriu, sim. E surtou. Os médicos tiveram que sedar ele. Tá lá, todo acabado. Nunca mais vai andar. Nunca mais vai fazer nada sozinho. — Dei uma risada baixa. — Ele tá completamente na minha mão agora.
— Meu Deus, Lorena… por que você não larga logo esse homem?
— Largar? Eu passei sete meses ao lado dele fingindo ser a esposa perfeita. Paguei caro para que aquele canalha morresse, e não morreu nem nesse maldito acidente. Você acha que eu vou sair de mãos abanando? Não, querida. Eu vou aproveitar cada centavo que ele tem. E sabe do que mais? Um dia, vou dar um jeito de acabar com ele de vez, eu mesma farei isso. Se eu ficar viúva, fico com tudo. — Soltei uma gargalhada. — Ele não tem família. Ninguém. Tudo é meu.
— Você é doida… — disse Lídia, assustada.
— Não sou doida. Sou inteligente. E ele foi burro o suficiente pra achar que eu o amava. Agora ele é só um corpo inútil. Vai comer na minha mão o que o diabo amassou.
— Mas você sabe que ele pode voltar a andar, não é? E se médico disser a verdade a ele?
— Não vai, paguei ele muito bem, para que fique de boca calada. A menos que ele não queira mais ver a filhinha dele. Agora preciso ir, beijos, se cuida.
Encerramos a ligação. Voltei para o quarto com um ar de tristeza fingida. Me ajeitei na cadeira ao lado dele e encostei a cabeça na parede, fingindo que estava cansada. Mas por dentro… por dentro eu estava só começando. Eu estava feliz.
A queda dele era meu maior triunfo. E eu ia aproveitar cada segundo disso. Cael só vale para mim mais morto do que vivo. Achei que meu plano daria certo, que finalmente estaria viúva. Mas não, o infeliz não presta nem para morrer. Vou deixar que ele saiba quem sou, antes de eu mandá-lo para o inferno.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Leoneide Alvez
que cobra foi ela do acidente
2025-04-27
4
Maria Sena
Nossa, quem tem uma mulher dessa como amiga não precisa de inimigo. Coitado vai sofrer pior que suvaco de aleijado. É, mas vai saber o que ele fez pra pessoas até aqui pra sofrer assim.
2025-05-03
0
Vilma Teixeira Roquete
Já estou até vendo a sua colheita sua cobra 🐍 🐍 🐍 🐍 🐍 🐍 🐍 🐍...vai ser triste seu fim ,acho que nem o demônio vai te querer por perto....misericórdia.
2025-04-28
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