RYAN
Durante anos, fui espectador da obsessão do meu pai em encontrar minha companheira. Ele dizia que era o destino, uma missão sagrada que eu devia cumprir como herdeiro da alcateia. Mas eu não queria uma união imposta, muito menos com uma desconhecida. Era jovem, livre e acostumado às caçadas — tanto na floresta quanto entre as lobas do clã.
O trono sempre foi um fardo. Não me interessava o poder, e sim a liberdade. Mas meu pai era inflexível. E como filho do rei, era obrigado a seguir as tradições.
Meu lobo era imponente — negro como a noite e de olhos verdes como as folhas da floresta. Era o maior da alcateia, tanto em tamanho quanto em presença. Meu espírito exalava domínio. Quando minha loba surgisse, eu sabia: a natureza faria sua parte, e eu reclamaria o que fosse meu por direito.
Minha companheira... bem, ela teria que se adaptar. Ela pertenceria a mim, como manda a tradição. Sem escolhas. Sem fugas.
Maldita seja aquela mulher tola que ousou fugir com a filha. Por culpa dela, meu pai teve que mover mundos atrás de pistas, caçar rumores, arrastar o nome da nossa linhagem por entre becos esquecidos de vilarejos distantes.
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ELENA
Mamãe chegou no fim da tarde, carregando um grande embrulho envolto por um laço de cetim vermelho. Tentou esconder, mas eu logo percebi: era meu presente de aniversário.
Almoçamos com calma. Depois, passamos a tarde na horta, adubando a terra e colhendo os legumes frescos que seriam vendidos no mercado da cidade. Trabalhar ao lado dela sempre me trazia paz. A conexão que tínhamos era mais do que laços de sangue — era alma, era raiz.
Enquanto regávamos a plantação, contei sobre a confissão de Cristian. Mamãe ouviu em silêncio, com aquele olhar que vasculha as entrelinhas. A princípio, mostrou-se preocupada — como sempre, zelando pelos meus estudos, meu futuro. Mas, no fim, sorriu com ternura e disse:
— O coração também precisa de espaço para florescer, minha filha. Escute-o.
As palavras dela ficaram comigo. Lembrei dos gestos de Cristian, dos momentos em que ele cuidou de mim com tanta delicadeza. Havia algo ali… algo que me tocava de forma diferente. Era um sentimento que se aquecia por dentro, como uma brasa adormecida despertando ao toque do vento.
O desejo ainda era novo, estranho, e um pouco assustador — especialmente por vir do meu melhor amigo. Mas talvez fosse hora de descobrir o que aquilo realmente significava.
Adormeci com o pensamento nele e no dia que nos esperava.
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CRISTIAN
O sol nasceu com um brilho diferente. Senti o peito leve, como se uma amarra invisível tivesse se soltado. Pela primeira vez em anos, havia falado a verdade — e Elena não havia me rejeitado. Isso bastava para acender uma esperança real.
Adelaide, sempre atenta, notou meu humor incomum.
— Quem diria, hein? O “sério Cristian” sorrindo à toa! Deve ser amor mesmo... — brincou.
Mal terminei de rir quando a campainha soou. Era Elena.
Adelaide a recebeu com um abraço e um olhar cúmplice. Após uma conversa breve, ela nos deixou a sós, alegando ter pendências na loja de tecidos. Era o tipo de sutileza que só uma irmã sabe ter.
Sentei-me ao lado de Elena no sofá. Suas mãos tremiam levemente, e o rubor em seu rosto me encantava. Ela parecia vulnerável… e linda como nunca.
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ELENA
Meu coração batia acelerado. Cada movimento parecia milimetricamente observado, cada palavra pensada duas vezes antes de ser dita. Cristian me olhava com uma mistura de ternura e expectativa.
— Eu pensei em tudo o que você me disse... — comecei, a voz quase sussurrando. — E eu acho que... também sinto algo por você. Só... preciso ir devagar. Isso tudo é novo pra mim.
Os olhos dele brilharam. Não com pressa, mas com compreensão.
Ele segurou meu rosto com cuidado, como se eu fosse feita de cristal. Se aproximou e, lentamente, seus lábios tocaram os meus. Foi um beijo tímido, suave, mas carregado de sentimento. Meu corpo hesitou, mas minha alma aprovou.
Foi ali que entendi: o amor não exige promessas imediatas. Ele nasce nos gestos.
Cristian respeitou meu tempo, meu silêncio. Conversamos mais um pouco, até o sol começar a se pôr.
Ele me levou até em casa. Na despedida, me abraçou forte e selou com um beijo calmo, doce, como se dissesse: não há pressa para o que é real.
Mal sabíamos que aquela paz estava prestes a ser interrompida... pela lua que se aproximava.
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Atualizado até capítulo 131
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